China diz que lançou mísseis para testar capacidade de ataque

Mísseis do país cruzam ilha de Taiwan em ação sem precedentes, mas a maior demonstração de força de Pequim serão operações combinando forças aéreas e marítimas

China faz exercícios militares no continente
Foto: Reprodução - 01.08.2022
China faz exercícios militares no continente

No início de sua resposta militar à ida de Nancy Pelosi a Taiwan , a China quis deixar claro que fala sério e está disposta a ousar em suas ameaças à ilha autogovernada.

Segundo o Ministério da Defesa em Pequim, 16 mísseis balísticos foram lançados do continente , com o objetivo sucedido de tetar suas "capacidades de ataque de precisão e negação de área". A princípio, autoridades em Taipé se referiram a 11 projéteis que caíram sobre suas águas, em dois pontos diferentes.

Segundo autoridades de Tóquio, os demais cinco foram parar na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do Japão, a sul de Okinawa . As atividades militares de países estrangeiros nestas áreas constituem uma zona cinzenta do Direito Internacional, e não chegam a constituir uma ilegalidade.

Foi o Ministério da Defesa japonês — país que desenvolveu sofisticadas capacidades de monitoramento de mísseis desde os primeiros testes deste artefatos por parte da Coreia do Norte em 1998 — quem deu o primeiro informe, posteriormente confirmado por Taipé, da principal provocação chinesa no primeiro de seus dia de seus exercícios militares, previstos para durarem até domingo: quatro dos mísseis chineses cruzaram por cima da ilha de Taiwan.

A manobra surpreendeu observadores das Forças Armadas chinesas.

"Esta é uma ação sem precedentes. Eu pensava que Pequim guardaria essa opção como uma opção para depois, para intensificar a escalada, conforme fosse necessário", disse Brian Hart, especialista em China do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), em Washington. "Então isto corresponde a um grande acirramento bem cedo e não é um bom sinal do que pode vir".

Não está totalmente claro quais foram os sistemas usados pela China. O Ministério da Defesa do país disse que foram mísseis Dong-Feng 15 (também conhecido como DF-15), que podem atingir alvos a até 800 quilômetros com precisão de 10 metros, transportando até 600 quilos de explosivos.

É possível, no entanto, que outros equipamentos também tenham sido empregados — a princípio, se especulou também que o PCL 191, um sistema de lançadores múltiplos de foguetes (como o Himars, atualmente em uso pelas Forças Armadas da Ucrânia) tivesse sido usado.

A despeito do anúncio chinês de que os testes tiveram o objetivo de privar Taiwan de seu espaço aéreo e marítimo, monitoramentos por satélite mostraram que embarcações e aeronaves continuaram a circular por Taiwan durante as atividades.

Segundo o jornal taiwanês Liberty Times noticiou antes dos testes, os voos internacionais e domésticos não seriam afetados por contarem com rotas coordenadas com o Japão e as Filipinas. Concluído o exercício, o Ministério da Defesa da China informou que suspendeu as restrições aéreas e na costa.

A opção inicial pelos mísseis pode ser explicada porque estes sistemas são de fácil mobilização, estando em maior prontidão do que as capacidades marítimas e aéreas. Além disso, produzem impacto midiático e propagandístico, como as fotos e vídeos divulgados por Pequim.

Do ponto de vista militar, no entanto, não aportam grandes novidades. A exibição de fato dos músculos chineses, se forem acontecer, virá nos próximos: as atividades combinando armas no ar e no mar. Esses exercícios devem dar uma amostra de qual é a real capacidade chinesa de bloquear Taiwan.

"Estas serão manobras serão mais difíceis de ver do que os mísseis. Se conseguirem fazer um isolamento aéreo e naval, isso definirá um novo marco", disse o ex-analista da CIA no Leste Asiático e atual pesquisador do Atlantic Council John Culver, num painel do CSIS na manhã desta quinta-feira.

Após os testes de mísseis, o Ministério da Defesa de Taiwan disse que 22 jatos chineses cruzaram o estreito em frente à ilha, no segundo dia seguido em que isto acontece. Este tipo de manobra é comum, e o número de aeronaves ainda está muito abaixo do recorde de 70 registrado em janeiro. O quão perto elas se aproximarão da ilha, e durante quanto tempo cruzarão a linha que divide o estreito, serão fatores importantes a se observar.

As ações nos próximos dias podem incluir voos tripulados sobre a ilha, uma manobra altamente arriscada, pois as aeronaves podem vir a ser abatidas, o que gera um grande risco de acirramento. Uma opção mais segura é o envio de drones não tripulados sobre Taiwan.

Segundo autoridades chinesas, o Exército Popular de Libertação também enviou uma esquadra incluindo ao menos um submarino nuclear para os exercícios em andamento.

Segundo Culver, as tensões não devem se encerrar tão cedo, mas passarão para métodos menos visíveis, como ciberataques. A terceira e última crise no estreito se prolongou de junho de 1995 a março de 1996.

As ações chinesas, neste período, vão tentar caminhar em uma linha tênue: enquanto devem intimidar o bastante Taiwan, de modo a exibir sua disposição de usar força, não podem desencadear uma guerra ou motivar uma intervenção dos Estados Unidos.

"A resposta chinesa ainda é calibrada e calculada de modo a não deflagrar um conflito direto", disse William Klein, que já chefiou a embaixada americana em Pequim e atualmente está na consultoria FGS Global. "Da perspectiva ocidental, parece muito agressivo, mas os chineses consideram a resposta calibrada".

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