A cena foi tão bizarra que as pessoas andando na calçada ficaram estáticas. Uma picape estaciona no meio da rua, bloqueando a rota do caminhão blindado da transportadora de valores, e de dentro saem quatro indivíduos abrindo fogo com uma metralhadora antiaérea e três fuzis automáticos de combate.
Leia também: Um dia na vida de um Policial de ROTA
O carro-forte, escoltado por duas Chevrolet Blazer pretas, freia bruscamente dando um giro de 180 graus para evitar os tiros, mas inesperadamente seus veículos de escolta fecham a rota de fuga do caminhão blindado. Treze homens, portando fuzis e explosivos, desembarcam e transformam o carro-forte no alvo de uma intensa artilharia.
As Blazers, eram parte de uma ação coordenada de uma quadrilha especializada em assaltos a carros-fortes. A quantidade de disparos simultâneos dos 16 fuzis automáticos e da metralhadora antiaérea dos terroristas urbanos é tão grande, que os tiros formam quase que um estrondo contínuo.
Para não serem assassinados, os quatro vigilantes do carro-forte precisam fugir, graças a mais uma das nossas burlescas e patéticas leis. Esses corajosos profissionais são obrigados a defender o património de terceiros, e suas próprias vidas, usando ridículos revólveres calibre .38 de seis tiros e uma escopeta calibre 12.
Enquanto treze criminosos fazem o bloqueio total da rua, outros quatro explodem a porta do carro forte. A ação dos terroristas urbanos funciona como planejado. Só que não. Sem nenhum deles se dar conta, o seu pior pesadelo estava prestes a se materializar numa dura realidade.
Silenciosamente, cinco viaturas cinza escuro da Polícia Militar, com um grande “R” branco pintado nas suas portas dianteiras, se aproximam do local. Os vinte e cinco PMs da temida e respeitada ROTA, Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, observam os assaltantes transferindo os malotes de dinheiro para os carros de fuga, avaliam a situação tática, se posicionam e dão voz de prisão aos criminosos.
Leia também: Enquanto a Anistia Internacional critica, a ROTA segue cumprindo sua missão
Como qualquer bandido que é surpreendido pela Polícia Militar cometendo um crime, esses dezessete profissionais da morte possuem duas opções de reação: se entregar ou reagir. Parte do bando, usando um pouco da inteligência que ainda lhes resta, opta pela primeira. Eles são algemados e colocados na traseira das viaturas de ROTA. O resto do bando comete o erro de abrir fogo contra os Boinas Negras do Batalhão Tobias de Aguiar. Esses também são algemados, mas colocados na traseira de ambulâncias para receber cuidados médicos de emergência.
A ocorrência termina, mas nem as viaturas de ROTA, nem as ambulâncias saem do lugar. Ao invés disso, os criminosos desembarcam, têm suas algemas retiradas e confraternizam com os Policias, com os seguranças do carro-forte e com equipe médica do resgate. Esses “bandidos” eram PMs das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar.
Simulação Pública x Treinamento Real
“Essa é a segunda simulação que convidamos o público e a imprensa. A primeira foi uma explosão de caixas eletrônicos realizada na Avenida Paulista, e a terceira está a caminho, todas refletindo situações atuais de agressão à segurança pública. O objetivo é mostrar à população a complexidade e dinâmica dessas ocorrências, e nossa capacidade em enfrentá-las”, diz o Comandante da ROTA, Tenente Coronel PM Ricardo de Mello Araújo.
Leia também: O crime ataca e a ROTA prende. A Justiça solta e ativistas criticam a ROTA...
Mello Araújo ressalta que essas iniciativas também são uma demonstração de força para enviar um recado claro para a criminalidade: em São Paulo a Polícia Militar está pronta, e que a ROTA é uma Tropa bem treinada, bem equipada e motivada. Ele complementa dizendo que:
“A Policia Militar não deseja nem procura o confronto, mas se os bandidos optarem pelo enfrentamento, vão sair perdendo. Os índices de letalidade dependem do criminoso e não da Polícia. O criminoso que se rende é preso e seus direitos previstos em lei são sempre preservados. Já aquele que abre fogo contra a Polícia, irá sofrer as consequências previstas na mesma lei”.
O treinamento de assalto a carro-forte, montado e coordenado pelo Capitão PM de ROTA Rogério Nery Machado, foi composto por algumas fases. Na simulação apresentada ao público, a atuação dos criminosos foi interpretada com detalheis reais, incluindo o uso de múltiplos carros, perseguição em alta velocidade, explosões, usos de fuzis e disparos de uma metralhadora (usando munição de festim, como em todas as outras armas deste exercício).
Já as ações da ROTA, mostradas para a população, foram simplificadas sem a aplicação do rigor operacional de uma missão real, para não expor ao crime as táticas e estratégias dos Boinas Negras. A etapa do treinamento real aconteceu dias antes em ambiente fechado, sem a presença de civis, onde foram testados vários procedimentos operacionais em múltiplos cenários.
Leia também: Curso de Direção Policial: use as técnicas da ROTA para dirigir seu carro
“São os contínuos programas de treinamentos e técnicas operacionais que habilitam os PMs de ROTA a sempre superar e prevalecer contra o criminoso, mesmo se ele tiver um poder bélico superior. Um Policial de ROTA vale por três ou quatro bandidos. Como qualquer Comandante, sempre quero dar mais treinamento e os melhores equipamentos para meus Policiais”, explica o Comandante Mello Araújo.
Outras Forças Policiais também são incentivadas e convidadas a participar desses treinamentos como observadores. O Subtenente PM de ROTA José Carlos “Pirata” Ferreira explica: “Aproveitamos essas ocasiões para receber várias Forças de Segurança que acompanham os procedimentos operacionais da ROTA, e depois levam esses conhecimentos técnicos para suas bases. Hoje temos Policiais de várias cidades do interior de São Paulo, de outros estados da federação e também representantes das nossas Forças Armadas”.
Armas do Velho Oeste
Em função de uma legislação fraca e ultrapassada, o crime organizado percebeu que nossos legisladores continuam trabalhando a seu favor, ao lhes dar uma oportunidade incrível de roubar enormes quantidades de dinheiro com baixíssimo risco: assaltando carros-fortes. Enquanto os criminosos usam rifles, metralhadoras, fuzis e explosivos, as empresas de transporte de valores são restritas, por lei, a usar revólveres .38 e escopetas calibre 12, armas da época do velho oeste.
“O criminoso sempre busca o que é mais fácil. Nesse caso, uma grande quantidade de dinheiro transportada sem a segurança adequada. Os funcionários das transportadoras de valores são bem treinados e destemidos, eles poderiam reduzir esse tipo de ocorrência sem a interferência da PM, mas são proibidos de portar equipamentos condizentes com a realidade do crime de hoje. Para os assaltantes não existem leis, eles usam armamento de guerra de altíssimo poder ofensivo, como a metralhadora calibre .50, que perfura facilmente a blindagem de um carro-forte. Duas dezenas de bandidos contra quatro vigilantes, nessas condições, é uma situação desproporcional, fora da realidade e que torna fácil a vida dos fora-da-lei”, continua dizendo o Comandante da ROTA Mello Araújo.
Veja abaixo o vídeo do treinamento, por Erik Florio:
Além de atuar diariamente no patrulhamento ostensivo e em ações de resposta rápida à crimes em andamento, a ROTA desenvolve uma série de operações preventivas contra a criminalidade, tendo como alvo os grandes distribuidores de drogas e a apreensão de armamentos de alto poder ofensivo.
Tipicamente essas missões nascem do trabalho de coleta de informações do Setor de Inteligência da ROTA. São ações planejadas em detalhes e com antecedência e muitas vezes contam com o apoio de outras áreas especializadas da Policia Militar, como o Comandos e Operações Especiais (COE) e o Canil da PM.
Nossa legislação faz sentido?
É justo dar um revólver .38 para um pai de família, e exigir que ele defenda o patrimônio alheio e sua própria vida, sabendo que vai se deparar com dezenas de assassinos armados com fuzis e metralhadoras? Por que os criminosos agem com tanta liberdade e facilidade? Porque é fácil e porque punição é branda.
A nossa legislação de segurança pública está errada. Entre as inúmeras idiotices que os legisladores nos brindam, como a infame audiência de custodia, a mal feita progressão de pena e a inacreditável não prisão em primeira instância (para citar apenas algumas), a imposição para vigilantes de carros-fortes usarem apenas revólveres calibre .38 de seis tiros, é um dos destaques do vergonhoso rol de leis absurdas que possuímos.
É possível mudar estas e tantas outras aberrações usando seu título eleitoral. Lembre-se, essas leis foram feitas, e podem ser desfeitas, por políticos eleitos democraticamente. Basta não eleger os mesmos mentirosos, corruptos, ladrões e quebradores de promessas de sempre, que boa parte do problema será resolvido.
Antes de votar, conheça em detalhes quem são os candidatos, no que eles acreditam, o que defendem e o que praticam. A rota
do nosso país mudará para melhor.