A israelense Yocheved Lifshitz, de 85 anos, umas das reféns libertadas pelo Hamas nesta segunda-feira (23) disse a jornalistas nesta terça-feira (24) que viveu "um inferno". Ela foi a primeira refém do grupo a falar com a imprensa desde o início da guerra.
"Passei por um inferno. Nunca pensamos que chegaríamos a esse estado", diz ela. Yocheved conta que membros do Hamas invadiram o kibutz que ela vive, a colocaram em uma motocicleta e dirigiram até Gaza. "Eles não se importaram em sequestrarem idosos e crianças", relata.
A mulher diz, ainda, que continua revendo as imagens da invasão do kibutz em sua mente, e que a situação foi "extremamente dolorosa".
Depois de chegar em Gaza, Yocheved conta que os membros do Hamas levaram os reféns por túneis com chão molhado e muita umidade, até chegarem a um salão, onde os sequestrados foram divididos em pequenos grupos de acordo com os kibutzim em que viviam.
"Eles nos disseram que acreditam no Alcorão, e que eles não iriam nos machucar e nos dariam as mesmas condições que eles tinham", relata ela. "Deitamos em colchões, eles cuidaram da questão sanitária. Eles garantiam que nós comessemos as mesmas comidas que eles. Um médico vinha a cada dois ou três dias para nos verificar. Um paramédico também estava lá e forneceu remédios", completa.
Questionada por jornalistas sobre os motivos pelos quais deu um aperto de mãos em um dos membros do Hamas quando foi libertada, Yocheved disse: "Eles eram gentis conosco, nossas necessidades foram atendidas".
A mulher disse que não sabe das condições de todos os reféns, mas apenas dos cerca de cinco que estavam junto com ela. Segundo Yocheved, a situação era mais difícil para um rapaz que foi ferido durante o sequestro, mas ela afirma que os médicos cuidaram dele e receitaram antibióticos, e que ele já havia melhorado quando ela deixou o cativeiro.
Em sua fala, a israelense ainda disse que os reféns ficaram "muito magoados pelo fato de que as Forças de Defesa de Israel [IDF, na sigla em inglês] não sabiam" dos ataques do Hamas no dia 7 de outubro. "Eles nos avisaram com três semanas de antecedência quando vieram pela estrada e queimaram campos. E as IDF não abordaram isso seriamente", afirma Yocheved.
Segundo Israel, o Hamas ainda mantém cerca de 220 reféns . Nesta segunda-feira, o ministro da Energia de Israel, Israel Katz, disse ao jornal alemão Bild que o país não atrasará a ofensiva por terra na Faixa de Gaza para tentar negociar a libertação de reféns com o Hamas.
"Israel fará de tudo para levar os reféns para casa, mas isso não poderá atrasar as operações, incluindo a entrada por terra, se decidirmos fazê-lo. O Hamas quer que foquemos nos reféns para que o Exército não entre e destrua suas infraestruturas.
Isso não acontecerá", disse ele.