Em depoimento à Delegacia Especial de Atendimento a Pessoa da Terceira Idade (Deapti), após tomar coragem para denunciar a filha, a atriz Sabine Coll Boghici, que também é filha do marchand Jean Boghici, morto há em 2015, a mulher de 82 anos lembrou dos momentos de terror que viveu no apartamento de luxo, em que ambas moravam, em Copacabana. A vítima afirmou que, entre 2020 e 2021, teve que conviver com dezenas de cães na residência, além de ter que limpar todo o duplex sozinha e ser ameaçada de ser jogada pela janela do 12o andar onde ela morava com a filha mais nova, presa por aplicar um golpe de R$ 724 milhões contra ela .
A vítima contou que “a partir do mês de setembro de 2020 as ameaças se intensificaram”. Ela disse que Rosa passou a ameaça-lá de morte e que por outro lado, Sabine “dizia que iria jogá-la pela janela e também iria pular do apartamento”. Ela contou aos policiais que a mãe de santo passou a dizer que a vítima “iria morrer e que tudo iria ficar para Sabine e para mim” e que o fim da vítima estava próximo.
A mulher também contou que “morria de medo de Sabine que continuava a ameaçar a declarante com uma faca grande encontrada no pescoço”.
No termo declaratório, a viúva de Boghici disse que Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic abordou a abordou após ela sair de uma agência bancária, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, em janeiro de 2020, apresentando-se como vidente, na altura das ruas Figueiredo de Magalhães e Siqueira Campos, dizendo que sua filha estava doente e morreria em breve.
“A senhora tem uma filha e ela vai morrer”, disse a mulher, que seguiu: "Vamos lá pra minha casa. Vou te ajudar. Venha, venha’”.
Após passar na casa de Diana, em Copacabana, a idosa conta que foi até um apartamento no Leme da também mãe de santo Jacqueline Stanescos, que teria dito: “Sua filha está correndo perigo de vida. Sua filha vai morrer. A senhora vai perder sua filha”. Em seguida a cartomante teria questionado onde a vítima morava, se ela tinha objetos de valor ou dinheiro. Com receosa, ela afirmou que se negou a responder aos questionamentos.
Vendo aquela cena, Diana teria se “antecipado” e afirmou que “tinha uma pessoa de sua extrema confiança” e ambas foram até a casa de mãe de santo Rosa Stanesco Nicolau, em Ipanema.
No local, a mulher conta que Rosa informou que sua filha, Sabine, tinha “um problema mortal”, após jogar búzios. Ela também confirmou que a atriz iria morrer e disse que a viúva de Boghici tinha “condições financeiras, que sabia que a declarante morava na Avenida Atlântica, tinha uma galeria de arte em Ipanema e uma casa da campo em Itaipava”.
A idosa afirmou também que Rosa teria dito que “faria um trabalho espiritual muito forte, muito importante, para salvar a vida de Sabine, e que para esse trabalho, que valia a vida de uma filha, que estaria possuída por um espírito ruim, era preciso de muito dinheiro”.
Após a consulta, a vítima conta que voltou para casa e narrou para Sabine o que lhe havia acontecido. Foi quando a filha “imediatamente após tomar conhecimento de todos os fatos, virou-se para a declarante e disse que era para pagar tudo o que fosse preciso para salvar a sua vida”.
Ela lembra que “convencida de que sua filha iria morrer, começou a fazer as transferências bancárias, sempre por orientação de Diana, que aparentemente era responsável por essas cobranças”.
Processo de isolamento
A mulher lembrou que depois dos primeiros trabalhos, “por imposição de Sabine, demitiu as duas funcionárias da casa”. A viúva do marchand conta que “estando sendo muito agressiva, além de falar diariamente com Rosa, percebeu que estava sendo vítima de um golpe”. A idosa destacou no depoimento que depois de interromper os pagamentos, Rosa teria dito que “Diana havia perdido a confiança, e, que, daquele momento em diante, seria ela, quem trataria dos pagamentos do trabalho espiritual”.
Ainda no depoimento, a vítima conta que após ficar totalmente isolada passou a fazer todos os trabalhos domésticos. Ela disse também que em um determinado dia, a filha a empurrou no banheiro. A viúva do colecionador de arte disse que “caiu”. Era porque Sabine queria pegar o celular da mãe.
A mulher também lembrou que a filha cortou os fios das três linhas de telefone da mansão para que ela não se comunicasse. Na declaração a vítima diz: “Que a agressividade Sabine estimulada por Rosa Stanesco, estava cada vez pior”.