Com os últimos depoimentos de Joesley Batista na semana passada, seja para a Polícia Federal ou em entrevistas polêmicas, o empresário da JBS tem focado todas as suas acusações ao presidente Michel Temer (PMDB), sem citar a relação estreita que teve com o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) e seus ministros, que facilitaram o crescimento de sua empresa por meio de negociações ilícitas.
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Esse tipo de comportamento por parte de Joesley Batista parece, no mínimo, estranho, afinal, foi no governo Lula que a JBS iniciou sua expansão às custas de dinheiro público vindo do BNDES, especialmente durante a gestão de Luciano Coutinho.
Mesmo depois de já ter feito declarações sobre o pagamento de propina por parte do empresário ao PT , em troca de facilidades para os negócios da JBS , pouco se fala sobre a relação entre ele e Lula. Seria Joesley a arma de vingança do Partido dos Trabalhadores?
Em seu depoimento à Polícia Federal, o executivo contou aos procuradores que havia acertado com o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, a abertura de duas contas correntes secretas, mantidas no exterior que seriam abastecidas com propina aos ex-presidentes do PT, Lula e Dilma Rousseff.
Em 2009 a primeira conta, criada na Suíça, que guardava o dinheiro ilegal foi criada para uso de Lula, enquanto a segunda foi destinada a Dilma, e mantida até 2014, durante o período da reeleição da petista. O saldo de ambas as contas totalizava cerca de US$ 150 milhões.
Além das contas irregulares, a JBS também bancou cerca de R$ 30 milhões para a primeira campanha de Dilma, acordada com o ex-ministro Antonio Palocci. A verba foi entregue por meio de doações oficiais, notas fiscais frias e entregas em espécie.
Ainda que todas essas informações tenham sido divulgadas, Joesley continua em liberdade, acusando o governo Temer e seus aliados, de maneira que, a cada declaração, a estratégia de atacar outros partidos e deixar o PT como coadjuvante parece se concretizar.
Entrevista polêmica
Dando contunuídade ao seu ímpeto de derrubar o presidente Michel Temer, o empresário concedeu entrevista exclusiva à revista Época e afirmou que Temer é "o chefe da maior e mais perigosa organização criminosa".
O presidente não se pronunciou pessoalmente das acusações feitas pelo empresário, porém em resposta a reportagem publicada pela revista, o Palácio do Planalto enviou comunicado à imprensa. Foi salientado pela equipe do governo que a relação entre a JBS e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ( BNDES ) teve início no governo anterior ao de Michel Temer.
O comunicado enfatizou os números do crescimento da empresa – que passou de um faturamento na ordem de R$ 4 bilhões em 2007 para R$ 183 bilhões em 2016 – conseguido na gestão anterior e ressaltou que o próprio empresário, Joesley Batista, em suas gravações e depoimento externou frustração por não ter mais portas abertas nas instituições como tinha em anos anteriores. “Tinha, segundo seu próprio relato, as portas fechadas na administração federal para seus intentos. Qualquer pessoa pode ouvir a gravação da conversa na internet para comprová-lo”.
O Palácio do Planalto ressaltou que o empresário deixou claro que por 10 meses não conseguiu contato com o governo, ao ressaltar que Joesley Batista é contraditório em relação as suas acusações. “Ao bater às portas do Palácio do Jaburu depois de 10 meses do governo Michel Temer, o senhor Joesley Batista disse que não se encontrava havia mais de 10 meses com o presidente. Reclamou do Ministério da Fazenda, do CADE, da Receita Federal, da Comissão de Valores Mobiliários, do Banco Central e do BNDES”.
Para completar foi informado que o presidente partirá para o âmbito legal para tentar acabar com os ataques de Joesley Batista. "O presidente tomará todas medidas cabíveis contra esse senhor. Na segunda-feira, serão protocoladas ações civil e penal contra ele. Suas mentiras serão comprovadas e será buscada a devida reparação financeira pelos danos que causou, não somente à instituição Presidência da República, mas ao Brasil. O governo não será impedido de apurar e responsabilizar o senhor Joesley Batista por todos os crimes que praticou, antes e após a delação", finalizou o comunicado do Palácio.
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