O presidente Michel Temer se manifestou contra o acordo de delação premiada do doleiro Lúcio Funaro. Por meio de nota apresentada na noite desta sexta-feira (1), o presidente criticou a colaboração do corretor de valores, reenviada na quinta-feira (31) ao Supremo Tribunal Federal (STF ) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Na última quarta-feira (30), o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, devolveu à Procuradoria-Geral da República (PGR) o acordo de delação de Funaro para ajustes. No documento divulgado pela Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República, Michel Temer critica Janot e questiona a veracidade das informações repassadas pelo doleiro à PGR e os prováveis benefícios que ele obterá com a delação.
“A suposta segunda delação do doleiro Lúcio Funaro, que estava sob sigilo na Procuradoria-Geral da República, mas tem vazado ilegalmente na imprensa nos últimos dias, apresenta inconsistências e incoerências próprias de sua trajetória de crimes. Funaro acionou meses atrás a Justiça para cobrar valores devidos a ele pelo grupo empresarial do senhor Joesley Batista [sócio do grupo JBS], por alegados serviços prestados, negando que recebesse por silêncio ou para evitar delação premiada”, diz trecho da nota.
No documento, o presidente questiona ainda a suposta mudança de postura do procurador-geral da República em relação a Lúcio Funaro. “Agora, diante da vontade inexorável de perseguir o presidente da República, Funaro transmutou-se em personagem confiável. Do vinagre, fez-se vinho. Quem garante que, ao falar ao Ministério Público, instituição que já traiu uma vez, não o esteja fazendo novamente? Se era capaz de ameaçar a vida de alguém para escapar da Justiça, não poderia ele mentir para ter sua pena reduzida? Isso seria, diante de sua ficha corrida, até um crime menor”, declara o peemedebista no texto.
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Credibilidade
Segundo a nota, há um ano, o Ministério Público Federal considerava Funaro um criminoso, sem prestígio e, agora, o doleiro passou a ter confiabilidade. “Qual mágica teria feito essa pessoa, que traiu a confiança da Justiça e do Ministério Público, ganhar agora credibilidade?”.
Ainda de acordo com o documento divulgado pela Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência, Temer “se resguarda o direito de não tratar de ficções e invenções” e nega que tenha atuado para obstruir investigações. O presidente criticou ainda o fato de o empresário Joesley Batista estar “refazendo” a delação premiada.
“Pegos na falsidade pela Operação Bullish, [os irmãos Joesley e Wesley Batista] não tiveram a delação anulada, mas puderam, camaradamente, 'corrigir' suas mentiras ao procurador-geral. Sem um puxão de orelhas sequer.” diz a nota.
“Outro agravante é o fato de o grampeador-geral da República ter omitido o produto de suas incursões clandestinas do Ministério Público. No seu gravador, vários outros grampos foram escondidos e apagados. Joesley mentiu, omitiu e continua tendo o perdão eterno do procurador-geral. Prêmio igual ou semelhante será dado a um criminoso ainda mais notório e perigoso como Lúcio Funaro?”, questiona a nota.
Michel Temer está em viagem oficial à China, onde participa de encontro anual do Brics, bloco econômico formado por Brasil, Rússia, China, África do Sul e Índia.
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*Com informações da Agência Brasil