Delegado Olim
Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo
Delegado Olim

Antonio Assunção de Olim, é nacionalmente conhecido como Delegado Olim, o Policial que esteve à frente da resolução de vários casos históricos e emblemáticos da crônica policial brasileira.

O Delegado Olim é um veterano Policial Civil paulista, tendo ocupado diversos cargos operacionais e de chefia, desde Delegacias de Polícia territorial nas periferias de São Paulo, até departamentos especializados como o DEIC, DENARC, DHPP, DECAP e Delegacia do Aeroporto. Em 2014 ele entrou para a política, sendo eleito Deputado Estadual por São Paulo com expressiva votação.

O caso Jayce

No dia 10 de dezembro de 2006 João Nunes recebe a visita da esposa e filhos, que foram encontrá-lo numa das suas lojas de CD, na região da Rua Augusta, Zona Sul de São Paulo.

Ao se despedir, a mãe decide caminhar com as crianças pela tranquila rua Haddock Lobo, levando Jayce, de 6 anos no colo, e segurando a mão do seu irmãozinho, de 5 anos, ao seu lado. Ela não sabia que estava sendo seguida.

Num piscar de olhos dois homens armados atacam a mãe, arrancam Jayce dos seus braços e a colocam no banco de traz de um Corsa, que desaparece no trânsito. Começava aí o calvário da família.

Nessas situações, é grande a possibilidade de pessoas ligadas à família estarem envolvidas no crime, por terem acesso a informações privilegiadas, como a rotina da vítima, os bens materiais da família, as vulnerabilidades, horários, chaves, senhas, etc. Foi exatamente isso que acorreu nesse squestro.

Assim que a Divisão Antissequestro da Polícia Civil, comandada pelo Delegado Olim, assumiu o caso, as primeiras investigações apontaram diretamente para Eliete Pinheiros, 41 anos, a ex-babá que trabalhou para a da família.

Ao ser entrevistada pelos Policiais, ela demonstrou sinas claros de nervosismo e rapidamente caiu em contradições. Pressionada, ela confessou a participação no crime e entregou seu marido, José Augusto Martins Pires, 31, que também havia trabalhado para a família como segurança de uma casa noturna pertencente ao pai da Jayce.

Mas conseguir localizar o cativeiro de Jayce não foi um processo simples já que, por motivos de segurança, a quadrilha operava de forma compartimentalizada. Os marginais que fizeram o sequestro, e que conduziam as negociações, não sabiam a localização exata do grupo responsável pelo cativeiro.

Descoberta do cativeiro

No dia 17, oito dias após o sequestro, e faltando uma semana para o Natal, a Antisequestro consegue confirmar o local aproximado do cativeiro de Jayce, um apartamento dentro de um conjunto habitacional no bairro de Cidade Tiradentes, na Zona Leste paulista. Ao anoitecer, Olim decide dar início à operação de resgate.

“Sabíamos que Jayce estava num prédio perto de uma rua com uma grande bandeira do Brasil pintada num muro. Sabíamos também que uma das pessoas envolvida nesse crime era um cadeirante que levava a comida da menina, e que ele estava circulando pelo local”, relata o Delegado Olim.

Ao se aproximar da área alvo, os Policiais localizam o cadeirante e passam a interrogá-lo. Pressionado, o individuo sofreu uma cura repentina e passou a caminhar, levando as equipes do Delegado Olim para o prédio onde Jayce estava. Mas ele não sabia qual era o apartamento.

No processo de averiguação das dezenas de apartamentos, Jaqueline Oliveira Macedo, 19, a mulher que cuidava de Jayce no cativeiro, e que estava alimentando-a naquele momento, ouviu a movimentação da Polícia e rapidamente escondeu a menina num quarto, embaixo de uma cama, mandando ela ficar quieta.

Quando os Policiais entram nesse apartamento, a sequestradora  Jaqueline disse que estava só, e que havia acabado de jantar. Desconfiado, Olim pede para ela abrir a boca e nota que está limpa, sem nenhum resto de comida. O Delegado imediatamente ordena uma busca no local e acha Jayce.

A cena de Olim encontrando a pequena vítima é emocionante e virou um clássico nos casos de solução de sequestros. No final dessa ocorrência, cinco criminosos foram presos pela Divisão Antissequestro da Polícia Civil.

Veja o vídeo da libertação de Jayce e mais abaixo a conversa com o Delegado Olim

Qual o pior tipo de crime?
Sequestro é o crime mais cruel que existe, o sofrimento da vítima e da família é indescritível. O sequestrador é eminentemente um covarde que não merece nenhum respeito.

O que te impactou mais no caso do sequestro da Jayce?
O fato de ser uma criança. Isso é inaceitável, mexe com as emoções de qualquer um, mas também cria um senso de urgência ainda maior na resolução. No dia em que recebi a confirmação do local do cativeiro da Jayce, eu iria jantar com minha filha. Era impossível não fazer um paralelo. Após o resgate ser feito e a cena do crime estar controlada, liguei para minha filha para dar a boa notícia.

Ao prender em flagrante o sequestrador, como você concilia sua reação emocional, com a obrigação de seguir protocolos legais na conduta da prisão?
Isso é sempre complicado. Nos momentos que antecedem a invasão de um cativeiro, a adrenalina da equipe está elevada, tudo pode acontecer, você sabe que pode enfrentar sequestradores armados. Assim que a situação é controlada, a vítima é libertada e os criminosos presos, a emoção começa a aparecer, mas precisamos ter a cabeça no lugar. Se os criminosos não trocarem tiro com a Polícia, serão presos com seus direitos preservados. Se decidirem pelo confronto armado, vão sempre perder.

Como foi essa situação no caso da Jayce?
Quando encontrei a Jayce assustada embaixo da cama e a peguei no colo, tive uma onda de alegria muito intensa, mas ao mesmo tempo, quando passei ao lado da sequestradora e vi uma pessoa cínica, mentirosa e fria, veio um sentimento muito ruim. Também sou pai e me coloquei no lugar do pai e da mãe da Jayce, o sentimento é de muita revolta e dá vontade de moer uma pessoa tão ruim que tira uma menina de 6 anos da sua família. Mas somos profissionais e temos a cabeça no lugar, ela foi presa e todos protocolos legais foram seguidos.

Essa quadrilha está presa?
Pois é, isso causa revolta e espanto. Apesar deste ser um crime hediondo, a babá e a mulher que cuidava de Jayce no cativeiro já estão na rua. Essas são as leis que temos. Essas duas sequestradoras devem ter pego uns 12 anos de cadeia, mas em menos da metade do tempo foram soltas. Os mentores ainda estão presos, numa cadeia só para sequestradores em Presidente Venceslau (600km da São Paulo), pois possuem penas acumuladas de outros sequestros. Naquela época, a ação do Estado contra esse tipo de crime foi tão eficiente que aquela onda de sequestros acabou. Infelizmente a boa estrutura que desenvolvemos para evitar esse tipo crime, não foi mantida. Tínhamos uma equipe montada e redonda, muito eficaz, mas que acabou sendo desmontada. Coisa de quem pensa pequeno. Naquela época, esses criminosos podiam ficar presos em regime de segurança máxima por até 5 anos, mas no governo Lula isso foi reduzido para 1 ano para homens e 6 meses para mulheres.

O que falta para mudarmos nosso código criminal, adequá-lo à nossa realidade cada mais violenta?
Nosso sistema permite que Suzane Von Richtofen, condenada a 39 anos pelo assassinato do seu pai e da sua mãe, saia da cadeia no dia dos pais. Os Deputados Federais é que possuem a responsabilidade de fazer essas mudanças na lei, mas muitos são contra isso, e as propostas terminam por não passar. Um exemplo foi a tentativa de redução de maioridade penal que foi rejeitada. Eu abaixaria para 15 anos. A saída é se colocar legisladores em Brasília mais duros, com cabeça diferente e que tenham coragem de mudar essas leis. Outro caminho seria passar mais poder e autonomia para os Estados, como acontece nos Estados Unidos, para que cada um pudesse implementar leis de acordo com suas realidades. O que é importante para o Acre talvez não seja para São Paulo. Se isso acontecesse, aí sim eu e meus colegas Deputados Estaduais teríamos uma chance maior de atuar nesse problema.

"O Caso da Jayce foi muito cruel. As penas que os sequestradores foram condenadas são brandas e parte da quadrilha já está na rua. Isso está errado", finaliza o Delegado Olim.

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