Dois anos após ser flagrado num show com milicianos, o cabo Vinicius Castro de Oliveira foi submetido pela PM a um processo disciplinar que pode culminar na sua expulsão da corporação. Na madrugada de 7 de abril de 2018, Oliveira estava num sítio em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, que foi alvo de uma operação da Polícia Civil para prender Wellington da Silva Braga, o Ecko, chefe da maior milícia do Rio.
Na ocasião, 159 pessoas que estavam no local assistindo shows de pagode foram detidas. Oliveira foi um dos quatro PMs flagrados no sítio. Ele estava com duas armas — uma delas, uma pistola registrada em nome de outro PM, um sargento reformado. Os outros três policiais ainda estão sendo investigados.
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O PM teve a autorização para portar armas revogada e sua carteira funcional recolhida pela corporação. Segundo a decisão que submeteu o PM ao processo administrativo, "as atitudes do cabo Oliveira mostraram-se opostas àquelas ministradas e exigidas a todos os membros desta bicentenária corporação, expondo negativamente a imagem da Polícia Militar, servindo de mau exemplo aos seus pares e subordinados".
A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) pediu a transferência do cabo da UPP Nova Brasília, onde ele é lotado, por conta da submissão do cabo ao processo administrativo. Os outros três PMs que estavam no local são um sargento, um cabo e uma soldado — que até hoje é lotada no batalhão do bairro onde aconteceu o show, o 27º BPM.
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Na ocasião, a Polícia Civil foi ao local para checar uma denúncia de que Ecko e outros chefes da milícia estariam no sítio, situado na Rua Fernanda. Quando os agentes chegaram, houve troca de tiros, e quatro milicianos, seguranças de Ecko, foram mortos. Segundo a polícia, o chefe conseguiu fugir durante o tiroteio, pelos fundos do sítio. Foram apreendidos no local, nove fuzis — quatro de calibre 5.56 e cinco de calibre 7.62 — dez pistolas, cinco revólveres de calibre .38, 76 carregadores de armas de fogo de diversos calibres, 1.265 munições de diversos calibres, coletes balísticos e fardas da PM.
Das 159 pessoas que foram detidas naquela madrugada, nenhuma foi condenada pela Justiça. A maior parte dos capturados não tinha ligação com a milícia: eram moradores da região — dominada por paramilitares — que pagaram por seus ingressos e estavam no local para assistir aos shows de pagode.
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O Ministério Público só ofereceu denúncia contra 18 homens e, em agosto do ano passado, todos eles foram absolvidos. De acordo com a sentença, assinada pelo juiz Juarez Costa de Andrade, da 2ª Vara Criminal de Santa Cruz, "não foram os acusados presos na posse das armas e munições apreendidos, tampouco com o material utilizado pela milícia, sendo certo ainda que não foram flagrados em qualquer prática delituosa".