Vídeo publicado na internet na última quinta-feira (15) mostra o jornalista Alexandre Garcia, da TV Globo, sendo hostilizado por um militante de esquerda em um voo da Gol que saiu de Brasília e foi para o aeroporto de Confins, em Minas Gerais. O autor das ofensas é o blogueiro Rodrigo Grassi, que possui um canal no YouTube chamado “Botando Pilha”.
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As imagens mostram o militante proferindo palavras contra Alexandre Garcia ainda no saguão do aeroporto de Brasília. Na fila de embarque, o manifestante chama o jornalista de “golpista”. “Eternamente golpista. Vai ter ‘Mimimiriam’ Leitão também?”, questiona o homem, em alusão ao caso semelhante envolvendo a colunista Miriam Leitão ( leia abaixo ). “Você também vai soltar notinha se vitimizando, igual à Miriam Leitão?”, questiona o militante.
Veja o vídeo:
Acompanhado de uma mulher, Garcia segue em direção ao portão de embarque e não responde às críticas. Mesmo ignorado, o indivíduo continua com as provocações. “Como é ser golpista? Fala para a gente. Aqui não é a Rede Globo, não. Aqui é ‘no-filter’. Você pode falar o que você falar e a gente vai publicar sem edição. Como é compactuar com o sistema? Como é ser pelego de militar?”, pergunta Grassi, que continua falando, mas sem receber a atenção do jornalista. “Quis a história que a gente estivesse no mesmo voo”, ironiza.
O manifestante acusa a Globo de promover o “ódio” contra a esquerda. “Vocês que incentivam o ódio contra o PT, contra o PCdoB, contra a esquerda.” No corredor em direção à aeronave, o manifestante filma a si próprio e se gaba da situação. “Imagina se vai dar merda”, diz, rindo.
Ao entrar no avião, um Boeing 737, o indivíduo posiciona-se atrás do jornalista começa a cantar gritos de guerra contra a Globo: “A verdade é dura. A Rede Globo apoiou a ditadura”. Garcia, em seguida, entra na cabine do piloto. A mulher que o acompanha diz ao militante que o comandante o chamou e adverte: “Cuidado, você pode perder o seu voo”. “Eu ‘to tranquilão’ [sic]. Você está me ameaçando?”.
“Eles fazem terrorismo midiático o tempo inteiro e a hora que a gente bota uma ‘pressãozinha’ vão chamar polícia, tal. Fiquem tranquilos que a gente não vai fazer nada do que vocês fazem diariamente na casa das pessoas”, disse o manifestante, novamente filmando a si próprio com a câmera do celular.
Em entrevista ao jornal “ O Estado de S.Paulo ”, Garcia afirmou que o comandante do voo se disponibilizou a providenciar a retirada do militante da aeronave, mas garante ter rejeitado essa possibilidade. “Não deixei e posso dizer que esse rapaz voou graças a mim. Me deu um poder que eu não tenho. Não dei muita importância”, disse. O jornalista também ironizou a ação do blogueiro. “Acho que Freud explica esse tipo de atitude. Isso é caso de psicanálise, não de política”, acrescentou.
Em suas redes sociais, Garcia ainda não havia feito comentários sobre a situação até o momento da publicação desta reportagem.
Histórico
Grassi é conhecido na internet por suas atitudes ofensivas contra pessoas que têm opiniões divergentes às bandeiras defendidas pelo PT . O indivíduo, que é ex-assessor da deputada federal Erika Kokay (PT-DF), foi preso em 2014 pela polícia do Senado ao questionar o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) – que hoje é ministro das Relações Exteriores – sobre o suposto envolvimento do tucano em irregularidades em contratações do Metrô de São Paulo. O parlamentar se irritou com a pergunta e partiu para cima do blogueiro, que foi pego por seguranças da Casa.
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Também em 2014, Grassi hostilizou o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barboza na saída de um restaurante em Brasília. Ao ver o magistrado, o militante começou a gritar: “Dirceu guerreiro do povo brasileiro”, referindo-se ao ex-ministro José Dirceu, condenado pelo STF por envolvimento no escândalo do Mensalão. O indivíduo diz a Barbosa que ele é “tucano” e “projeto de ditador”. Na época, ele ainda trabalhava para Erika Kokay, mas foi exonerado após a repercussão do vídeo.
Veja o vídeo do petista hostilizando Joaquim Barbosa:
Em março deste ano, Grassi invadiu um link da GloboNews aos gritos de “Globo golpista”. A repórter Raquel Porto Alegre estava ao vivo em Brasília e falava sobre o depoimento prestado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na 10ª Vara Federal de Brasília, em processo no qual é réu no âmbito da Operação Lava Jato.
Na descrição de suas atividades no YouTube, Grassi informa que o objetivo do canal é “debater, denunciar, desmascarar a grande mídia, satirizar e ‘botar pilha’ nos ‘poderosos’ de direita, reacionários, fascistas e/ou conservadores”.
Miriam Leitão
No início desta semana, a jornalista Miriam Leitão publicou um texto em sua coluna no jornal “O Globo” no qual diz ter sido hostilizada por militantes do PT em um voo da Avianca de Brasília para o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. As agressões teriam ocorrido no dia 3 de julho, quando integrantes do partido voltavam do congresso nacional da legenda.
Miriam Leitão, que também trabalha na GloboNews e na TV Globo, afirmou que as agressões verbais contra ela também tiveram início no aeroporto e persistiram durante todo o voo para a capital fluminense.
Após a divulgação dos fatos, a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann publicou nota na qual diz “lamentar o constrangimento” sofrido pela jornalista no voo. Ela disse que a militância do partido não é orientada para agir dessa maneira e “o PT não fará com a Globo o que a Globo faz com o PT”. O texto também foi compartilhado por Lula em suas redes sociais.
Ao contrário de Alexandre Garcia, que afirma não ter solicitado a retirada do blogueiro de esquerda da aeronave, Miriam Leitão criticou a Avianca por, segundo ela, não ter oferecido ajuda. Ao contrário: a colunista diz ter recebido de uma comissária a orientação para deixar o avião antes do embarque, o que não ocorreu. A funcionária havia dito que a recomendação partiu da Polícia Federal. “Não vi ninguém da Polícia Federal. Se esteve lá, ficou na porta do avião e não andou pelo corredor, não chegou até a minha cadeira”, escreveu a jornalista.