Oito candidatos vão disputar a partir desta quarta-feira o cargo de líder dos conservadores e, por consequência, a chefia do governo britânico após a renúncia do primeiro-ministro Boris Johnson na semana passada. Destes, cinco têm ascendência estrangeira, e a maioria votou a favor do Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, cuja campanha para o plebiscito de 2016 teve como uma das principais pautas o endurecimento da política de imigração no país.
São eles: Rishi Sunak e Suella Braverman, de ascendência indiana; Tom Tugendhat; de ascendência francesa; Nadhim Zahawi, curdo iraquiano; e Kemi Badenoch, de ascendência nigeriana. Além deles, também disputam o cargo Jeremy Hunt, Penny Mordaunt e Liz Truss.
Apesar de não haver um favorito claro, as casas de apostas indicam Sunak e Mordaunt como os dois principais candidatos, seguidos por Truss.
A primeira votação será realizada entre 9h30 e 11h30 desta quarta, e quem não conseguir 30 votos não passará para a próxima rodada, na quinta-feira. Se necessário, mais uma votação será realizada na segunda, para definir os dois finalistas da disputa. Após campanha durante o verão (no Hemisfério Norte), o novo premier britânico será anunciado em 5 de setembro.
Veja, abaixo, quem está na disputa:
Rishi Sunak
O ex-ministro das Finanças Rishi Sunak, o primeiro hindu a ocupar o cargo, já foi o grande favorito para suceder a Boris, mas teve sua legitimidade abalada por uma série de escândalos. Os casos giravam em torno do status fiscal vantajoso de sua bilionária esposa indiana, que lhe permitiu evitar o pagamento de milhões em impostos no Reino Unido, e a autorização de residência nos EUA que Sunak tinha até o ano passado.
Ex-analista do banco Goldman Sachs e funcionário de um fundo especulativo, casado com a filha de um magnata indiano, Sunak, cujos avós imigraram do Norte da Índia para o Reino Unido na década de 1960, acumulou uma fortuna pessoal substancial antes de se tornar um deputado, em 2015.
Defensor do Brexit, Sunak, de 42 anos, foi nomeado ministro das Finanças em 2020, um cargo importante em meio à pandemia, mas foi criticado por fazer pouco para combater a sufocante crise do custo de vida.
Sunak foi o primeiro membro do Gabinete a renunciar ao cargo, deflagrando uma debandada geral e levando à queda de Boris. Em sua carta pública de renúncia, mencionou as diferenças econômicas com Boris e criticou o comportamento do governo, o que pode lhe render novos fãs.
Jeremy Hunt
O ex-ministro de Relações Exteriores e Saúde Jeremy Hunt, de 55 anos, perdeu para Boris Johnson a liderança conservadora em 2019, apresentando-se como a alternativa "séria". Desde então, ele se prepara para concorrer novamente, construindo apoios e ficando fora do governo de Boris.
Hunt ganhou mais visibilidade ao questionar as políticas para conter a pandemia de Covid-19 do governo de Boris, no papel de chefe do Comitê Seleto de Saúde e Assistência Social britânico.
Colega de Boris e do ex-primeiro-ministro conservador David Cameron na Universidade de Oxford, Hunt, que ensinou inglês no Japão e é fluente em japonês, é presidente do Comitê Parlamentar de Saúde. Ele tem uma imagem de "cara legal", embora alguns o considerem sem carisma.
Liz Truss
Sem meias palavras e muito crítica aos movimentos de protesto "woke" — referente a uma percepção mais consciente das questões de justiça social —, a ministra das Relações Exteriores, Liz Truss, tornou-se muito popular nas bases do Partido Conservador, tentando se espelhar na ex-primeira-ministra conservadora Margaret Thatcher.
A mulher de 46 anos, que por uma década trabalhou nos setores de energia e telecomunicações, foi nomeada chefe da diplomacia como recompensa por seu trabalho como ministra do Comércio Internacional durante a saída britânica da União Europeia.
Nessa posição, a grande defensora do livre comércio que votou pela permanência na UE, antes de mudar de lado, conseguiu fechar uma série de importantes acordos comerciais pós-Brexit.
Tom Tugendhat
O presidente do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Comuns foi o primeiro a anunciar abertamente sua intenção de se candidatar se Boris renunciasse ou sofresse um impeachment. Tom é considerado um "centrista" e tem promovido sua candidatura como uma chance para um novo começo, buscando superar divisões no governo.
Filho de pai britânico e mãe francesa, Tom, de 48 anos, é ex-oficial do Exército britânico e serviu no Iraque e no Afeganistão.
Penny Mourdaunt
Ex-ministra da Defesa e atual secretária de Estado do Comércio Exterior, Penny Mordaunt, de 49 anos, foi ativa na campanha a favor do Brexit em 2016 e desde então trabalha nas negociações de acordos comerciais para o Reino Unido.
Considerada uma boa oradora, estima-se que possa ser uma candidata de unidade, capaz de obter apoio de diferentes alas do Partido Conservador. O nome de Mordaunt é um dos mais cotados nas casas de apostas britânicas.
Suella Braverman
Procuradora-geral britânica desde 2020, a conservadora Suella Braverman, de 42 anos, tem ascendência indiana. Seus pais imigraram do Quênia e das Ilhas Maurício para o Reino Unido na década de 1960. A conservadora cresceu em Wembley e se formou em direito pelo Queen's College, em Cambridge.
Suella, que defendeu firmemente a saída do Reino Unido da União Europeia, afirmou em uma entrevista recente que, caso seja a sucessora de Boris, pretende oferecer "todas as grandes oportunidades do Brexit em todo o país", o que incluiria uma linha mais dura sobre assuntos como imigração e políticas de gênero. Em outra ocasião, Braverman afirmou ser fã da escritora britânica J.K. Rowling, a quem chamou de "heroína" por suas falas consideradas transfóbicas.
Nadhim Zahawi
Nadhim Zahawi, de 55 anos, nasceu em Bagdá, no Iraque, em uma família curda que fugiu para o Reino Unido ainda no regime de Saddam Hussein.
Zawahi é formado em engenharia química pela University College London. Foi um dos fundadores da empresa de pesquisas YouGov, onde atuou por cinco anos como diretor-executivo, antes de ingressar no Parlamento em 2010.
Em seu mandato como ministro de Vacinação, supervisionando a bem-sucedida campanha de contra o coronavírus no Reino Unido, conquistou elogios e foi promovido ao Gabinete, tornando-se titular da pasta da Educação em setembro. Zawahi foi um apoiador do Brexit.
Embora os críticos de Boris argumentem que a lealdade de Zahawi a um premier de reputação manchada o torna inadequado para liderar o partido, ele é amplamente considerado como alguém de confiança, sendo popular entre as bases do Partido Conservador.
Kemi Badenoch
Kemi Badenoch é britânica de ascendência nigeriana. Ela cresceu em Lagos, na Nigéria, tendo retornado ao Reino Unido somente aos 16 anos de idade. Formada em engenharia de sistemas de computadores pela Universidade de Sussex, Badenoch entrou para o Partido Conservador em 2005.
Como ex-secretária de Estado da Igualdade, entre 2020 e 2022, Badenoch foi criticada por atrasos na proibição da terapia de conversão por membros do painel de conselho do governo para temas LGBTQIA+, que pediram sua renúncia.
Badenoch afirma que quer reduzir os impostos e promover um “governo limitado e centrado no essencial”.
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