O presidente francês, Emmanuel Macron, expressou veementes objeções ao acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, classificando-o como antiquado e "mal remendado".
A declaração ocorreu neste sábado (2) após um encontro bilateral com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a COP 28 em Dubai.
As negociações entre Mercosul e União Europeia estavam em estágio avançado, com o governo brasileiro buscando finalizar o acordo na próxima semana, antes da posse do novo presidente argentino, Javier Milei, conhecido por suas críticas ao Mercosul.
O acordo, negociado desde 1999 e envolvendo 31 países, propõe a isenção ou redução de impostos de importação. No entanto, Macron argumentou que a versão atual vai na contramão com as políticas ambientais e ambições do Brasil.
“E é justamente por isso que sou contra o acordo Mercosul-UE, porque acho que é um acordo completamente contraditório com o que ele [Lula] está fazendo no Brasil e com o que nós estamos fazendo [...] Não leva em conta a biodiversidade e o clima dentro dele. É um acordo comercial antiquado que desmantela tarifas”, pontuou.
O presidente francês enfatizou que o acordo vai impor esforços significativos aos agricultores e indústrias francesas na redução de emissões de carbono, enquanto eliminaria tarifas para produtos que não seguem as mesmas regras ambientais.
Em resposta às críticas de Macron, Lula afirmou que o presidente francês tem o direito de expressar seu ponto de vista e destacou o histórico protecionista da França. O petista reiterou o compromisso do Brasil em se posicionar como líder na agenda verde global.
“Cada país tem o direito de ter uma posição. A França sempre foi o país mais duro para se fazer acordos, porque a França é mais protecionista. Não é a mesma posição da União Europeia”, posicionou-se Lula.
Este não é o primeiro impasse envolvendo a França nas negociações Mercosul-UE. Questões ambientais já foram anteriormente levantadas, com Macron se opondo ao acordo em 2019 devido a preocupações sobre o compromisso ambiental do Brasil.
Questões como compras governamentais e a nova lei europeia do desmatamento foram apontadas como pontos de dificuldade nas negociações. Enquanto a União Europeia buscava uma participação equitativa de empresas em licitações governamentais, o Brasil defendia a retirada desse ponto.
Na sexta (1º), Lula se reuniu com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para discutir o acordo. Von der Leyen manifestou o comprometimento da União Europeia em superar as barreiras e concretizar o acordo, apesar dos desafios enfrentados.