União Europeia vai comprar e entregar armamentos para a Ucrânia
Bloco também vai adotar ações contra empresas de mídia russa, apontadas como propagadoras de desinformação, e aplicar sanções contra a Bielorrússia
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou neste domingo (27) que a União Europeia (UE) vai financiar, comprar e entregar armas para a Ucrânia, a serem usadas na defesa do país contra a invasão russa, iniciada há quatro dias. A iniciativa, assim como o fechamento do espaço aéreo do bloco a aeronaves russas, foi aprovada pelos ministros das Relações Exteriores do bloco. Eles também deram aval ao pacote de sanções financeiras que havia sido anunciado no sábado, que exclui parte dos bancos russos do sistema de transações bancárias internacionais Swift e dificulta o acesso do Banco Central da Rússia a reservas mantidas no exterior.
Falando em Bruxelas, Von der Leyen afirmou que esta é a primeira vez em que o bloco vai diretamente comprar armas para entregar a um terceiro país — de acordo com o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, o valor chegará a 450 milhões de euros para a aquisição de equipamentos, como mísseis antitanque, e outros 50 milhões destinados à compra de outros insumos não letais. Ele afirmou que o dinheiro poderá ser usado eventualmente na aquisição de aeronaves de combate, mas não deu detalhes.
Borrell ainda afirmou que a Polônia, que faz limite com a Ucrânia, se colocou à disposição para atuar como centro de distribução dos armamentos, e apontou para o risco de uma possível desestabilização de todo o Leste europeu.
"Estamos preocupados com o que possa acontecer na região", disse o chefe da diplomacia europeia. "Temos medo de que a Rússia não pare na Ucrânia, e que a influência russa possa começar a ser vista nos países vizinhos."
O anúncio ocorreu depois de uma mudança de posição do governo alemão, que se tradicionalmente se opunha ao fornecimento de armas, mesmo que defensivas, a países envolvidos em conflito. Neste sábado, contudo, o governo de Berlim anunciou que iria fornecer sistemas antitanque e de defesa aérea, e também liberou a exportação, por parte da Holanda, de equipamentos de tecnologia alemã.
A presidente da Comissão Europeia disse ainda que vai intensificar as sanções já anunciadas previamente contra a Rússia — no sábado, a UE, ao lado de EUA, Reino Unido e Canadá, confirmou novas medidas, como o corte de instituições bancárias russas do sistema de transações internacionais Swift, além de ações para limitar a capacidade do Banco Central russo de acessar as reservas internacionais do país.
Segundo Borrell, "mais da metade das reservas do Banco Central russo serão bloqueadas, uma vez que são mantidas em países do G7" — hoje, as reservas russas somam US$ 630 bilhões, sendo divididas em euros, dólares americanos, yuans e ouro.
"Ao longo do final de semana nós trabalhamos duro, e queremos que algumas decisões já estejam prontas, acertadas e firmadas legalmente antes de amanhã [segunda-feira], quando os bancos centrais voltarão a trabalhar", afirmou Borrell.
O pacote de medidas, aprovado em reunião em Bruxelas, é o terceiro aplicado pelo bloco contra a Rússia desde a semana passada.
"Este é um momento que nos permite decidir o que é a UE e o que ela quer ser. Dizemos sempre que a UE surgiu após a Segunda Guerra Mundial para lutar pela paz", declarou Borrell. "Temos de estar prontos para manter esta paz. O que aconteceu na Ucrânia deve ser um momento-chave para a Europa."
Na sexta, os bens do presidente russo, Vladimir Putin, e do chanceler, Sergei Lavrov, foram congelados por EUA, Reino Unido, Canadá e pela UE, uma medida de pouco efeito prático, mas que mostrou a disposição dos governos ocidentais em confrontar o Kremlin. A Noruega, que não pertence à UE, também anunciou que seu fundo soberano vai se desfazer de ações em 47 empresas russas, papéis que têm valor total de US$ 2,83 bilhões.
Ainda foi confirmado, neste domingo, o fechamento do espaço aéreo do bloco a todas aeronaves russas, comerciais ou privadas, e ações contra empresas de comunicação que funcionam com capital do Estado russo.
"Nós vamos banir a máquina de propaganda do Kremlin. A estatal Russia Today e o Sputnik, assim como todas as suas subsidiárias, não poderão mais espalhar suas mentiras, justificar a guerra de Putin e propagar a divisão", disse Von der Leyen.
Segundo Borrell, os canais não serão mais transmitidos dentro da UE, embora boa parte de sua presença se dê através de meios digitais, não cobertos pela proibição.
Além da Rússia, a Bielorrússia será atingida por novas sançõe contra "seus setores mais importantes", apontou Ursula von der Leyen. O governo de Alexander Lukashenko já é alvo de várias sanções da UE, relacionadas a violações dos direitos humanos, à repressão de manifestantes após as eleições de 2020 e também à interceptação de um avião da Ryanair, no ano passado, onde viajava um jornalista dissidente, Roman Protasevich.
No ano passado, o país tambem foi punido sob acusação de provocar uma crise humanitária na fronteira com a Polônia, e de usar refugiados como ferramenta política para atacar a União Europeia.
Embora não esteja oficialmente envolvido na guerra, Lukashenko forneceu apoio para as forças russas entrarem na Ucrânia através de seu território, e está abrigando parte dos militares que participam da invasão. Segundo o governo ucraniano, neste domingo foram lançados mísseis balísticos Iskander, a partir da Bielorrússia, contra cidades dentro da Ucrânia.