Esta semana aconteceram dois fatos que possuem uma incrível e triste conexão. O primeiro é a homenagem que o Alto Comando da ROTA faz para os melhores Policiais do mês. O segundo foi a nota que a Anistia Internacional do Brasil publicou, exigindo uma investigação rigorosa sobre a morte de 10 pessoas.
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Vou colocar rapidamente em contexto o que a Anistia Internacional tem a ver com a ROTA e você poderá tirar suas conclusões.
Anistia Internacional
No começo desta semana, a senhora Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil, disse que: “Não podemos aceitar com naturalidade que uma ação da polícia resulte em dez pessoas mortas. Isso não é política de segurança pública adequada. É fundamental que se investigue esse caso para responsabilizar eventuais ações ilegais por parte dos policiais” (texto completo da Anistia Internacional do Brasil no fim deste artigo).
As “dez pessoas mortas”, às quais a senhora Jurema se refere, faziam parte de um bando de criminosos procurados pela justiça, que vinham aterrorizando moradores de São Paulo há meses.
As “eventuais ações ilegais por parte dos policiais”, que a senhora Jurema cita mais adiante, aconteceram quando estes dez terroristas urbanos foram surpreendidos pela Polícia Civil invadindo uma residência e portando fuzis de combate. Eles decidiram enfrentar a lei e abriram fogo contra os Policiais. Todos agressores morreram.
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Homenagem da ROTA
Em setembro de 2016, Daniel Veloso foi assassinado. Durante um ano, o Senhor Jones Rogério Veloso, pai de Daniel, pediu ajuda para várias autoridades e organizações. Nada aconteceu. Há um mês, cansado e frustrado, ele decidiu recorrer à ROTA. Relatou o caso na manhã do dia 3 de agosto. Na tarde do mesmo dia o assassino foi localizado em Itapevi, interior de São Paulo, e preso. (leia a matéria desse caso aqui)
Nesta quarta-feira (6) a ROTA homenageou a equipe de seus PMs que efetuou essa prisão relâmpago, e convidou o Senhor Jones e seu filho Adriano de 13 anos, para participarem da cerimônia. Eu também tive a honra de participar deste evento. Visivelmente abalado e emocionado, o Senhor Jones disse:
“A ROTA confiou e acreditou em mim. Eles prenderam o algoz do meu filho que ficou solto por um ano. Isso não vai trazer meu filho de volta, mas dá um conforto, uma sensação de justiça para nossa família. Após esse dia nós conseguimos dormir um pouco melhor de noite, usando menos calmantes. Tivemos o amparo da Polícia Militar. A ROTA entrou no nosso coração e na nossa família. Todos os dias oramos pela Polícia”
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Mais tarde, quando saí do Quartel da ROTA, foi inevitável fazer a conexão entre esses dois fatos. Por que a senhora Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil não tomou a iniciativa de convidar o Sargento PM Cleyton, O Cabo PM Ivair, o Cabo PM Freitas o Soldado PM Diego e o Senhor Jones para fazer lhes fazer uma homenagem na sede da empresa que ela trabalha?
Além da nota que Jurema assinou criticando a Polícia Civil, será que ela também escreveu, assinou e enviou 102 cartas de condolências para as famílias dos Policiais cariocas assassinados neste ano (até 8 de setembro), e outra carta aberta exigindo justiça, melhores salários e condições de trabalho para os Polciais brasileiros?
Para tentar responder à essas perguntas, acessei a página da Anistia Internacional do Brasil na internet. Neste ano, até o dia 8 de agosto, encontrei 29 campanhas que a Anistia do Brasil patrocina: 3 pedindo doações para eles mesmos, 9 sobre temas do Brasil e o resto sobre: México, Finlândia, Turquia, Chile, Jamaica, Chechênia, Venezuela, Paraguai, Estados Unidos, Síria, Cuba e América Central.
Não encontrei nenhuma campanha sobre os 102 Policiais cariocas assassinados. Na verdade, não há nenhuma campanha sobre nenhum Policial assassinado no Brasil. E claro, nenhuma campanha sobre as famílias que são destruídas por criminosos, como a do Senhor Jones Rogério Veloso.
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Íntegra da nota da senhora Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil
A ação da Polícia Civil em São Paulo, que resultou em 10 pessoas mortas no fim da noite de domingo 03 de setembro, deve ser rigorosamente investigada. A polícia em São Paulo, assim como em outros estados brasileiros, tem um histórico de alta letalidade em suas operações e há inúmeros casos documentados de execuções extrajudiciais e uso excessivo ou desnecessário da força letal que resultam em mortes que poderiam e deveriam ter sido evitadas e que não aconteceram em um contexto de "legítima defesa". Diante deste histórico conhecido do padrão de atuação da polícia e do alto número de mortos neste episódio do último domingo, é fundamental que uma investigação imparcial e exaustiva seja feita imediatamente para identificar se houve ou não uso excessivo da força ou abusos por parte dos policiais envolvidos. A ação da polícia também não deveria ser considerada "um sucesso". O papel da polícia não é matar e uma intervenção que resulte em dez pessoas mortas não pode ser considerada referência de eficiência ou sucesso da ação policial. O combate ao crime, fundamental para a garantia de segurança pública para todas as pessoas, não é incompatível com a garantia de direitos humanos e o respeito ao devido processo legal. Ao contrário, uma polícia que age com excessos ou na ilegalidade só contribui para o aumento da violência como um todo, alimentando uma espiral e um ciclo vicioso que coloca a todas as pessoas em risco, inclusive os policiais no exercício das suas funções. O Ministério Público, que tem o papel de exercer o controle externo da atividade policial, deve investigar prontamente a ação da Polícia Civil neste caso."Não podemos aceitar com naturalidade que uma ação da polícia resulte em dez pessoas mortas. Isso não é política de segurança pública adequada. É fundamental que se investigue esse caso para responsabilizar eventuais ações ilegais por parte dos policiais. Mas, acima de tudo, é necessário repensar as estratégias de ação da polícia para que isso não se repita. A ação da polícia de combate ao crime deve ser planejada de forma a proteger e preservar a vida de todas as pessoas, inclusive aquelas envolvidas em atos ilícitos ou suspeitas de cometerem crimes", afirma Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil.