Uma investigação jornalística realizada durante 10 meses revelou nesta sexta-feira (26) que uma mulher de nacionalidade russa ficou infiltrada por anos como espiã na base da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Nápoles, na Itália.
A apuração, conduzida pelo jornal italiano "La Repubblica" em conjunto com o site de investigação Bellingcat, a revista alemã Der Spiegel e The Insider, reconstruiu a missão secreta daquela que é definida como "a protagonista da mais sensacional operação de inteligência realizada pela Rússia na Itália".
Trata-se de María Adela Kuhfeldt Rivera, de 30 anos, que dizia ser nascida no Peru e que tinha pai alemão. No entanto, investigações posteriores apontaram que o nome verdadeiro da mulher era Olga Kolobova e que se tratava da filha de um coronel do Exército de Moscou.
Segundo a reportagem, a espiã russa conseguiu ser inserida nos círculos de influência social de Nápoles para depois poder se infiltrar no pessoal da base da Otan e da Sexta Frota da Marinha dos Estados Unidos.
"O principal traço que liga ela aos serviços secretos de Moscou é o passaporte russo usado para entrar na Itália: pertence à mesma série especial usada pelas agentes da inteligência militar sob as ordens do Kremlin", diz o "La Repubblica".
No entanto, o jornal italiano informou que a "investigação não conseguiu reconstruir quais informações foram obtidas pela espiã, ou se ela conseguiu disseminar vírus nos telefones e computadores de seus amigos", mas sabe-se que "nenhum agente russo jamais conseguiu penetrar tão profundamente" com funcionários de alto escalão da Otan e da Marinha norte-americana.
De acordo com a apuração jornalística, o paradeiro de Olga Kolobova se tornou desconhecido desde setembro de 2018, quando o Bellingcat e o The Insider divulgaram os nomes dos espiões russos que tentaram envenenar o agente Sergey Skripal. Na ocasião, ela deixou a região de Nápoles e seguiu em direção a Moscou, sem deixar rastros.
Após a divulgação da reportagem, a embaixada russa respondeu com uma caricatura irônica publicada em suas redes sociais. "Se você vê espiões russos em todos os lugares, talvez você leia demais o Repubblica", diz a legenda do desenho que mostra um homem sentado em um banco olhando desconfiado a supostos espiões que o cercam.
Em nota, o jornal italiano rebateu, afirmando que "a embaixada russa na Itália se baseia em uma caricatura sombria para zombar de nossa investigação sobre espionagem do Kremlin na Itália".
"Ao identificar nossos leitores com uma imagem que resume todos os estereótipos mais negativos sobre os italianos. Teria sido preferível receber comentários sobre nossas revelações detalhadas do embaixador Razov e seus colaboradores, para responder às perguntas legítimas sobre as atividades ilegais realizadas no nosso país da cidadã russa Olga Kolobova, também conhecida como Maria Adela Kuhfeldt Rivera, e por que Moscou está dedicando tantos recursos à espionagem da Itália", enfatizou o "La Repubblica" no comunicado.
Para o ex-premiê da Itália e secretário do Partido Democrático (PD), Enrico Letta, "as revelações do 'La Repubblica' sobre as atividades de espionagem russa na Itália são muito sérias" e "a embaixada russa deveria estar dando respostas em vez de reagir da maneira inaceitável como a que se expressou hoje". (ANSA)
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