Um equipe de investigação norte-americana apontou um novo suspeito de ter denunciado o esconderijo da família da jovem Anne Frank para os nazistas em 1944: trata-se do judeu holandês Arnold van der Bergh.
Segundo os cerca de 30 especialistas, guiados pelo ex-agente do FBI Vincent Pankoke, foram analisados inúmeros documentos, alguns nunca examinados antes, com equipamentos de alta tecnologia que faziam a leitura dos textos em uma velocidade e uma capacidade de conectar pessoas que seria quase impossível para humanos fazer de maneira manual.
Além disso, eles entrevistaram diversos descendentes de famílias que conheciam os Frank para tentar estabelecer relações naqueles anos da Segunda Guerra Mundial. Como era uma época de exceção, era bastante difícil também saber em quem se poderia confiar para sobreviver à violência dos nazistas. Todo o trabalho durou cerca de seis anos.
"Nossa teoria tem uma probabilidade de mais de 85% de acerto", disse Pankoke à rádio alemã "Deutschlandfunk Kultur".
Sobre o suspeito, Van der Bergh, fazia parte do Conselho Judaico de Amsterdã, que foi obrigado a implementar a política nazista em áreas habitadas por judeus até 1943. Depois de dissolvido, os membros do grupo foram mandados para os campos de concentração do regime de Adolf Hitler.
Porém, o holandês foi o único que não foi enviado para às estruturas nazistas e vivia livremente em Amsterdã, algo muito suspeito para aqueles tempos. Além disso, diversas testemunhas relataram que corria um comentário de que um membro do Conselho Judaico continuou a fornecer informações para os nazistas.
Outro ponto destacado é que a ordem de deportação da família do holandês foi revogada poucos dias antes dos nazistas encontrarem os Frank.
Segundo as pesquisas, Van der Bergh morreu de câncer em 1950, cinco anos após o fim da Segunda Guerra Mundial.
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Pankoke disse que a atitude de Van der Bergh foi tomada para que ele mantivesse a salvo a si mesmo e sua esposa, mas que a equipe relutou em acreditar que um judeu poderia ter sido o responsável pela denúncia que matou os Frank, com exceção do patriarca, Otto.
Ao pai de Anne, inclusive, foi atribuída a cópia de um bilhete anônimo que dizia que Van der Bergh era o seu delator. Os investigadores suspeitam que Otto sempre soube quem denunciou o esconderijo de sua família, mas nunca revelou ao público o que sabia.
"O Diário de Anne Frank", que já vendeu mais de 30 milhões de cópias, é considerado um dos principais documentos sobre a vida em Amsterdã sob o regime nazista, pois é todo narrado em primeira pessoa. A jovem relatou os dois anos que viveu em um esconderijo com a mãe, a irmã mais velha e o pai.
Ela foi morta em um campo de concentração aos 15 anos, um ano após ser enviada para o local e pouco antes da libertação pelas forças russas e ocidentais.
Porém, até hoje, há muitas dúvidas sobre quem denunciou o esconderijo.
O museu Casa de Anne Frank afirmou em nota que ficou "impressionado" com as descobertas, mas disse que não participou da investigação diretamente. Apenas emprestou seu acervo para que os investigadores pesquisassem.
Todas as descobertas serão publicadas no livro "The Betrayal of Anne Frank" ("A traição de Anne Frank", em tradução livre), da escritora canadense Rosemary Sullivan, que será lançado em inglês nesta terça-feira (18/1).