Ao completar três meses de prisão, Glaidson Acácio dos Santos, o Faraó dos Bitcoins, enfrenta o abandono gradual dos clientes que exigiam a sua libertação. Após perceberem que o sonho de retomada das atividades da GAS Consultoria Bitcoins está distante, pelo menos 1 mil investidores da empresa de Glaidson já se filiaram à Associação Nacional de Clientes de Empresas de Terceirização de Cripto (ANCCripto) com o objetivo de abrir um canal de negociação com as autoridades responsáveis pelo caso, priorizando a luta pelo ressarcimento em prejuízo à campanha pela liberdade do Faraó.
O primeiro passo foi a contratação do advogado alagoano Paulo Nicholas, conhecido em seu estado por defender vítimas do Caso Pinheiro, como ficou conhecido o colapso do solo de cinco bairros superpopulosos de Maceió, provocado pela mineração de salgema.
Ele disse que as indenizações negociadas com o grupo responsável pelo problema, a Braskem, começaram a ser pagas sem a necessidade de medidas judiciais. Com a GAS, cujo foco central é Cabo Frio, na Região dos Lagos, ele espera fazer o mesmo:
"Não queremos entrar na discussão se Glaidson operava ilegalmente ou não. Nosso empenho será pelos clientes, que estão sendo lesados até hoje. Uma ação judicial pode levar anos. O melhor caminho é a interlocução com as autoridades."
Preso desde 25 de agosto, Glaidson é apontado como responsável pela criação de uma pirâmide financeira, disfarçada de investimentos em bitcoins, em Cabo Frio, na Região dos Lagos fluminense. O esquema teria amealhado 67 mil clientes, com um volume de R$ 38 bilhões em operações financeiras de 2015 aos dias atuais.
Até o momento, as autoridades só conseguiram apreender cerca de R$ 200 milhões. Do restante, é sabido apenas que a venezuelana Mirelis Zerpa, mulher de Glaidson que está foragida, conseguiu sacar R$ 1 bilhão em bitcoins após a prisão do marido.
Investidores que participaram de atos de solidariedade ao Faraó em Cabo Frio e no Rio, especialmente na porta do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que negou um pedido de revogação de sua prisão preventiva, estão aderindo à associação.
Uma das prioridades é agendar audiência com representantes do Ministério Público Federal (MPF), já que uma das unidades do órgão, o Gaeco Federal RJ, foi o responsável pela denúncia contra Glaidson e outros envolvidos no esquema.
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"O acordo busca o desbloqueio junto ao MPF, que é quem supervisionaria a devolução do capital aos clientes. A legitimidade do bloqueio de pedido das contas se fundamenta na proteção do interesse dos clientes. Todavia, se a grande massa de clientes de une em uma associação e solicita o desbloqueio, o pedido de bloqueio perde a legitimidade", argumenta Thiago Santos, funcionário público estudante de direito e filiado à ANCCripto.
Com “algumas centenas de milhares de reais” investidos na GAS, Thiago disse que o melhor negócio que pode fazer, agora, é desembolsar R$ 300 anuais para ingressar na entidade. Ele sustenta que as famílias das vítimas da queda do avião com a equipe da Chapecoense, em 2016, também seguiram o mesmo caminho:
"Uma ação deste tipo, normalmente, levaria cinco anos, enquanto um acordo neste modelo pode levar meses, porque se tornou um problema social no Estado do Rio, onde muitos perderam tudo o que tem. Por isso, concordei que esse seria o melhor caminho."
O movimento de ressarcimento conta com o apoio do presidente do Conselho Federal da OAB, Felipe Santa Cruz, que pediu audiências com o ministro da Justiça, Anderson Torres, com o procurador-geral da República, Augusto Aras, e com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para discutir o assunto.
"Nesse momento, o mais urgente é socorrer os investidores, protegendo milhares de famílias e, em especial, uma região inteira do nosso estado que está perto do colapso. Estamos cobrando medidas concretas das autoridades competentes. Compreendo que é uma situação nova, mas exige celeridade na sua solução pelo tamanho do impacto social", declarou Santa Cruz.
Em outra direção, investidores optaram pelo caminho judicial para ter o dinheiro de volta. Levantamento no Tribunal de Justiça do Rio revela que, no momento, já foram ajuizadas 299 ações contra a GAS em varas cíveis e outras 53 em juizados especiais. De acordo com o advogado José Paes, que representa dezenas de clientes de Campos dos Goytacazes, em regra os juízes vêm deferindo o bloqueio das contas bancárias dos réus.
Nos processos, o escritório de Paes também pede expedição de ofício para a vara federal responsável pelos processos decorrentes da Operação Cryptos, que prendeu Glaidson, requerendo a reserva dos valores apreendidos e futuro repasse aos processos dos investidores. Em geral, segundo ele, esses pedidos também vêm sendo deferidos.