Uma França dividida está votando em eleições parlamentares de alto risco que podem ver o partido anti-imigrante e eurocético de Marine Le Pen chegar ao poder numa estreia histórica.
LUDOVIC MARIN / AFP
Uma França dividida está votando em eleições parlamentares de alto risco que podem ver o partido anti-imigrante e eurocético de Marine Le Pen chegar ao poder numa estreia histórica.

Neste domingo (30), os franceses votam no primeiro turno das eleições parlamentares antecipadas de alto risco, que podem fazer com que o partido da extrema direita de Marine Le Pen assuma o poder pela primeira vez na história.

Com a guerra da Rússia contra a Ucrânia em seu terceiro ano e os preços da energia e dos alimentos muito mais altos, o apoio ao partido anti-imigração e eurocético União Nacional (RN) aumentou apesar das promessas do presidente Emmanuel Macron de impedir sua ascensão.

A votação poderá colocar a extrema direita no poder na França pela primeira vez desde a ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

As seções eleitorais abriram em toda a França continental às 8h00 (06h00 GMT) e fecharão 12 horas depois, seguidas imediatamente por projeções que geralmente preveem o resultado com certo grau de precisão.

Os eleitores nos territórios ultramarinos da França, espalhados por todo o mundo, votaram no início do fim de semana. Cerca de 49 milhões de pessoas estão aptas a votar.

“Estas eleições não são fáceis, os resultados são muito incertos e as repercussões podem ser graves para a sociedade”, disse Julien Martin, um arquitecto de 38 anos da cidade de Bordéus, no sudoeste do país.

Eleitores fizeram fila para votar no território francês da Nova Caledônia, no Pacífico, onde as tensões continuam altas após os tumultos mortais do mês passado.

A votação é “decisiva”, disse Cassandre Cazaux, enfermeira.

“Deve ter uma boa participação, mas não sei se todos vão concordar e votar”, acrescentou Cazaux.

Ao meio-dia, hora local, a participação no arquipélago, que está localizado entre a Austrália e Fiji, era de 32,4%, em comparação com 13,06% registados durante as eleições legislativas de 2022.

O ex-presidente Nicolas Sarkozy, a líder do Partido Verde, Marine Tondelier, e o ex-primeiro-ministro e aliado de Macron, Edouard Philippe, estavam entre os primeiros políticos de destaque a votar.

Philippe, prefeito de Le Havre, no norte da França, que não escondeu suas ambições à presidência, foi visto sorrindo e conversando com moradores locais na manhã de domingo.

As eleições para as 577 cadeiras na Assembleia Nacional são um processo de dois turnos. O formato do novo parlamento ficará claro após o segundo turno em 7 de julho.

A maioria das pesquisas mostra que o RN está a caminho de conquistar o maior número de assentos na Assembleia Nacional, a Câmara baixa do Parlamento, embora ainda não esteja claro se o partido garantirá a maioria absoluta.

As pesquisas de opinião finais deram ao RN entre 35% e 37% dos votos, contra 27,5-29% da aliança de esquerda Nova Frente Popular e 20-21% do campo centrista de Macron.

Se o RN obtiver a maioria absoluta, o chefe do partido, Jordan Bardella, o protegido de Le Pen, de 28 anos e sem experiência de governo, poderá se tornar primeiro-ministro numa tensa “coabitação” com Macron.

Muitos analistas dizem que a França está enfrentando uma Assembleia sem maioria, o que pode levar a um impasse e instabilidade política.

"Luta contra o ódio"

A decisão de Macron de convocar a votação antecipada após o forte desempenho do RN nas eleições para o Parlamento Europeu neste mês surpreendeu amigos e inimigos e provocou incerteza na segunda maior economia da Europa.

A bolsa de valores de Paris sofreu a maior queda mensal em dois anos em junho, caindo 6,4%, segundo dados divulgados na sexta-feira.

Em um editorial, o diário francês Le Monde disse que era hora de se mobilizar contra a extrema direita.

“Ceder-lhe qualquer poder significa nada menos do que correr o risco de ver tudo o que foi construído e conquistado ao longo de mais de dois séculos e meio ser gradualmente desfeito”, afirmou.

Empunhando esfregões e baldes, várias ativistas do coletivo feminista Femen, vestidas como faxineiras, manifestaram-se no sábado com os seios nus no Trocadero, em Paris, entoando slogans contra a extrema direita.

Separadamente, mais de 100 mil pessoas se juntaram a uma marcha do Orgulho LGBTQ em Paris, algumas delas carregando cartazes dirigidos à extrema direita.

“Penso que é ainda mais importante neste momento lutar contra o ódio em geral, em todas as suas formas”, disse Themis Hallin-Mallet, estudante de 19 anos.

Aumento do discurso de ódio

Muitos apontaram para um pico de discurso de ódio, intolerância e racismo durante a campanha carregada. Um vídeo de dois apoiadores do RN agredindo verbalmente uma mulher negra se tornou viral nos últimos dias.

Macron deplorou "racismo ou antissemitismo".

Ele esperava pegar os oponentes políticos desprevenidos ao apresentar aos eleitores uma escolha crucial sobre o futuro da França, mas observadores dizem que ele pode ter perdido sua aposta.

O apoio ao campo centrista de Macron ruiu, enquanto os partidos de esquerda deixaram as suas disputas de lado para formar a Nova Frente Popular, numa homenagem a uma aliança fundada em 1936 para combater o fascismo.

Analistas dizem que os esforços de anos de Le Pen para limpar a imagem de um partido cofundado por um ex-membro da Waffen SS estão dando resultado.

O partido prometeu aumentar o poder de compra, coibir a imigração e promover a lei e a ordem.

Macron manteve sua decisão de convocar eleições ao mesmo tempo em que alertou os eleitores de que uma vitória da extrema direita ou da extrema esquerda poderia desencadear uma "guerra civil".

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