O ex-ministro Geddel Vieira Lima, preso desde segunda-feira (3) sob acusação de ter tentado embaraçar investigações, confirmou ter feito ligações à esposa de Lúcio Funaro, mas negou que tenha conversado acerca de um possível acordo de delação do lobista. A suspeita de que o ex-articulador político do governo Temer tenha pressionado Raquel Pitta, mulher de Funaro, foi o principal fator que levou o ex-ministro a ser preso preventivamente no início desta semana.
Geddel Vieira Lima chegou a chorar em duas ocasiões durante audiência de custódia realizada nesta quinta-feira (6) na 10ª Vara Federal, em Brasília. O primeiro momento de emoção se deu quando Geddel mencionou sua família durante argumentação para reafirmar inocência. O segundo e mais efusivo choro do ex-ministro foi uma reação às negativas do juiz Vallisney Souza de Oliveira, que rejeitou pedido de liberdade ao peemedebista .
Durante pouco mais de 1h20min de audiência, Geddel se disse "surpreso" com sua prisão e garantiu que "sempre cooperou com a Jusitça".
"Tenho 58 anos de idade e nunca tive nenhum tipo de problema. Em coopero com a Justiça e sempre cooperei. Tenho a crença inabalável que em nenhum momento eu tomei qualquer atitude que possa ser interpretada como embaraço à Justiça ou dificultação de investigações", disse o ex-ministro.
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A audiência de custódia é um procedimento judicial no qual é abordado as circunstâncias nas quais um suspeito foi preso, portanto não é julgado o mérito das acusações nessa ocasião. A despeito disso, Geddel se pronunciou a respeito das acusações do Ministério Público Federal.
Os investigadores alegaram no pedido de prisão preventiva que Geddel entrou em contato com a esposa de Funaro no período de maio a junho deste ano para se informar acerca das intenções do lobista em fechar um acordo de colaboração premiada com a Justiça. Funaro é réu de ação penal, ao lado dos ex-deputados Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves e de mais dois, que apura eventuais repasses irregulares feitos pela Caixa Econômica Federal. Geddel também é investigado por suposto envolvimento no esquema, mas ele não é réu.
O ex-ministro confirmou ao juiz Vallisney Oliveira que conversou algumas vezes com Raquel Pitta, mas disse que em nenhum momento a conversa circulou em torno do tema delação de Lúcio Funaro.
Ao explicar as imagens apresentadas pelo MPF que reproduzem a tela do aparelho celular de Raquel registrando ligações de Geddel, o ex-ministro disse que tentou telefonar para a pediatra de seu filho mais novo, mas se confundiu na hora de selecionar o número a ser discado.
"Se olharem as ligações que eu fiz, vai ver que tem duas ou três ligações que nem se completam. Se você olhar o meu celular, vai ver que embaixo da pessoa que eu cadastrei posteriormente, tem o nome da pediatra do meu filho que ficou internado praticamente naquele dia. Quando eu vi que era outra ligação, imediatamente eu cancelei", explicou Geddel.
"A única ligação que foi feita foi o retorno da ligação da pessoa, que eu já conhecia, e só falei 'oi, tudo bom? parabéns' [...] Mas não há fala. Não há nada. Não houve mensagem escrita. Foi só o registro de uma ligação", completou.
Apesar dos esforços em explicar as ligações feitas para Raquel Pitta, Geddel posteriormente se contradisse ao negar que tivesse o número da esposa de Funaro cadastrado em seu aparelho.
O ex-ministro também negou que tenha tido qualquer contato com Eduardo Cunha ou com executivos do grupo J&F.
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Choro ao ter recurso negado
A defesa de Geddel pediu ao juiz que reconsiderasse a necessidade de manter o ex-chefe da Secretaria de Governo preso, mas o magistrado da 10ª Vara Federal do DF decidiu mantê-la.
O juiz determinou que o pedido voltará a ser analisado tão logo Raquel Pitta preste depoimento e a Polícia Federal conclua a perícia no aparelho celular de Geddel – que disponibilizou a senha de desbloqueio para agilizar o processo.
Os advogados do ex-ministro sugeriram ao juiz conceder a prisão domiciliar a Geddel, que exaltou a importância de seu papel em seu núcleo familiar e disse que ele próprio já havia se colocado em 'prisão domiciliar'.
"Por conta de todo esse ambiente que está no Brasil, eu já estava praticamente em 'prisão domiciliar'. Eu não saía mais, a não ser para fazer algum trabalho e raramente pra levar os meus filhos para ver a luz do sol com o pai. Minha esposa não trabalho, então minha família precisa de mim para o seu sustento e zelo emocional."
"Eu tenho um objetivo que agora é maior que todos... Depois dessa medida [prisão] que o doutor Vallisney, sustentado na sua convicção, tomou... É fazer com que meu filho cresça sustentando o meu nome", disse Geddel Vieira Lima, que tem um filho de sete anos de idade batizado com o mesmo nome do pai.
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Confira a íntegra do depoimento de Geddel Vieira Lima abaixo: