O Júri Nacional de Eleições (JNE) , principal órgão eleitoral do Peru, espera apenas o voto de um de seus juízes, o recém-empossado Víctor Raúl Rodríguez Monteza, para poder confirmar oficialmente a vitória de Pedro Castillo nas eleições presidenciais de 6 de junho. Com 100% dos votos apurados, o líder sindical tem uma vantagem de 44 mil votos em relação a Keiko, filha do ex-ditador Alberto Fujimori.
Segundo o jornal La República , os outros três juízes do JNE — o presidente do órgão, José Luis Salas Arenas, e seus outros dois integrantes, Jovián Valentín Sanjinez Salazar e Jorge Armando Rodríguez Vélez — teriam conseguido resolver por unanimidade todos os recursos apresentados à instituição. O voto de Rodríguez Monteza, portanto, seria insuficiente para mudar a decisão da maioria.
A demora para proclamar um vencedor deve-se aos 1.088 pedidos de impugnação de atas eleitorais apresentados pela Força Popular, o partido de Keiko, em primeira instância. Seu objetivo era anular votos em regiões onde Castillo teve a grande maioria dos votos, alegando fraude eleitoral.
Observadores internacionais, contudo, atestaram a lisura do pleito e todos os pedidos foram rejeitados. A Força Popular, contudo, levou 271 ações à instância máxima da Justiça Eleitoral: 271 delas eram pedidos de recurso e 48, queixas por seus pedidos terem sido negados.
Keiko e seus aliados reclamam que as últimas apelações vêm sendo resolvidas sem audiências públicas, ao contrário do que ocorria no início. A legislação peruana, contudo, não prevê sua obrigatoriedade.
O porta-voz do órgão eleitoral, Luis Alberto Sánchez, disse no início do mês que o JNE esperava anunciar o resultado da eleição até o dia 15, no mais tardar. A cerimônia de posse está marcada para o próximo dia 28, data derradeira para que o atual presidente interino, Francisco Sagasti, continue no comando do país.
Rodríguez Monteza substituiu Luis Arce no JNE, cuja saída no mês passado bloqueou o processo de proclamação do novo presidente. Arce renunciou após os dez primeiros recursos apresentados pela Força Popular terem sido declarados improcedentes por três votos contra o seu.
Arce, que representava o Ministério Público na instância máxima do JNE, foi o único que considerou que o partido poderia apresentar pedidos de nulidade após o prazo, manobra que favoreceria Keiko.
Paralelamente, foram divulgados áudios em que e o ex-chefe da Inteligência Vladimiro Montesinos propõe a compra do júri eleitoral. A denúncia foi feita por Fernando Olivera, o mesmo que divulgou em 14 de setembro de 2000, em uma emissora a cabo, um vídeo mostrando Montesinos, então braço direito do presidente Alberto Fujimori, subornando um parlamentar da oposição para que se unisse à situação.
Olivera apresentou várias gravações de telefonemas que indicam que Montesinos tentou ajudar a consumar uma fraude eleitoral a favor de Keiko. O ex-chefe de Inteligência, que cumpre pena de 25 anos, pede a um interlocutor que faça contato com um advogado ligado a três dos quatro membros do JNE para suborná-los e impedir que eventualmente proclamem a vitória de Castillo.