O ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, de 38 anos, dono da GAS Consultoria, será ouvido na tarde desta quarta-feira, na sede da Justiça Federal do Rio, em uma audiência especial designada pela juíza federal Rosália Monteiro Figueira, da 3ª Vara Federal Criminal, após tomar ciência da entrada de celulares e alimentos na Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza, no Complexo de Gericinó, em Bangu, no último mês.
Quatro aparelhos telefônicos foram encontrados, no último dia 28, nas celas e galerias onde o empresário, conhecido como "Faraó dos Bitcoins", estava preso. Por conta disso, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) transferiu o ex-garçom para uma cela individual na penitenciária Laércio da Costa Pellegrino, conhecida como Bangu 1. Na terça-feira, a Justiça tornou o investidor e mais 16 pessoas réus em uma investigação do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal que apura pirâmide financeira praticada pelo grupo criminoso liderado por Acácio e sua mulher, a venezuelana Mirelis Yoseline Díaz Zerpa, de 38, que é considerada foragida.
A defesa do empresário solicitou que ele fosse ouvido, após a Polícia Federal pedir a transferência do dono da GAS Consultoria para uma penitenciária federal fora do estado. A decisão estava nas mãos do juiz federal Vitor Barbosa Valpuesta, da 3ª Vara Federal Criminal. O magistrado substituía Rosália Monteiro Figueira, juíza que agora ficará responsável pela tomada de decisão.
Os advogados Nabor Bulhões, Nélio Machado, Martsung Alencar e Cláudio Costa sustentarão na audiência que o material encontrado na cadeia não era de Glaidson. Os defensores alegam que a Polícia Civil não identificou os donos dos objetos e por isso ele não poderá ser penalizado. A defesa também quer entender o motivo do pedido de transferência para fora do estado.
A juíza Rosália também vai ouvir dois policiais penais que fizeram as buscas nas galerias e celas onde o material foi encontrado. Consta no boletim de ocorrência da apreensão, registrado na 34ª DP (Bangu), que a vistoria foi feita na galeria B, das celas 10 a 14. Ao aceitar o pedido da defesa, a magistrada considerou "que os fatos apresentados possuem conexão direta com a prisão preventiva de Glaidson Acácio dos Santos e seu recolhimento à unidade prisional por ordem deste Juízo".
"Nesse contexto, diante dos fatos noticiados pela defesa, requisito a apresentação do preso para audiência que designo para o dia 6 de outubro", afirma o documento, intimando os servidores Francisco Carlos Rosa de Oliveira e Luiz Claudio Ribeiro Maia, o Ministério Público Federal e a defesa do investigado.
Os aparelhos e os alimentos foram localizados por agentes da Corregedoria da Seap. De acordo com as informações, que chegaram pelo Disque-Denúncia (21 2253-1177), Glaidson e Tunay Pereira Lima, outro preso detido pela Operação Kryptos, estariam usando os celulares dentro da cadeia.
Pedido de transferência para fora do estado
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Para a PF, o poderio financeiro do ex-garçom, suspeito de corromper policiais penais a fim de obter regalias na cadeia, seria um dos argumentos para mantê-lo numa unidade federal.
Glaidson está no sistema penitenciário do Rio desde 25 de agosto, quando foi preso sob a acusação de ter montado um esquema milionário fraudulento de pirâmide financeira. Os delegados federais Guilhermo de Paula Machado Catramby e Carlos Eduardo de Resende Chambelini indiciaram o ex-garçom e mais 21 pessoas por crime contra o sistema financeiro nacional e formação de quadrilha. A gota d'água para o pedido de transferência de Glaidson foi o resultado da última vistoria na cela dele e do cúmplice, Tunay Pereira Lima, onde foram encontrados quatro celulares, picanha e linguiça.
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Em um mês, período em que o ex-garçom está preso, a Corregedoria da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) já fez três vistorias nas celas e galerias da Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza, no Complexo de Gericinó, onde Glaidson se encontrava acautelado. Com a apreensão do material na terceira busca dentro da unidade, o secretário de Administração Penitenciária, Fernando Veloso, determinou a transferência dele para o presídio de segurança máxima Laércio da Costa Pellegrino, Bangu 1, também em Gericinó, no último dia 28, junto com Tunay.
"Foram três ações da corregedoria no Joaquim Ferreira de Souza, na cela e na galeria do Glaidson. Em todas elas, os agentes encontraram algum material irregular. Não há dúvidas sobre o poder financeiro dele. Foi para manter a segurança do sistema prisional que o mandamos para Bangu 1. Não se trata de um castigo. A sua capacidade financeira o torna um preso que precisa de isolamento. Ele não pode transformar a prisão num bordel!", disse Veloso.
Segundo o secretário, não havia tempo para aguardar as conclusões das sindicâncias instauradas pela corregedoria contra Glaidson e servidores públicos que, supostamente, facilitaram a entrada de celulares e carnes "in natura" na cadeia em troca de vantagens financeiras. O diretor, o subdiretor e o chefe da segurança da unidade já foram exonerados dos cargos. Veloso afirmou ao GLOBO que o principal objetivo é investigar os crimes de corrupção passiva e ativa dentro da cadeia. Outra denúncia que está sendo apurada pelo setor é a entrada irregular de visitantes para conversar com o dono da GAS Consultoria, cinco dias depois dele ser preso. Há informações de que agentes penitenciários teriam exigido R$ 50 mil para a entrada de cada celular. Já o acesso ao preso teria custado R$ 10 mil, por pessoa.
"É inadmissível a entrada de objetos e de visitantes de maneira irregular na cadeia. O delegado da Polícia Federal responsável pelo caso do Glaidson nos consultou sobre a transferência do detento para um presídio federal e já demos parecer favorável", afirmou Veloso, que também é delegado da Polícia Civil.
No último mês, o G1 publicou que Glaidson, mesmo estando no período de quarentena, recebeu quatro pessoas no presídio, entre eles dois funcionários públicos e duas pessoas com quem o ex-garçom mantém negócios na GAS. Um dos servidores seria Luciano de Lima Fagundes Pinheiro, condenado a dois anos e meio de prisão por ligação com o tráfico de drogas e porte ilegal de arma. No livro de visitas da unidade prisional onde o ex-garçom estava preso, Luciano se apresentou apenas pelo prenome e deu um número de matrícula já desativado.
Luciano já trabalhou na Seap, sendo lotado no gabinete do subsecretário geral, Gilberto Mainoth, no período entre janeiro e maio deste ano. Atualmente, mesmo tendo sido condenado, ele está cedido para a Secretaria Estadual de Saúde, recebendo um salário de R$ 5 mil por mês. Luciano, de acordo com a reportagem, nega conhecer Glaidson.