A trégua na guerra entre Israel e Hamas, que completa seis dias nesta quarta-feira (29), tem permitido que mais ajuda humanitária acesse a Faixa de Gaza em comparação com os dias em que os bombardeamentos estavam acontecendo. A ajuda, porém, ainda acontece em quantidade bem inferior à necessária para cessar a crise humanitária que o enclave enfrenta.
A trégua teve início na sexta-feira (24) e, inicialmente, duraria quatro dias. Na segunda-feira (27), o prazo foi estendido por mais dois dias. Agora, as negociações estão em curso para uma nova extensão do cessar-fogo e da troca de prisioneiros.
Enquanto a população de Gaza vive um respiro por não ter que lidar por alguns dias com os constantes bombardeios israelenses, alguma ajuda humanitária tem entrado no enclave.
De acordo com a rede televisiva Al Jazeera, 750 caminhões de ajuda entraram em Gaza entre sexta-feira e terça-feira (28), uma média de 150 por dia. O número é superior ao que vinha sendo registrado durante os bombardeios, mas bastante inferior ao mínimo necessário.
Segundo relatou a agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) à Al Jazeera, seriam necessários 200 caminhões de ajuda por dia durante dois meses para que as necessidades básicas da população local fossem supridas.
Além disso, seria necessária a liberação da entrada de combustível, ainda proibida por Israel, para que a ajuda fosse devidamente distribuída e geradores de hospitais e sistemas de dessalinização de água pudesse funcionar. Atualmente, um dos grandes problemas em Gaza é a falta de acesso à água potável, fazendo com que os palestinos bebam água suja ou imprópria para consumo.
Mesmo esses 200 caminhões por dia são um número bastante inferior ao registrado em um cenário pré-guerra em Gaza. Desde 2007, o enclave vive sob o cerco de Israel, portanto a entrada de caminhões vindos do exterior com alimentos e itens básicos já era uma realidade. Segundo o escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA, na sigla em inglês), cerca de 500 caminhões acessavam Gaza por dia.
População deslocada
A situação humanitária em Gaza é ainda mais agravada por conta do colapso na rede de saúde e pelo grande deslocamento da população. Segundo estimativas da ONU, cerca de 1,7 milhão de palestinos deixaram suas casas desde o início da guerra, o que representa 80% da população local.
As famílias se deslocaram em busca de locais teoricamente mais seguros, como escolas, hospitais e abrigos humanitários. Além disso, Israel ordenou a a evacuação do norte de Gaza, que vivia uma invasão por terra de militares israelenses antes da trégua. Muitos palestinos, portanto, migraram para o sul.
Embora Israel afirme que o sul é uma zona segura, fortes bombardeios atingiram a região antes da trégua. Segundo a UNRWA, "nenhum lugar é seguro em Gaza".
A agência da ONU, que abriga mais de 1 milhão de deslocados em suas instalações, afirma que os abrigos estão superlotados e em condições precárias. Em média, há um banheiro para cada 220 pessoas e um chuveiro para cada 4,5 mil pessoas. Isso acontece porque a maior parte das instalações não são originalmente abrigos - como escolas, por exemplo.
Algumas populações mais vulneráveis que não puderam se deslocar, como idosos, pessoas com deficiência e doentes, permaneceram no norte de Gaza, informa a imprensa local. Durante a trégua, alguma ajuda humanitária chegou à região, mas de forma bastante inferior à ajuda que chegou ao sul.
Quando a trégua começou, diversos palestinos tentaram voltar às suas casas no norte de Gaza, mas foram impedidos por militares israelenses . "A guerra não acabou", declarou o país na ocasião.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a crise humanitária é tão grave em Gaza que é possível que mais palestinos morram em decorrência de doenças relacionadas à fome, falta de tratamento adequado e injestão de água contaminada do que os que já foram mortos nos bombardeios. Desde o início da guerra, mais de 15 mil pessoas foram mortas em Gaza.