Símbolos nacionais da Austrália , os cangurus estampam até moedas do país. Além de todo o simbolismo, o animal é protagonista de um problema de manejo populacional: estimativas do governo australiano divulgadas em 2023 apontam que o número de indivíduos da espécie chega entre 40 e 50 milhões - quase o dobro da população de humanos do país, estimada em 28 milhões.
Apesar de a imagem dos cangurus estar atrelada de forma carinhosa ao imaginário mundial, os números impressionam e levantam questões sobre equilíbrio ambiental e políticas de controle populacional desses animais.
Em entrevista ao iG, a bióloga Iasmin Macedo, presidente do Instituto Últimos Refúgios, explicou que cangurus são protegidos por lei na Austrália, mas a caça para controle populacional é permitida e regulada pelo governo.
"O abate dos animais é controlado e existe uma indústria que consome a carne e o couro do animal. É um uso sustentável que acaba sendo necessário".
Iasmin explicou que no cenário atual, a medida é a mais viável para o bem dos próprios animais.
"As pessoas acham que é crueldade, mas para a população de cangurus que permanece, o controle é importante. Sem ele, há uma disputa desenfreada por recursos, o que acaba sendo prejudicial para os próprios animais. Nesse caso, a intervenção humana se torna necessária."
A carne e o couro dos cangurus são amplamente utilizados, tanto comercialmente na Austrália quanto internacionalmente. Segundo informações da organização People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), a pele de canguru é usada na fabricação de itens esportivos de marcas como a Nike .
A carne de canguru também é vendida para o consumo humano e para alimentação de animais de estimação, valorizada por seu baixo teor de gordura e alto valor proteico.
Iasmin explicou que cangurus são marsupiais, portanto, animais que possuem uma bolsa (marsúpio). Segundo ela, o que os diferencia de outros mamíferos é a sua forma de desenvolvimento.
"Eles nascem prematuros e terminam o desenvolvimento fora do útero, no marsúpio ou presos às mamas da mãe", diz.
Marsupiais do Brasil
Embora os cangurus sejam exclusivos da Austrália, o Brasil também abriga espécies de marsupiais. Entre os mais conhecidos estão os gambás (com 4 espécies diferentes), as cuícas e catitas (mais de 60 espécies).
Iasmin, que é a idealizadora do Projeto Marsupiais, uma iniciativa do Instituto Últimos Refúgios que atua na conservação dos marsupiais brasileiros, explicou que os marsupiais brasileiros estão espalhados por todos os biomas do país e também em ambientes urbanos.
"Principalmente os gambás, que são animais onívoros e oportunistas, ou seja, comem de tudo. Se aproveitam do que tem disponível. Existem algumas cuícas que estão se adaptando também ao ambiente urbano e têm aparecido vez ou outra."
De acordo com a bióloga, os marsupiais brasileiros contribuem para o equilíbrio ecológico e ajudam no controle de pragas urbanas.
"Eles se alimentam de espécies que trazem certo prejuízo, como pragas e animais perigosos como escorpião, serpentes, entre outros. Esses animais também se alimentam de frutos e dispersam suas sementes e promovendo o reflorestamento."
Qual a diferença entre marsupiais brasileiros e australianos?
Apesar de cangurus e gambás serem marsupiais, existem diferenças que vão além da aparência dessas espécies. Segundo Iasmin, os marsupiais estão na Terra desde a época do Cretáceo, a mesma em que viviam os dinossauros.
A bióloga explicou que, no passado, os marsupiais existiam nas Américas e migraram para a Austrália via a região da Antártida.
"Após congelamento, as espécies se isolaram, o que levou à diferenciação entre os indivíduos das Américas e os da Oceania."
De acordo com Iasmin, os marsupiais brasileiros são pequenos. O maior é o gambá, ou a cuíca-d’água, mas dificilmente ultrapassam dois quilos.
"Em casos excepcionais, um gambá muito grande pode chegar a três quilos, mas a média é de dois a dois quilos e meio."
Em comparação, um canguru-Vermelho, pode atingir mais de 2 metros de altura e é o maior marsupial vivo.