Putin dá sinais de recuo em possível invasão à Ucrânia
Rússia diz que exercícios militares estão sendo encerrados e que diálogo diplomático segue possível e deve ser intensificado, em um passo atrás
Duas reuniões de Vladimir Putin que tiveram trechos exibidos pela televisão da Rússia pareceram indicar um recuo na ameaça de uma invasão militar à Ucrânia.
Em uma conversa com Putin transmitida pela televisão e aparentemente roteirizada, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, anunciou nesta segunda-feira que parte das manobras militares realizadas por seu país com a Bielorrússia estão sendo encerradas.
— Os exercícios militares aconteceram, parte deles está terminando. Outros vão continuar dada a magnitude desses exercícios que foram planejados e que começaram no início de dezembro — disse Shoigu.
Não está claro quantas tropas serão removidas do entorno da Ucrânia, nem se estas atualmente estão na Bielorrússia ou na própria Rússia. O governo russo dizia que suas tropas concentradas na fronteira integravam exercícios militares, e não indicavam planos para uma invasão.
Pouco antes, em outra conversa transmitida, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, disse apoiar a continuidade das negociações diplomáticas com o Ocidente sobre as “garantias de segurança” que a Rússia vem exigindo dos Estados Unidos e da Otan.
Putin foi mostrado perguntando a Lavrov se havia uma chance de chegar a um acordo para resolver as preocupações de segurança da Rússia ou se apenas aconteciam negociações infrutíferas, sem possibilidades reais de avanços.
— Já alertamos mais de uma vez que não permitiremos negociações intermináveis sobre questões que exigem uma solução hoje — respondeu Lavrov, antes de acrescentar. — Devo dizer que sempre há chances. Parece-me que nossas possibilidades estão longe de estarem esgotadas... Nesta fase, sugiro continuar e intensificá-las..
Putin respondeu simplesmente:
— Certo.
As reuniões indicam que a Rússia pode continuar a busca por concessões diplomáticas dos EUA e da Otan, em vez de empreender uma ação militar imediata. No sábado, os EUA, citando informações obtidas por sua inteligência, alertaram que a Rússia decidira por atacar a Ucrânia.
Lavrov disse que recebeu respostas "insatisfatórias" a uma carta que enviou a dezenas de membros da Otan sobre a questão da "indivisibilidade da segurança" — uma das principais demandas russa. A Rússia alega que a Ucrânia e os países ocidentais estão fortalecendo sua segurança às suas custas, violando uma cláusula do Protocolo de Istambul, de 1999, da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Putin também perguntou a Lavrov se ele havia preparado um esboço de resposta às propostas que os Estados Unidos e a Otan apresentaram no mês passado. Lavrov disse que preparou uma resposta de 10 páginas, sem oferecer detalhes. Um assessor de Putin disse no sábado que a Rússia em breve tornará pública sua resposta.
Nesta terça-feira, Putin se reunirá em Moscou com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz. Após adotar uma linha diplomática discreta e pouco dura com o Kremlin e perder popularidade em casa, Scholz agora busca demonstrar alinhamento firme com os EUA e com seus parceiros da Otan. Nesta segunda-feira, Scholz viajou a Kiev, onde se reúne com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Antes de embarcar, Scholz disse em um rede social que espera "de Moscou sinais imediatos de redução das tensões. Uma nova agressão militar teria duras consequências para a Rússia".