A jornalista Miriam Leitão relatou, em sua coluna no jornal “ O Globo” publicada nesta terça-feira (13), que foi agredida verbalmente por militantes do PT em um voo de Brasília para o Rio de Janeiro. As agressões teriam ocorrido no dia 3 de julho, quando integrantes do partido voltavam do congresso nacional da legenda.
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Segundo Miriam Leitão , que também trabalha na GloboNews e na TV Globo , os delegados do congresso ainda estavam vestidos com roupas do PT, já que o evento acabara horas antes. Ela relata que começou a ser hostilizada ainda no saguão do aeroporto de Brasília, mas que imaginou que o grupo embarcaria em outro voo.
Ela afirma que foi uma das primeiras passageiras a embarcar e que, logo após sentar-se na poltrona 15C, no corredor, começou novamente a ser ofendida pelos petistas, tendo sido chamada de “terrorista” por alguns deles. A jornalista lembra que eram cerca de 20 militantes no avião e que todos estavam acomodados perto dela.
Antes da decolagem, uma comissária de bordo teria se dirigido à jornalista e dito que o comandante do voo havia lhe oferecido um lugar na parte da frente da aeronave, o que foi recusado. A colunista relata que, minutos depois, ainda sob gritos de protestos da militância petista, a mesma aeromoça voltou e afirmou que a Polícia Federal estava ordenando que ela deixasse o avião e que o voo somente seria iniciado com essa condição.
“Não vi ninguém da Polícia Federal. Se esteve lá, ficou na porta do avião e não andou pelo corredor, não chegou até a minha cadeira”, disse a jornalista, que diz ter recusado o “convite” da PF para deixar a aeronave.
Conforme o relato da colunista, os militantes gritaram ofensas contra ela durante todo o voo até o aeroporto Santos Dumont, percurso que dura cerca de duas horas. Ela diz que vários manifestantes a filmavam com o celular, esperando algum tipo de reação hostil. A jornalista diz ter ficado quieta durante todo o voo, sem responder às provocações. "Calculavam que eu perderia o autocontrole. Não filmei porque isso seria visto como provocação. Permaneci em silêncio. Alguns, ao andarem no corredor, empurravam minha cadeira, entre outras grosserias", lembra.
“Não acho que o PT é isso, mas repito que os protagonistas desse ataque de ódio eram profissionais do partido. Lula citou, mais de uma vez, meu nome em comícios ou reuniões partidárias. Como fez nesse último fim de semana. É um erro. Não devo ser alvo do partido, nem do seu líder”, escreveu a jornalista em sua coluna.
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“Durante todo o voo, os delegados do PT me ofenderam, mostrando uma visão totalmente distorcida do meu trabalho. Certamente não o acompanham. Não sou inimiga do partido, não torci pela crise, alertei que ela ocorreria pelos erros que estavam sendo cometidos. Quando os governos do PT acertaram, fiz avaliações positivas e há vários registros disso”, acrescentou a colunista, defendendo-se das acusações de que persegue o partido em suas análises sobre a política nacional.
Versão da companhia aérea
Procurada pelo iG , a Avianca informou, por meio de nota, que “repudia veementemente qualquer ação que viole os direitos dos cidadãos“. “A presença da Polícia Federal foi solicitada na aeronave que fazia o voo 6327 (Brasília – Rio de Janeiro/Santos-Dumont), no dia 3, após a tripulação detectar um tumulto a bordo que poderia atentar à segurança operacional e à integridade dos passageiros. O procedimento objetivo seguido pelo comandante, no estrito cumprimento de suas funções, seguiu a praxe do setor para esses casos”, acrescentou a companhia aérea.
Comentários do PT
Por meio do perfil oficial do PT no Facebook, a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann disse “lamentar o constrangimento” sofrido pela jornalista no voo. “Orientamos nossa militância a não realizar manifestações políticas em locais impróprios e a não agredir qualquer pessoa por suas posições políticas, ideológicas ou por qualquer outro motivo, como confundi-las com as empresas para as quais trabalhem”, diz a nota.
Gleisi afirma que “esse comportamento não agrega nada ao debate democrático”. “Destacamos ainda que muitos integrantes do Partido dos Trabalhadores, inclusive esta senadora, já foram vítimas de semelhante agressão dentro de aviões, aeroportos e em outros locais públicos.”
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Apesar de dizer que lamenta o ocorrido, a senadora culpou a Rede Globo pelo acirramento das discussões políticas no Brasil. “Não podemos, entretanto, deixar de ressaltar que a Rede Globo, empresa para a qual trabalha a jornalista, é, em grande medida, responsável pelo clima de radicalização e até de ódio por que passa o Brasil, e em nada tem contribuído para amenizar esse clima do qual é partícipe. O PT não fará com a Globo o que a Globo faz com o PT”, finaliza a nota da presidente do PT.
O texto da senadora foi compartilhado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também por meio de sua página oficial no Facebook, que reforçou o trecho do texto em que Gleisi diz que o "o PT não fará com a Globo o que a Globo faz com o PT".
Silêncio sindical
Apesar de a presidente petista ter reconhecido que a militância errou, a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), não se manifestou publicamente pelas agressões verbais cometidas pelos petistas contra Miriam Leitão até o momento da publicação desta reportagem. A federação é filiada à CUT (Central Única dos Trabalhadores), central sindical que é ligada ao PT. Já a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) publicou em sua página oficial na internet um texto relatando os fatos ocorridos no avião, mas também não divulgou nota repudiando a atitude e defendendo a colega de profissão. A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), por outro lado, publicou nota na qual repudia a conduta dos petistas. “O dissenso é saudável para uma democracia, e o embate civilizado de ideias é o melhor caminho para a construção de uma sociedade mais justa. A violência, a intolerância e a incompreensão do papel da liberdade de expressão, ao contrário, podem ferir de morte o regime democrático”, diz a entidade.