5 questões que explicam a escalada de violência no Equador

O país tem passado por uma intensificação da violência nos últimos dias. O presidente equatoriano Daniel Noboa declarou estado de exceção de 60 dias. Mas por que o Equador está com tamanho índice violência?

Ondas de violência

A situação do Equador não é nova, mas tem mostrado uma faceta mais intensa em 2024. Segundo a professora de Relações Internacionais da FESPSP e pesquisadora do Observatório de Regionalismo, Flavia Lossa de Araujo, há casos de violência promovida pelos cartéis de drogas há anos.

Flavia Lossa de Araujo

“Eu diria que são várias ondas de violência no país andino nos últimos anos: tivemos o assassinato de 43 presidiários pelo cartel Los Lobos em 2022; o assassinato do prefeito da cidade portuária de Manta, Agustín Intriago em julho de 2023; em agosto, o então candidato à presidência, Fernando Villavicencio, foi morto pelos Los Lobos. Os episódios deste início de 2024 são ainda mais intensos.”

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1. Narcotráfico

Como uma das principais questões que justificam a violência no país andino, temos a disputa territorial promovida pelo narcotráfico. O Equador tem se tornado um lugar fértil para o processamento e distribuição da cocaína para os Estados Unidos e Europa.

Narcotráfico

Dentre os carteis que se destacam nesta disputa estão Los Lobos e Los Choneros, ambos braços equatorianos de cartéis mexicanos que utilizam dos portos do país andino para ampliação da venda.

Reprodução / TV Band - 11.01.2024

Narcotráfico

De um lado, temos Los Lobos, que é o braço equatoriano do grande cartel mexicano Jalisco Nueva Generación. Do outro, Los Choneros, que tem laços estreitos com o cartel mexicano Sinaloa.

Reprodução%3A Redes Sociais

Narcotráfico

A intensificação dos ataques surge dois dias após a fuga do líder do grupo Los Choneros, José Adofo Macías. Conhecido como Fito, o criminoso foi condenado a 34 anos de prisão em 2011 por crimes como narcotráfico e homicídio.

Reprodução/Forças Armadas do Equador

2. Condições geográficas

Araujo explica que o Equador “possui excelentes condições para essa atividade: baixa repressão das forças de segurança e posição geográfica privilegiada para o escoamento dos entorpecentes para os principais mercados”.

Reprodução/EducaBrasil

3. Infiltração do narcotráfico na política

O coordenador do Departamento de Estudos Políticos da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais do Equador (FLACSO), Edison Hurtado, acrescenta que esses cartéis acabam conseguindo se infiltrar nas camadas mais altas da política, o que dificulta o seu combate.

Reprodução/X

Edison Hurtado

“É especialmente preocupante o caso do ‘Gran Padrino’, que envolve a venda de cargos públicos no círculo próximo ao governo de Guillermo Lasso, seu cunhado Danilo Carrera e os vínculos com grupos de narcotráfico.”

Reprodução/Twitter

4. Crises políticas

Além de uma luta contra o narcotráfico, o Equador precisa travar crises internas no sistema político. Em agosto de 2023,o então presidente Guilherme Lasso anunciou que anteciparia as eleições presidenciais, que ocorreriam apenas em 2025. Com isso, a Assembleia Nacional foi dissolvida. O anúncio gerou motins nas prisões, escalando até a morte do candidato à presidência Fernando Villavicencio.

Reprodução/Governo do Equador

Crises políticas

Daniel Noboa acabou sendo eleito e herdou um país fragilizado economicamente, com uma taxa de 27% da população na pobreza, com o sistema de segurança pública em crise e com apenas 1 anos e 4 meses para governar.

Isaac Castillo-Presidencia del Ecuador - 16.12.2023

5. Segurança pública

Tanto Araujo quanto Hurtado são categóricos em dizer que há uma falta de investimentos na segurança no país.

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Segurança pública

Hurtado explica que a quebra do sistema de políticas de segurança pública começou quando, como medida de ajuste do governo neoliberal de Lenin Moreno, o Ministério da Justiça e o Ministério do Interior foram desmantelados.

Reprodução

Edison Hurtado

“As fontes de financiamento público para a polícia foram cortadas e, principalmente, capacidades estatais em inteligência e prevenção foram eliminadas. Se o Estado não garante um funcionamento mínimo da segurança, era previsível que não conseguisse controlar as prisões ou até mesmo reparar viaturas policiais”, explica o professor equatoriano.

Reprodução/Twitter

Segurança pública

No governo de Lasso, a política se manteve, nomeando, segundo o Hurtado, “pessoas totalmente inexperientes no campo da segurança, como Diego Ordoñez”, que até teria um plano para solucionar o problema, mas que nunca chegou a mostrá-lo ou executá-lo.

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Flavia Lossa de Araujo

“Faltam investimentos em segurança pública que permitam a ação preventiva e de inteligência. Possivelmente seria possível prevenir e combater essa escalada da violência, mas faltam recursos. Além disso, existem indícios de envolvimento de forças de segurança com os criminosos, situação que agrava ainda mais esse cenário”, afirma a professora da FESPSP.

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O que fazer?

Para Hurtado, há uma necessidade clara de reestabelecer as capacidades mínimas de inteligência e ação armada do país, para que se recupere o controle dos territórios tomados pelo narcotráfico. Outro ponto-chave é a limitação de medidas que abram margem para a lavagem de dinheiro no país.

Reprodução%3A Redes Sociais

Edison Hurtado

“Uma questão-chave é limitar a lavagem de dinheiro e as desregulamentações financeiras deixadas pelo governo do banqueiro Guillermo Lasso, especialmente aquelas políticas que favorecem o funcionamento de paraísos fiscais. Existem interesses comuns entre capitais financeiros legítimos (bancos) e ilegais (drogas) para facilitar o controle limitado dos fluxos financeiros”.

Reprodução/Twitter

O que fazer?

Araujo explica que é necessário esperar e observar quais passos serão tomados pelo governo de Noboa, que já fez um decreto presidencial reconhecendo o estado de “conflito armado interno” no país.

Isaac Castillo-Presidencia del Ecuador - 16.12.2023

Flavia Lossa de Araujo

“Precisamos acompanhar qual será a estratégia adotada e os recursos mobilizados. Um ponto interessante é que o decreto estabelece que essas operações devem ser executadas respeitando os Direitos Humanos, mas não sabemos como isso será possível.”

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Veja o vídeo de brasileiro sequestrado no Equador

Reprodução / Facebook

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