O Ministério Público Federal se manifestou contra o pedido de liberdade apresentado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) pelo advogado Willer Tomaz de Souza, preso desde maio por suspeita de ter atuado como informante do empresário Joesley Batista, do grupo JBS
, sobre as investigações da Operação Greenfield.
O próprio Joesley Batista
revelou ao MPF que, quando ainda negociava seu acordo de colaboração premiada, ele contratou Tomaz de Souza para obter informações privilegiadas junto ao procurador Ângelo Goulart Villela – que também está preso. Villela integrava a força-tarefa da Greenfield, operação que apura esquema de fraudes em fundos de pensão estatais que envolve o grupo J&F, dos irmãos Batista.
Segundo depoimento do empresário e também de Francisco de Assis e Silva, advogado da JBS, Willer e o procurador Ângelo Villela teriam "interferido no processo de negociação do
acordo de colaboração premiada, com o possível intuito de proteger parceiros políticos
(parlamentares integrantes do PMDB), em nítido prejuízo ao andamento das investigações
realizadas no âmbito das operações Lava Jato e Greenfield".
Para obter o apoio de Villela, o advogado teria combinado pagar R$ 50 mil mensalmente ao procurador a título de 'ajuda de custo'. Ironicamente, o então integrante da força-tarefa da Operação Greenfield chegou a fazer pronunciamento no plenário da Câmara dos Deputados cerca de um mês antes de ser preso defendendo o projeto de 10 Medidas Contra a Corrupção , campanha capitaneada pelo MPF.
A prisão de Tomaz de Souza foi determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, mas posteriormente o caso foi enviado ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), que confirmou a necessidade de prisão preventiva do advogado.
A defesa do investigado então recorreu ao STJ e o relator do pedido em habeas corpus, ministro Rogério Schietti, solicitou manifestação do MPF , que foi apresentada na última sexta-feira (21).
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Vazamento causou "extrema insegurança" em Joesley
No parecer de 21 páginas, a Procuradoria-Geral da República alega que a decisão de prender preventivamente Tomaz de Souza "está embasada em fatos e dados concretos extraídos diretamente do caderno processual".
O MPF também destaca que o acordo de delação do dono do grupo JBS
esteve ameaçado em razão das condutas de Willer e Ângelo, uma vez que o empresário passou a desconfiar dos procuradores ao ver que um dos integrantes da força-tarefa "estava se vendendo".
"O 'vazamento' de informações, bem como o seu oferecimento em troca de vantagens indevidas, são atitudes gravíssimas e que geram extrema insegurança aos candidatos a colaboradores, eis que dados sensíveis, os quais deveriam ser mantidos sob a rigorosa discrição e tutela da autoridade pública, são levados ao conhecimento de envolvidos
e possíveis citado", escreveu o subprocurador-geral da República, Rogério de Paiva Navarro, referindo-se à situação de Joesley Batista.
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