Exército de Israel prende médicos e diretor do maior hospital de Gaza

Profissionais da saúde foram detidos durante comboio que visava evacuar feridos do hospital al-Shifa; entenda

Entrada do hospital al-Shifa
Foto: Marwan Sawwaf/Alef MultiMedia/Oxfam - 10/10/2023
Entrada do hospital al-Shifa

O exército de Israel prendeu Muhammad Abu Salmiya, diretor do Hospital al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza, e vários outros médicos, de acordo com informações do próprio hospital obtidas pela AFP nesta quinta-feira (23). A prisão também foi confirmada nas redes sociais por um primo de Salmiya.

Os médicos viajavam em um comboio da Organização Mundial da Saúde (OMS) para transferir pacientes do hospital atacado para outros ao sul da Faixa de Gaza, quando foram parados e detidos pelas forças israelenses.

Desde o início da invasão terrestre em Gaza, o complexo hospitalar se tornou um dos maiores alvos do exército israelense. Na última semana, o  al-Shifa foi invadido por militares.

Nesta quinta-feira, o Ministério da Saúde de Gaza exigiu uma explicação da OMS sobre as prisões dos médicos. A pasta interrompeu a coordenação de evacuações de feridos com a OMS enquanto não houver um relatório explicando o que ocorreu.

"A Organização Mundial da Saúde ainda não nos enviou nenhum relatório que explique a situação, incluindo os números e nomes dos detidos", disse Ashraf al-Qudra, porta-voz do Ministério da Saúde, à imprensa local. "A impossibilidade de contatar al-Shifa significa que não sabemos quem foi preso. Há uma possibilidade de alguns desses detidos estarem mortos. Sabemos que as forças de ocupação são capazes disso".

Em comunicado à imprensa local, o Hamas disse que "denuncia veementemente" a prisão dos médicos, e pediu que organizações internacionais trabalhem em sua "libertação imediata".

O hospital al-Shifa se tornou um foco de ataques israelenses, enquanto o país afirma, sem provas, que o Hamas mantém sua central de controle em túneis no subsolo do complexo de saúde. Tanto o grupo quanto as lideranças médicas negam as acusações.

Desde que a ofensiva se iniciou no hospital, comboios têm realizado a evacuação de feridos e doentes. Segundo a rede televisiva Al Jazeera, as poucas equipes médicas que permaneceram no al-Shifa afirmam que há ainda cerca de 180 pacientes lá dentro.

Israel intercepta comboios

Nesta quarta-feira (21), o Crescente Vermelho Palestino afirmou que um comboio que visava evacuar 190 feridos e doentes, seus familiares e equipes médicas do hospital al-Shifa para o sul foi "obstruído e submetido a uma inspecão cuidadosa" no posto de controle israelense que separa o norte e o sul da Faixa de Gaza. A inspeção fez com que a viagem durasse quase 20 horas, o que "colocou em perigo a vida dos feridos e doentes", segundo o Crescente Vermelho.

"Além disso, três paramédicos e um acompanhante de um ferido foram detidos, este último e dois paramédicos foram posteriormente libertados, enquanto o terceiro paramédico, colega Awni Khattab, ainda está detido até ao momento", informa a entidade.

A organização Médicos sem Fronteiras também confirmou que um comboio de evacuação foi atacado no último final de semana, matando um familiar de um membro da equipe. A morte foi confirmada nesta quarta.

"Nos últimos quatro dias, defendemos repetidamente junto das partes em conflito que permitissem a sua evacuação médica, mas não conseguimos obter as condições de segurança necessárias para o fazer. A equipe de MSF abrigada no mesmo prédio fez o possível para ajudá-lo", afirma a organização.