A pior enchente da Espanha neste século já deixou mais de 150 mortos e dezenas de desaparecidos desde a noite de terça-feira (29), quando choveu o equivalente a um ano em apenas oito horas . As principais áreas atingidas foram em Valência, na região Leste.
Uma brasileira moradora da cidade, a fisioterapeuta Helen Lidiane Schimidt, de 37 anos, viu a água subir e descer da janela do próprio apartamento, em La Torre. A entrevista foi feita pelo g1.
As consequências do temporal histórico são vistas nas ruas , já que a água baixou e corpos são encontrados pelas autoridades, além de centenas de carros empilhados. Na rua onde Helen mora, oito pessoas morreram afogadas em uma garagem.
Corpos ainda estão sendo encontrados
"É uma situação nova para nós. A gente não sabe o que vai acontecer nos próximos dias. Eu pensava que hoje já ia poder ir trabalhar, mas parece que hoje está pior do que ontem, porque estão encontrando os mortos. Não sei como vai ser nos próximos dias", contou a brasileira.
Helen vive há cinco anos na região com o marido, que é espanhol. Eles residem no último andar de um prédio, de onde viram a tragédia. Na rua, a água subiu por volta das 21h de terça-feira e baixou algumas horas depois. Um alerta foi emitido para o telefone dela cerca de uma hora antes da enchente, apesar de a área não estar contemplada no chamado.
"Quando recebi a mensagem do alerta no meu telefone, a primeira coisa que fiz foi mandar um áudio no grupo de família, dizendo para eles que, se saísse alguma notícia, que eles não ficassem preocupados, porque a minha zona não era afetada", afirma.
Mesmo com o impacto do fenômeno, a moradora afirma que em nenhum momento ficou sem água ou luz. Os prejuízos dela são contabilizados na garagem, que ficou inundada. O carro, a bicicleta e itens da dispensa foram atingidos.
De acordo com Helen, as ruas ainda acumulam barro, que é retirado pelas autoridades e pelos vizinhos. O governo pediu para a população evitar sair na rua, que estão cheias de entulhos. "Já não tem água no mercado. As pessoas estão roubando. Muita gente não esperava que ia encher muito do jeito que encheu, e por isso pegou muita gente de surpresa", diz.
O temporal
De acordo com meteorologistas espanhóis, a intensidade das chuvas está associada ao aumento da temperatura no mar Mediterrâneo, onde se localiza a costa de Valência. Cientistas relacionam esse tipo de evento às mudanças climáticas, que também foi responsável por uma seca severa no início deste ano na Espanha.
Apesar de serem comuns tempestades nessa época do ano, a força e a recorrência do fenômeno se intensificaram no final de outubro. A enchente foi considerada a maior a atingir a região nas últimas décadas, segundo a Agência Meteorológica Espanhola. A tragédia já mobilizou mais de mil soldados das unidades de resgate de emergência da Espanha na busca por corpos e sobreviventes.