EUA sabiam da tentativa de revolta do Wagner contra o Kremlin, diz CIA

Diretor da CIA afirmou que a tentativa de rebelião prejudicou a imagem de Putin enquanto líder

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Líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin

Os Estados Unidos tinham informações antecipadas sobre a  tentativa de rebelião do Grupo Wagner contra a alta cúpula militar do Kremlin, no mês passado, confirmou o diretor da CIA, o serviço secreto de inteligência norte-americano.

William Burns disse que o motim reacendeu questionamentos internos sobre a capacidade de julgamento do presidente da Rússia, Vladimir Putin, que teria, segundo ele, paralisado diante da tentativa de rebelião.

Burns fez a declaração durante o Fórum de Segurança de Aspen, no Texas (EUA), enquanto vende a ideia de que a rebelião prejudicou a imagem de Putin enquanto liderança. 

O diretor da CIA afirmou que os serviços de segurança russos, as Forças Armadas e os tomadores de decisão "pareciam estar à deriva".

Segundo Burns, muitos russos que estavam assistindo à tentativa de rebelião e acostumados com a imagem de Putin como árbitro de ordem se perguntavam: "Será que o imperador não tem roupas?", disse ele, acrescentando: "Ou, pelo menos, 'por que ele está demorando tanto para se vestir?'"

Na ocasião, ele confirmou que os EUA sabiam previamente que a ação poderia acontecer. Na visão dele, já era previsto que Putin tentaria separar o grupo do então líder, Yevgeny Prigojin, para preservar a capacidade de combate do Wagner.

De acordo com o diretor da CIA, por mais que Prigojin estivesse improvisando os passos de como ocorreria a revolta "à medida que avançava", a relevância do líder estava "escondida à vista de todos".

Ele ainda afirmou que o vídeo em que Prigojin aparece criticando o Kremlin e vai contra o principal argumento usado pela Rússia para a invasão à Ucrânia foi assistido por um terço da população russa.

"Esse vídeo foi a acusação mais contundente da justificativa de Putin para a guerra, da condução da guerra, da corrupção no núcleo do regime de Putin que eu já ouvi de um russo ou de um não russo", disse Burns, acrescentando que ficaria surpreso se o ex-líder dos mercenários "escapasse de mais retaliações" após a rebelião.

"O que estamos vendo é uma dança muito complicada entre Prigojin e Putin",  afirmou. "Acho que Putin é uma pessoa que geralmente pensa que a vingança é um prato que deve ser servido frio, portanto, ele tentará resolver a situação na medida do possível."

Relembre o caso

O Grupo Wagner ameaçou invadir a capital russa e se dirigiu a Moscou no último dia 23,  até que um acordo foi anunciado no dia seguinte.

No último dia 24, o  porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou que houve negociações entre as partes, mediadas pelo governo de Belarus, e um acordo foi alcançado com o grupo. Ele acrescentou que "evitar derramamento de sangue é mais importante do que perseguir alguém criminalmente".

Nenhum dos membros do Grupo Wagner que participaram da rebelião será alvo de perseguição criminal. Os mercenários que não aderiram à revolta serão integrados ao Ministério da Defesa russo.

Na ocasião, também foi acordado que Prigozhin se exilasse em Belarus, país aliado de Moscou, e deixar o front na Ucrânia e em São Petersburgo.