O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, demitiu o chefe do serviço de Inteligência doméstica do país, Ivan Bakanov, que é seu amigo de infância, e também a procuradora-geral ucraniana, Iryna Venediktova, alegando que erros de ambos permitiram a ação de centenas de traidores a favor da Rússia.
Os servidores públicos estavam entre os funcionários mais leais a Zelensky e ocupavam cargos poderosos. Enquanto autoridades há muito responsabilizam Bakanov por operações de inteligência malfeitas e falhas de segurança no início da guerra, como adiantou uma reportagem do site Politico em junho. Ainda não há informações sobre quais foram os erros específicos de Venediktova.
O agora ex-chefe de Inteligência, que comandava o Serviço de Segurança (SBU), uma das agências mais poderosas do país, foi nomeado no começo do governo, em agosto de 2019, e era visto há muito tempo como um dos aliados mais próximos de Zelensky.
Ele e o presidente se conhecem desde que cresceram no mesmo bairro em Kryvyi Rih, uma cidade na província de Dnipropetrovsk. Advogado por formação, Bakanov trabalhou como diretor para as produtoras de TV de Zelensky. Além disso, ele comandava a parte jurídica do partido de Zelensky, o Servo do Povo.
Segundo os Pandora Papers, vazados em outubro de 2019, Bakanov também era dono de algumas empresas offshore ligadas a Zelensky. Semanas antes da sua demissão, havia rumores de que Zelensky queria demiti-lo por erros em oferecer uma resposta adequada à invasão.
O decreto da demissão cita o “Artigo 47 do Estatuto Disciplinar das Forças Armadas da Ucrânia”, que se refere ao “não cumprimento das obrigações de serviço, que levou a baixas humanas ou outras consequências graves”, segundo a Ukrinform, uma agência de notícias ucraniana.
Zelensky disse que os desligamentos foram necessários porque centenas de traidores estavam entre os funcionários das entidades que os dois demitidos comandavam, provocando “perguntas muito sérias” sobre esses líderes.
"Até hoje, 651 processos criminais foram registrados por alta traição e atividades colaborativas de funcionários de promotorias, órgãos de investigação pré-julgamento e outras agências de aplicação da lei", disse Zelensky em um discurso uma hora após a oficialização da demissão. O presidente acusou a dupla de incompetência.
"Tal série de crimes contra os fundamentos da segurança nacional do Estado e as conexões que foram registradas entre os funcionários das forças de segurança da Ucrânia e os serviços especiais da Rússia colocam questões muito sérias a estes dois líderes", disse Zelensky.
No discurso, o presidente ucraniano fez referência, sem identificar pelo nome, ao caso de Oleh Kulinich, ex-vice-chefe da SBU na Crimeia. Segundo o jornal ucraniano Pravda, Kulinich, que foi demitido em 2 de março, nos primeiros dias da guerra, foi preso no sábado pelo Departamento de Investigação do Estado por vazar inteligência e informações classificadas para os serviços especiais russos.
Além disso, os casos de traição que Bakanov não teria inibido incluem dois generais de alto escalão do SBU, Andriy Naumov e Serhiy Kryvoruchko, demitidos em março porque "violaram seu juramento e traíram sua pátria", segundo o presidente.
O general Kryvoruchko, chefe da diretoria da SBU de Kherson, é acusado de ordenar que seus oficiais evacuassem a cidade antes que as tropas russas a atacassem, indo contra as ordens de Zelensky. Isto teria facilitado a conquista da cidade ao Sul, uma das maiores vitórias russas na guerra.
Outro acusado de traição é o coronel Ihor Sadokhin, que é acusado pelas autoridades de ter avisado as forças russas que se dirigiam ao norte da Crimeia sobre a localização das minas ucranianas e de ter ajudado a coordenar uma rota de voo para as aeronaves inimigas. Já as acusações contra procuradora-geral Venediktova, a primeira mulher a ocupar o cargo, ainda não estão claras.
Antes da guerra, ela sofreu fortes críticas de ativistas anticorrupção e da mídia, que a acusaram de não conseguir ir atrás de infratores de alto perfil, e acusaram seu Gabinete de não investigar denúncias de corrupção de pessoas próximas a Zelensky.
Desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia, ela se tornou a líder das investigações sobre crimes de guerra russos, e era considerada uma promotora muito leal ao presidente.
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