Deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) é conhecido por seus embates contra políticos e simpatizantes da esquerda
Gustavo Lima/Câmara dos Deputados - 9.9.2015
Deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) é conhecido por seus embates contra políticos e simpatizantes da esquerda

O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) publicou em seu perfil no Facebook um vídeo no qual ironiza a lista de deputados que tiveram pedidos de abertura de inquéritos autorizados pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), relator das ações decorrentes da Operação Lava Jato na Corte.

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A ironia de Jair Bolsonaro se dá pelo fato de que seu nome não foi citado na lista, que conta com 49 deputados, incluindo 11 do PT e um do PCdoB. Conservador e direitista convicto, o parlamentar é conhecido por seus embates – muitas vezes polêmicos – contra políticos e simpatizantes da esquerda.

No vídeo, gravado em seu gabinete na Câmara dos Deputados, um homem pergunta a Bolsonaro se o nome dele está na lista de Fachin. “Não ‘tô’, de novo! Que decepção para a esquerda do Brasil! A petralhada vai chorar a noite toda hoje. Mas tem duas pessoas maravilhosas aqui: Carlos Zarattini e Maria do Rosário! Mas o que é isso, Maria do Rosário? A Papuda lhe espera! Boa estadia lá, valeu? Um forte abraço!”, responde o parlamentar, que, em seguida dá uma gargalhada.

Bolsonaro e Maria do Rosário (PT-RS) têm um histórico de brigas. Em 2003, durante uma discussão no Salão Verde da Câmara, o deputado disse que não estupraria a petista porque ela “não merecia”. Em seguida, a chamou de “vagabunda”.

Em 2014, durante discurso no plenário, ele voltou a dizer que a deputada “não merecia” ser estuprada por ele. “A poucos dias você me chamou de estuprador no Salão Verde e eu falei que não estuprava [sic] você porque você não merece”, afirmou, dirigindo-se à colega. No dia seguinte, em entrevista ao jornal “Zero Hora”, Bolsonaro teria reafirmado as declarações, dizendo que Maria do Rosário “é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria”.

Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tem histórico de brigas contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS)
Marcelo Camargo/Agência Brasil - 14.9.16
Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tem histórico de brigas contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS)

Por causa das declarações, o parlamentar – que se apresenta como pré-candidato a presidente na eleição do ano que vem – é réu no STF pelos delitos de incitação ao crime de estupro e injúria. No mês passado, os ministros da 1ª Turma da Corte rejeitaram recursos apresentados por Bolsonaro, que, portanto, continua respondendo ao processo. Ele alegava que os ministros teriam de reconhecer a prerrogativa constitucional da imunidade parlamentar.

Veja o discurso de Bolsonaro contra Maria do Rosário no plenário da Câmara


Filhos

O também deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), filho do pré-candidato à Presidência da República também utilizou as redes sociais para provocar a rival do pai. “Desculpa, Maria do Rosário. Ontem mencionei que ela estava só na lista da [empreiteira] Engevix. Ela ‘tb’ [sic] está na do Fachin ”, escreveu o parlamentar em seu perfil no Twitter.

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Em seguida, o parlamentar ironizou as bandeiras defendidas pelo mandato da petista: “Prezados, esqueçam essas listas de Odebrecht, Fachin e etc. O problema do Brasil é que Bolsonaro é misógino, machista, racista, homofóbico.”

Filho de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro também ironizou a inclusão da deputada na lista de Edson Fachin
Reprodução/Twitter
Filho de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro também ironizou a inclusão da deputada na lista de Edson Fachin

O vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC) também utilizou o Twitter para fazer piadas diante da situação. “Esperando mais uma vitimização padrão da Maria do Rosário em 3, 2, 1...”, escreveu.

Já Flávio Bolsonaro (PSC), deputado estadual pelo Rio de Janeiro, compartilhou no Twitter uma reportagem do jornal “O Globo” que afirma que o vereador fluminense Leonel Brizola Neto (PSOL) foi citado na lista de Fachin.

Outro lado

A deputada Maria do Rosário também publicou um vídeo em seu perfil no Facebook no qual se diz “indignada” com o fato de ter sido citada em depoimento de delatores da Odebrecht e considera que a citação “criminaliza” a ação política. Ela disse estar tranquila em relação às investigações. Apesar de apresentar sua defesa nas redes sociais, a petista foi alvo de muitos comentários negativos por parte dos internautas, sendo que muitos se declararam apoiadores de Bolsonaro. Alguns deles diziam para a parlamentar procurar defensores dos direitos humanos para ajudá-la.

“Eu vou dizer a vocês uma coisa: minha vida é pública, minha vida pessoal é totalmente transparente. Está à disposição o sigilo bancário, telefônico, fiscal, o que precisarem”, assegurou a petista.

Em seguida, a deputada manifestou sua indignação “com uma situação que coloca o meu nome e que mistura o joio e o trigo, que atrapalha a vida das pessoas, que criminaliza a ação política”. “Eu não devo nada em padrões éticos à política nacional. E não admitirei ser citada em nada que diga respeito a isso.”

Por fim, a parlamentar gaúcha diz que “vai seguir lutando” e que “não vai se afastar das coisas que acredita”. “Não vou permitir que detratores utilizem meu nome negativamente em relação a essa questão e espero que tudo isso muito rapidamente seja resolvido, porque o nome das pessoas, a vida das pessoas, o meu nome e a minha vida não estão à disposição para serem enxovalhados por quem quer que seja em nenhum lugar”, finalizou.

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Maria do Rosário não comentou sobre as provocações feitas por Jair Bolsonaro e seus filhos. Além do PT e PCdoB, a lista de inquéritos autorizados por Fachin tem cinco deputados do DEM, cinco do PP, quatro do PSDB, quatro do PMDB e três do PR. PSD, PRB e PSB têm dois parlamentares cada, enquanto Solidariedade, PPS e PTB têm um integrante cada um. Em relação aos senadores, são 29 citados, o que equivale a mais de um terço do total. Os presidentes do Congresso - Eunício Oliveira (PMDB-CE), do Senado, e Rodrigo Maia (DEM-RJ) - também serão investigados, assim como o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) e três governadores.

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