A Rússia transferiu secretamente mais de US$ 300 milhões a partidos e candidatos políticos estrangeiros em mais de 20 países desde 2014, ano da ocupação da Crimeia, para ganhar influência, revelou um documento da inteligência dos Estados Unidos divulgado nesta terça-feira (13).
Segundo o governo americano, as estimativas seriam "mínimas" em comparação com o que Moscou provavelmente pode ter repassado secretamente em casos não detectados. A relação de países beneficiados, porém, não foi divulgada.
A avaliação foi feita no momento em que o regime de Vladimir Putin estaria se preparado para contar cada vez mais com seus meios de influência para tentar minar as sanções internacionais por causa da guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro.
Um alto funcionário do governo de Joe Biden divulgou os detalhes do documento em uma teleconferência, enquanto o Departamento de Estado enviou um comunicado assinado pelo secretário de Estado, Antony Blinken, a várias embaixadas e consulados dos EUA no exterior, muitos deles na Europa, África e Sul da Ásia, expressando preocupação.
O telegrama contém uma série de "pontos de discussão" que os diplomatas dos EUA terão que debater com os governos sobre a suposta interferência russa.
A revelação provocou pânico, especialmente na Europa, e surgiu às vésperas das eleições legislativas da Itália, onde parte do debate político se concentra nas sanções ocidentais e na postura em relação a Putin.
O relatório não indica especificamente os partidos e políticos beneficiados e, de qualquer forma, não é a primeira vez que a inteligência dos EUA denuncia uma campanha de influência com financiamento russo a partidos nacionalistas, antieuropeus e de extrema-direita, o que representam cerca de 20% do Parlamento.
De acordo com um artigo publicado no jornal britânico Telegraph em 2016, as agências de inteligência americanas coletaram informações que mostrariam como o Kremlin estava influenciando alguns partidos políticos na Europa .
Na época, o Congresso americano havia atribuído a tarefa de controlar o financiamento russo nos últimos 10 anos aos partidos europeus, uma missão ainda em andamento. Mesmo assim, algumas forças políticas na França, Holanda, Hungria, Áustria, República Tcheca e Itália acabaram na mira, incluindo o ultranacionalista Liga, do ex-ministro do Interior Matteo Salvini, que nega envolvimento.
Hoje, inclusive, o secretário do Partido Democrático (PD), Enrico Letta, disse que, após essa revelação, é preciso haver na Itália a "devida informação e clareza antes da votação".
"Antes de ir à votação, os italianos devem saber se os partidos políticos neste país foram financiados por uma potência, a Rússia, que hoje é contra e invadiu a Europa. Por isso, pedimos ao governo italiano que dê informação, que o Copasir [Comitê Parlamentar para Segurança da República] intervenha", acrescentou.
Para Letta, "é fundamental que a opinião pública saiba se há partidos políticos que se posicionaram a favor da Rússia porque foram pagos pela própria Rússia ao longo desta operação".
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