Samuel Feldberg* 

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, mudou de ideia no ultimo momento e discursou na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York. Aproximadamente uma hora antes de um ataque devastador, que arrasou o centro de comando do Hezbollah, em Beirute, Netanyahu declarou que Israel deseja a paz, mas continuará lutando até a vitória.

Benjamin Netanyahu em discurso na ONU
Reprodução/Youtube
Benjamin Netanyahu em discurso na ONU


O governo israelense enfrentou inúmeras pressões ao longo do último ano; teve que lutar na Faixa de Gaza para eliminar o Hamas e tentar libertar os reféns presos pela organização terrorista, foi forçado a evacuar mais de 60 mil habitantes do norte do país por temor de que os terroristas do  Hezbollah repetissem o ataque de 7 de outubro, teve que absorver o lançamento de dezenas de milhares de mísseis e foguetes contra o território israelense e teve que lidar com a hostilidade internacional que acusou o país da prática de genocídio, apesar de Israel ter sido a vítima de ataques indiscriminados.

Netanyahu foi à ONU para dar alguns recados muito claros: Israel não se curvará a pressões, nem de seus aliados mais próximos e não cederá até que seus objetivos sejam atingidos. E se no sul o objetivo declarado da guerra é libertar os reféns e garantir que o Hamas deixe de ter qualquer capacidade operativa na região, no norte o objetivo é mais modesto: implementar a Resolução 1701 das Nações Unidas, de 2006, que proíbe o Hezbollah de manter forças próximas da fronteira israelense.

E depois de anos de discursos hostis de seu líder Nasrallah, na última semana Israel demonstrou que não é frágil como a teia de aranha com que foi comparada. Ações da inteligência israelense feriram e mataram milhares de terroristas no Líbano, especialmente do alto escalão e nesta sexta feira a força aérea do país bombardeou inúmeros alvos no Líbano, destruindo bases de lançamento de foguetes, depósitos de munição e o quartel general em Beirute onde talvez até o líder supremo tenha sido morto.

Netanyahu se referiu à história do povo judeu, ao fato de que por milênios os judeus foram perseguidos e massacrados, mas agora há um exército israelense que pode defende-los. Mas que o mundo insiste em discriminar o estado judeu, acusando de genocídio e de crimes de guerra o país que luta para defender suas fronteiras e seus cidadãos.

Quanto tempo os Estados Unidos tolerariam que uma cidade do Texas fosse tomada por terroristas e esvaziada, perguntou Netanyahu? Provavelmente nem um dia. E isso é o que vem acontecendo ao longo de todo um ano em toda a fronteira norte do país.

Responsabilizando o Irã pela ação de seus “pupilos”, Netanyahu exibiu dois mapas que chamou de maldição e benção. A maldição estava representada pelo Irã, Síria e Iraque e a benção pela Arábia saudita e os países do Golfo, signatários dos Acordos de Abraão. E apresentou as opções disponíveis para os membros da ONU: segurança e prosperidade para o Oriente Médio e o resto do mundo, ou a escolha do Irã que os levaria a uma era sombria de terror e guerras.

Na sequência, veio a ameaça: aqueles que nos atacarem, serão atacados. E a demanda pela reimposição de sanções contra o Irã, pela violação do das normas de seu programa nuclear, algo que sempre está na pauta dos discursos de Netanyahu e é visto por Israel como uma ameaça existencial.

Netanyahu ainda referiu-se ao discurso de Mahmoud Abbas, líder da Autoridade Palestina, que pediu a expulsão de Israel das Nações Unidas, se recusa a condenar o ataque de 7 de outubro e gasta milhões de dólares pagando salários a terroristas presos e pensões aos familiares daqueles que foram eliminados.

Por fim, não poupou as Nações Unidas que caracterizou como um ”pântano antissemita” em que Israel é automaticamente condenada por uma maioria hostil.

 A mensagem de Netanyahu foi clara: Israel continuará a atuar da forma como entender necessário, contra o Hamas, o Hezbollah e o Irã, a Síria e os Houthis . E o sucesso dos recentes ataques no Líbano demonstram que nem sempre a diplomacia é o melhor caminho. A derrota da Alemanha nazista e do Estado Islâmico parecem estar norteando a política israelense no último ano, com amplos resultados.

 * Samuel Feldberg é diretor acadêmico do StandWithUs Brasil, doutor em Ciência Política pela USP, professor de Relações Internacionais,  Pesquisador do Centro Moshe Dayan da Universidade de Tel Aviv e fellow em Israel Studies da Universidade de Brandeis.

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