Após caso de Bangu, secretaria quer protocolo sobre aeronaves em presídios
Fernando Veloso vai se reunir com representantes da Aeronáutica na semana que vem e não descarta pedir limitação no espaço aéreo
Quatro dias após criminosos tentarem resgatar um preso no Instituto Penal Vicente Piragibe , no Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, usando um helicóptero, o secretário de Administração Penitenciária (Seap) do Rio, Fernando Veloso, afirmou que vai se reunir na próxima semana com representantes da Aeronáutica para propor protocolos sobre a aproximação de aeronaves no entorno das unidades prisionais.
O chefe da pasta não descarta pedir uma revisão na limitação do espaço aéreo. Desde a última segunda-feira, a Polícia Civil trabalha para identificar quem era o detento que seria resgatado no último domingo por uma aeronave. Um dos suspeitos é o traficante Márcio Gomes de Medeiros Roque, o Marcinho do Turano.
"O espaço aéreo ali em Gericino é proibido de voo. Então, tem algumas delimitações. São cinco coordenadas geográficas que estabelecem inclusive a altitude, que são cerca de 1.500 pés, e o distanciamento, que deve dar mais ou menos 250 metros da extremidade do complexo. Ali é uma redoma. Então, estamos marcando para a próxima semana uma reunião com as autoridades aeronáuticas para tentarmos estabelecer um protocolo para aeronaves", disse Veloso ao GLOBO.
A ideia do secretário é criar um canal para que os agentes penitenciários que fazem a segurança nas muralhas, caso vislumbrem a aproximação de aeronaves, avisem aos órgãos aéreos a fim de que tomem medidas para impedir o acesso ao complexo. A Seap não descarta pedir o aumento da limitação do espaço aéreo.
"Queremos estabelecer um protocolo de como proceder na chegada de uma aeronave. Caso esse protocolo seja concretizado, no momento que um helicóptero ou avião ultrapassar o limite, os órgãos federais informarão ao piloto que ali é proibido sobrevoar e que ele tem que sair imediatamente", destacou o secretário.
Mais de 1.700 câmeras
Veloso afirmou que as imagens de mais de 1.700 câmeras em todo o complexo estão sendo analisadas para identificar quem seria o preso beneficiado com a tentativa de resgate. O secretário disse que uma primeira análise não identificou anormalidades. No entanto, ele destacou que a postura de Marcinho do Turano chamou a atenção da inteligência.
"Não tinha tumulto ou confusão. Mas, as posturas das pessoas recolhidas para as galerias eram uma postura diferente. Se eu não tivesse a notícia que uma aeronave estava tentando chegar lá, aquela postura seria esquisita mas não chamaria grande atenção. Quando você tem um grupo de pessoas que estão sendo transferidas para dentro da galeria, porque eles estão no semiaberto e estão entrando para serem trancados, e eles ficam postergando a entrada, isso chama a atenção. Em algum momento um deles sai de novo: o Marcinho do Turano, entra e sai novamente", contou Veloso.
Ainda de acordo com o secretário, uma porta que deveria ter sido trancada ficou aberta, o que chamou ainda mais atenção para a postura dos detentos de postergarem a entrada nas galerias.
"Quando fazemos uma análise de informação e dos horários, temos a cronologia passo a passo de quando a aeronave começa a se aproximar, da hora que eles começam a ser colocados para dentro e a porta deveria ser trancada e não foi. Então, esse postergar, esse movimento de não entrar, você percebe que as pessoas estão enrolando para não entrar, você nota uma situação de anormalidade", disse Veloso.
Além de Marcinho, outras três pessoas que estavam do lado de fora também estão sendo alvo de estudo da inteligência.
"Estamos trabalhando nas imagens. Outras três pessoas estavam do lado de fora (e isso chama a atenção). A inteligência está se debruçando nessas imagens. Queremos ter uma confirmação", disse.
Questionado sobre a possível transferência de outros presos para o regime fechado, o secretário desconversou. Já sobre o pedido de transferência, Veloso disse que trabalha em parceria com a Polícia Civil caso algum pedido de transferência seja solicitado:
"Esse é um processo que a Seap é ouvida. Temos uma sintonia muito boa com a Civil. Toda hora falamos com o (secretário) Allan (Turnowski) e trabalhamos juntos. Estamos fazendo isso de forma alinhada. As informações da Polícia Civil são importantes. Quando você mexe com cabeças de uma facção, você precisa estar alinhado para não criar uma desestabilidade. Para uma transferência, são feitos relatórios e podemos ou não concordar. Mas, nesse caso, estamos alinhados".
Engenheiros estão trabalhando em um projeto para a construção de novas barreiras para impedir o acesso de aeronaves no Vicente Piragibe, de acordo com o secretário.
"Fizeram um projeto inicial, mas eu achei muita coisa e que poderia demorar muito. Quero uma coisa simples que atinja o objetivo. Queremos estender cabos de aço entre postes em áreas de aproximação do presídio. Serão os cabos afixados em postes, e etc. Dentro de uma solução simples, queremos criar empecilhos para evitar esses tipos de situação".