A defesa da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) deve apresentar nesta segunda-feira (17) uma petição ao Supremo Tribunal Federal (STF) para incluir a entrevista concedida pelo presidente Michel Temer (PMDB) à TV Bandeirantes, no último sábado (15), como "fato relevante que reforça os argumentos de que o processo de impeachment teve desvio de finalidade em sua origem".
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De acordo com o advogado de Dilma Rousseff , o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, Temer "confessa" que, em 2015, o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), só aceitou o pedido de impeachment da petista porque o PT teria se recusado a dar-lhe os três votos no Coselho de Ética, que permitiriam sua absolvição e o manteria no cargo.
“Em uma ocasião, ele [Eduardo Cunha] foi me procurar. Ele me disse ‘vou arquivar todos os pedidos de impeachment da presidente, porque prometeram-me os três votos do PT no conselho de ética’", afirmou Temer. "Eu disse que era muito bom, porque assim acabava com essa história de que ele estava na oposição. (…) naquele dia eu disse a ela [Dilma] ‘presidente, pode ficar tranquila, o Eduardo Cunha me disse que vai arquivar todos os processos de impedimento’. Ela ficou muito contente e foi bem tranquila para a reunião”, continua.
Por fim, Temer narra o que teria mudado a opinião de Cunha a respeito do impeachment. “No dia seguinte, eu vejo logo o noticiário dizendo que o presidente do PT e os três membros do partido se insurgiam contra aquela fala e votariam contra [Cunha no Conselho de Ética]. Mais tarde, ele me ligou e disse ‘tudo aquilo que eu disse, não vale, vou chamar a imprensa e vou dar início ao processo de impedimento’”.
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Temer conclui: “Que coisa curiosa! Se o PT tivesse votado nele naquele comitê de ética, seria muito provável que a senhora presidente continuasse”.
Ato de vingança
Segundo Cardozo, a fala de Temer é uma "confissão" e uma "prova de que Cunha abriu o processo por vingança".
“O Supremo tem agora a prova de que não foram as pedaladas fiscais que levaram Eduardo Cunha a aceitar o processo de impeachment, mas a vingança porque ela não cedeu às suas chantagens”, disse o advogado de Dilma Rousseff.
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