Rio Javari, na cidade de Atalaia do Norte, palco das mortes de Bruno e Dom
Bruno Kelly/Amazônia Real - 28.06.2022
Rio Javari, na cidade de Atalaia do Norte, palco das mortes de Bruno e Dom

O clima ainda é de insegurança no Vale do Javari (AM) após os assassinatos brutais do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, no mês passado, que repercutiram no Brasil e no mundo. Na tarde da última sexta-feira (1º), as visitas suspeitas de dois colombianos à sede da coordenadoria local da Fundação Nacional do Índio (Funai) e, em seguida, à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), causaram receio e preocupação a profissionais e indígenas, que se sentiram intimidados pela dupla.

Sabe-se que, entre os grupos que dominam a exploração ilegal de recursos daquela área específica da Amazônia e, também, entre os que utilizam o território para cultivo e tráfico de drogas, há atuação de colombianos. Além do Peru, que faz fronteira com a região de Atalaia do Norte, também há grande proximidade de algumas cidades da Colômbia, que ficam do outro lado do Rio Amazonas.

Cheirando a álcool, diz o relato, os colombianos não quiseram se identificar, apresentaram-se apenas como "educadores", pediram para falar especificamente com o chefe da Divisão Técnica da Funai , que não estava presente e insistiram em obter autorização para entrada em Terra Indígena para fins de pesquisa; além disso, ainda fizeram perguntas sobre o crime cometido no mês passado contra Dom e Bruno, mais especificamente sobre o inglês.

O caso foi denunciado pela Funai na delegacia de Atalaia do Norte e os detalhes do boletim de ocorrência foram obtidos pela Fiquem Sabendo, agência de dados especializada no acesso a informações públicas. A funcionária da Funai que fez a queixa à polícia afirmou aos agentes que os homens revelaram apenas que eram das cidades de Letícia e Bogotá, mas que não apresentaram qualquer tipo de documento. Narrou, também, que se sentiu intimidada quando, no meio da conversa, eles fizeram perguntas sobre como se deu a morte de Dom Phillips e "qual teria sido a causa". Ela relata que os indivíduos estavam de bermuda, camisa regata e "possuíam bastante tatuagem".

Um ofício da Funai ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, protocolado no mesmo dia, e também obtido pela agência Fiquem Sabendo, mostra a preocupação e o sentimento de insegurança por parte dos servidores da coordenadoria após as mortes de Dom e Bruno. O documento descreve a situação vivida pelos funcionários no dia 1º e informa que os suspeitos foram flagrados por câmeras de segurança.

O relato dá conta de que os dois colombianos chegaram ao prédio da Funai e se dirigiram à recepção, onde foram atendidos por uma funcionária, que estava sozinha no saguão. Eles conversaram com ela durante cerca de 10 minutos e, depois, se dirigiram a outra profissional. É ela quem relata que eles perguntaram especificamente pelo Chefe de Divisão Técnica do órgão, se apresentaram como educadores e manifestaram o desejo de adentrar no Território Indígena do Vale do Javari "para fazer um estudo com as comunidades".

Ela afirmou que eles, no entanto, não sabiam sequer dizer em qual comunidade especificamente eles iriam. A dupla, então, foi encaminhada a um terceiro técnico. É neste momento que, segundo o relato da Funai, eles repetem o que já havia sido dito e indagam este servidor sobre a morte "do jornalista inglês", perguntando inclusive por que ele havia sido assassinado.

"Fomos informados ainda que, mais tarde, os dois indivíduos estiveram na sede da Univaja, onde foram atendidos pelos indígenas no lado de fora do portão. Lá, também se apresentaram como professores colombianos, solicitando informações sobre como ingressar na TI (Terra Indígena), o que também causou suspeita entre os presentes naquela ocasião", diz o documento.

O ofício, então, destaca uma situação de insegurança "que voltou a se instalar entre os servidores após o brutal assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips", e acrescenta que "nenhuma medida prática ainda fora tomada com vistas ao incremento de segurança" da equipe da coordenadoria do Vale do Javari, "o que se constata pela situação narrada de livre trânsito de pessoas suspeitas em suas instalações".

O GLOBO questionou a Polícia Civil sobre o caso, que respondeu que as investigações estão com a Polícia Federal. A PF, por sua vez, ainda não retornou à reportagem. Procurado, o Ministério da Justiça e Segurança Pública também não se pronunciou sobre a insegurança relatada pela Funai. A Funai também não comentou ainda sobre a visita da dupla colombiana. A Univaja, por sua vez, afirmou que, por parte dos indígenas, há muita insegurança após as mortes de Dom e Bruno, e reforçaram que "nenhuma ação para proteção física deles ou para ação de proteção de Terra Indígena foi tomada até agora".

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