João Cândido Felisberto nasceu, em 24 de junho de 1880, em Encruzilhada, no Rio Grande do Sul, na fazenda Coxilha Bonita, que ficava no vilarejo Dom Feliciano. Ele era filho de escravizados (João Felisberto e Inácia Cândido Felisberto).
Ao longo da história do Carnaval, muitos nomes emblemáticos da história do Brasil foram homenageados. E o próximo a ter sua vida e feitos contados na Sapucaí será João Cândido, o Almirante Negro, presente no enredo da Paraíso do Tuiuti. Em meados de 1910, o militar da Marinha de Guerra do país liderou a Revolta da Chibata e marcou de vez seu nome na história.
João Cândido Felisberto nasceu, em 24 de junho de 1880, em Encruzilhada, no Rio Grande do Sul, na fazenda Coxilha Bonita, que ficava no vilarejo Dom Feliciano. Ele era filho de escravizados (João Felisberto e Inácia Cândido Felisberto).
Quando completou treze anos, começou a frequentar a Escola de Aprendizes da Marinha. Isso aconteceu com uma recomendação de atenção especial, escrita por um velho amigo e protetor de Rio Pardo. O então capitão-de-fragata Alexandrino de Alencar, que assim o encaminhou àquela escola.
Naquele contexto, a Marinha era a corporação que mais incluía os jovens excluídos por grande parte da sociedade, muitos deles negros. João Cândido conseguiu o cargo de grumete , um tipo de aprendiz de bordo, responsável por ajudar os marinheiros nos diferentes trabalhos.
João teve uma carreira extensa de viagens pelo Brasil e por vários países do mundo nos 15 anos que esteve na ativa da Marinha de Guerra (17 anos, se contar os 2 anos de prisão, após a Revolta). Embarcou em viagens de instrução, no começo recebendo instrução, e depois dando instrução de procedimentos de um navio de guerra.
Foi enviado ao Reino Unido para testar o novo navio chamado Minas Gerais. Em 1909, João Cândido também para lá foi enviado, onde tomou conhecimento do movimento realizado pelos marinheiros russos em 1905 a bordo do couraçado Kniaz Potemkin Tavricheski. Onde reivindicavam melhores condições de trabalho e alimentação.
João também foi indicado por duas vezes para representar o "Deus Netuno" na travessia sobre a linha do equador, e muito elogiado pelos oficiais, por seu bom comportamento. Tornou-se, então, a pessoa mais indicada para liderar a revolta.
Diante disso, pediu ao então presidente Nilo Peçanha (1867-1924), o fim da chibata, que era utilizada como castigo dentro da Marinha brasileira. O ato havia sido abolido em um dos primeiros atos do regime republicano, em 1889, assinado pelo presidente marechal Deodoro da Fonseca. Porém, seguia acontecendo internamente.
Na época, um contingente de 90% de negros e mulatos, centenas de marujos continuavam a ter seus corpos retalhados pela chibata, como no tempo da escravidão. Além disso, os marinheiros estavam insatisfeitos com os baixos soldos, com a má alimentação e, principalmente, com os degradantes castigos corporais.
Nas eleições presidenciais de 1910, vencidas pelo candidato situacionista marechal Hermes da Fonseca, expressaram o descontentamento da sociedade com o regime vigente. Além das denúncias de fraude e violação de urnas nos bairros em que ele não tinha maioria de simpatizantes.
Após o fim das tentativas pacíficas dos marinheiros, eles decidiram que iriam fazer uma sublevação, uma revolta pelo fim do uso da chibata em 25 de novembro de 1910. Isso inclui a audiência de João Cândido no Gabinete do presidente anterior, Nilo Peçanha, e na presença do ministro da Marinha, Alexandrino de Alencar, que de nada adiantou.
Menos de uma semana após a posse do marechal Hermes da Fonseca, o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes foi punido a 21 de novembro com 250 chibatadas. Elas foram aplicadas na presença de toda a tripulação do Encouraçado Minas Gerais, nau capitânia da nova Esquadra.
Com esse estopim, houve uma insurreição no navio Minas Gerais. Em torno de 2.000 marinheiros apontaram os canhões em direção ao Rio de Janeiro. João Cândido se tornou uma celebridade, como o Almirante Negro. Um homem negro que foi contra ao sistema escravista que era reproduzido dentro da Marinha.
A rebelião terminou com o compromisso do governo federal em acabar com o uso da chibata na Marinha e de conceder anistia aos revoltosos. Contudo, em 28 de novembro, dia seguinte ao desarmamento dos navios rebelados, o governo promulgou um decreto permitindo a expulsão de marinheiros que representassem risco.
Descumpriram, então, o que havia sido acordado pelo texto da lei de anistia aprovada no dia 25 pelo Senado da República e sancionada pelo presidente Hermes da Fonseca. Conforme publicação no diário oficial de 26 de novembro, e levado ao Minas Gerais pelo capitão Pereira Leite.
Eles alegaram que um novo motim entre os fuzileiros navais, ligados à Marinha, no quartel da ilha das Cobras, quebrou o acordo. No entanto, não tinha ligação com a Revolta da Chibata, e o local era usado para deixar marinheiros sob castigo.
João Cândido foi expulso da Marinha e preso em 13 de dezembro no quartel do exército. Transferido no dia 24 de dezembro de 1910 para uma masmorra (cela 5) na Ilha das Cobras, onde dezesseis de seus dezessete companheiros de cela morreram asfixiados.
Em abril de 1911, foi transferido para o Hospital dos Alienados, como louco. Contudo, recebeu alta e voltou para a Ilha das Cobras, de onde foi solto em 1912. Além de absolvido das acusações juntamente com nove companheiros.
Na época, o seu defensor foi o rábula Evaristo de Moraes, contratado pela Ordem de Nossa Senhora do Rosário e dos Homens Pretos, que declinou o recebimento dos honorários que lhe eram devidos.
Nos quinze anos em que permaneceu na Marinha, foi castigado em nove ocasiões, preso entre dois a quatro dias em celas solitárias "a pão e água". Além de ter sido duas vezes rebaixado de cabo a marinheiro.
Banido da Marinha, João Cândido sofreu grandes privações, vivendo precariamente, trabalhando como estivador e descarregando peixes na Praça XV, no centro do Rio de Janeiro
João também teve um abalo profundo em sua vida pessoal. Sua segunda esposa (1928) cometeu suicídio.
Em 1933, aderiu à Ação Integralista Brasileira, movimento nacionalista fundado em 1932 pelo escritor Plínio Salgado. Chegou a ser o líder do núcleo Integralista da Gamboa, bairro portuário da cidade do Rio de Janeiro. Muitas personalidades na época aderiram ao Integralismo: o líder negro Abdias Nascimento e o bispo Dom Hélder Câmara.
Discriminado e perseguido pela Marinha até o final da vida, recolheu-se no município de São João de Meriti, onde aproximou-se da Igreja Metodista. Passou mal em casa e foi levado ao Hospital Getúlio Vargas, na capital do Rio de Janeiro, onde morreu em 6 de dezembro de 1969, aos 89 anos, vítima de câncer.
Quanto mais a Marinha tentava impedir, mais João Cândido se tornava um herói nacional. Mesmo que desconhecido por muitos e não valorizado como deveria, o marinheiro obteve o perdão oficial dado pelo Estado brasileiro. Algo que foi concedido em 2008 no Senado, mas sem direito à indenização póstuma.
Mesmo com resistência, o Almirante Negro foi considerado Herói da Pátria por Brasília em 2021 e continua a inspirar a luta contra a opressão e a luta antirracista no Brasil.
Diante da importância do homenageado, a Paraíso do Tuiuti vem para o carnaval de 2024 com a missão de contar a história do marinheiro João Candido, o Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata, em 1910. O carnavalesco Jack Vasconcelos disse que a agremiação que reforçar o nome de João como herói do povo brasileiro.
"O propósito do enredo é esse (reconhecimento). O propósito do enredo é a gente colocar o João Candido no lugar de herói brasileiro, que é devido", disse o carnavalesco ao G1.
Uma das maiores homenagens que João Cândido recebeu depois de sua morte foi a música de João Bosco e Aldir Blanc, intitulada Mestre Sala dos Mares, de 1974. A canção foi gravada pela primeira vez pela cantora Elis Regina