O ex-ministro Antonio Palocci afirmou que pretende fazer delação premiada. Sua confissão deve atingir em cheio algumas nomes bastantes citados na investigação, como o Banco BTG Pactual.

Leia também: Em 2013, senador afastado Aécio Neves já era beneficiado pelo BTG Pactual

Antonio Palocci em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro
Reprodução/ JFPR
Antonio Palocci em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro

De acordo com Palocci, a compra de participação no Banco Panamericano pela Caixa Econômica Federal, em 2009, atendeu a interesse do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual . Ainda segundo o petista, era preciso que a Caixa comprasse a instituição financeira para ajudar a saneá-la. O Panamericano foi vendido um ano e cinco meses depois para o BTG, seu atual controlador.

O relato de Palocci aponta que Esteves teria informações prévias sobre a situação do Panamericano, que enfrentava sérias dificuldades financeiras. O banqueiro teria uma estratégia para lucrar com o negócio, adquirindo, posteriormente, ações do Panamericano. Em 2010, a instituição financeira recebeu aporte de R$ 3,8 bilhões do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para se manter operante.

O Banco Panamericano, que pertencia ao empresário Silvio Santos, foi adquirido pela Caixapar em 1º de dezembro de 2009 por R$ 739,2 milhões, sendo socorrido pelo FGC no ano seguinte. Após 15 meses, em maio de 2011, o BTG Pactual comprou maior participação acionária do Panamericano por valor inferior ao pago pela Caixa - R$ 450 milhões -, ficando com 37,27% do capital total da instituição, e passando à condição de sócio do banco público, que detém 35,54% das ações do Panamericano.

Segundo reportagem do Valor, Palocci afirma que que venda do Panamericano para a Caixapar, braço de investimentos da Caixa, foi articulada em negociações com o Planalto. No fim de 2010, o Banco Central descobriu esquema de fraudes no Panamericano, que estava quebrado. O BC colocou o banco sob intervenção e revelou que a direção do Panamericano fraudava a sua carteira de crédito, para inflar o patrimônio em até R$ 2 bilhões.

O Ministério Público Federal e a Polícia Federal apuraram que as perdas causadas pela fraude chegaram a quase R$ 4 bilhões. A farsa contábil foi descoberta durante a campanha presidencial de 2010, e o Panamericano socorrido foi pelo FGC. A ajuda foi comemorada pelo BC, que não teve de liquidar o banco, o que poderia prejudicar a eleição de Dilma Rousseff.

Outras casos envolvendo o Banco BTG Pactual

O Banco BTG Pactual é uma figurinha carimbada nos maiores casos de corrupção dos últimos anos. Além da estranha compra da fazenda de Bumlai, o banco já foi condenado por inside trading,  e já chegou a ter uma cassação recomendada pelo Banco Central, mas acabou se livrando ao pagar uma multa.

O banco de investimentos também tem um histórico com a JBS, cujos donos Wesley e Joesley Batista abalaram o Brasil por meio de uma delação premiada que implicava, entre outros nomes, o presidente Michel Temer e o senador mineiro Aécio Neves. O BTG sempre recomendou investimentos na empresa frigorífica que, meses antes da delação de seus donos, foi uma das denunciadas na Operação Carne Fraca.

André Esteves transferido para presídio no Rio - 26-11-2015
Fernando Frazão/ Agência Brasil - 26.11.2015
André Esteves transferido para presídio no Rio - 26-11-2015

Em outra "coincidência", pipocam acusações de que a JGP, gestora de recursos fundada por ex-diretores e sócios do BTG Pactual, ter se utilizado de informações privilegiadas da delação de Joesley Batista, uma vez que a   empresa foi a única, além da própria JBS, a conseguir lucrar logo após o estouro do escândalo.

O banco também financiou a lua de mel de Aécio Neves , em 2013.  O tucano e sua esposa, Letícia Weber, ficaram no luxuoso Hotel Waldorf Astoria, em Nova Iorque. Na época, Aécio negou que a viagem tenha sido um presente de lua de mel, e afirmou que havia sido convidado dois meses antes para dar uma palestra para investidores estrangeiros.

Quem é André Esteves?

Ex-CEO do Banco BTG Pactual, André Esteves é outro que teve seu nome citado diversas vezes em delações. O banqueiro, que já figurou como um dos 70 maiores bilionários do Brasil segundo a revista Forbes, chegou a ser preso em 2015 pela Operação Lava Jato.

Após ser revelado que Esteves articulava, junto com Delcídio do Amaral, um plano de fuga para o ex-executivo da Petrobras, Nestor Cerveró, que iria do Brasil com destino a Espanha, o executivo foi detido em novembro de 2015.  Segundo a investigação, Esteves temia que Cerveró envolvesse o BTG em sua delação, e teria oferecido, além do plano de fuga, propina ao ex-executivo.  

Leia também: Lula é denunciado por corrupção e lavagem envolvendo sítio de Atibaia

O banqueiro ficou cerca de um mês encarcerado em Bangu 8, mas acabou tendo prisão domiciliar decretada pelo então ministro do STF, Teori Zavascki. Na investigação, Esteves foi acusado de pagar mais de R$ 100 milhões em propina para o ex-presidente Fernando Collor.

André Esteves voltou a ter seu nome citado durante a Operação Conclave, que investiga a aquisição do Banco Panamericano. Em abril deste ano, o juiz federal Vallisney de Souza Oliveira pediu a quebra o sigilo bancário e fiscal de Esteves.

Longe das aparições públicas desde sua prisão em 2015, André Esteves ressurgiu na mídia na última semana. O banqueiro foi flagrado na primeira fileira de uma palestra de João Doria (PSDB), prefeito de São Paulo, em Nova Iorque.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!