Os Estados Unidos rejeitaram o pedido do governo interino do Haiti do envio de militares para ajudar a proteger instalações cruciais da infraestrutura do país após o assassinato do presidente Jovenel Moïse , apesar de terem prometido ajudar as investigações sobre o crime.
O ministro das Eleições do Haiti, Mathias Pierre, disse que um pedido aos EUA de auxílio foi mencionado em uma conversa entre o primeiro-ministro interino haitiano, Claude Joseph, e o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, na quarta-feira, mesmo dia em Möise foi morto, em um ataque de madrugada a sua residência. O Haiti também fez um pedido de reforço da segurança ao Conselho de Segurança da ONU, disse Pierre.
"Estamos em uma situação em que acreditamos que a infraestrutura do país, como o porto, o aeroporto e a infraestrutura de energia, podem ser alvos", disse Pierre à Reuters .
O envio de pessoal de militar da ONU — os chamados capacetes azuis — enfrenta forte resistência da população haitiana, após o fracasso da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah), comandada pelo Brasil, de 2004 a 2017. O envio de tropas da ONU exige uma resolução do Conselho de Segurança.
A legitimidade do premier interino é questionada no país — Moïse havia indicado um novo premier, Ariel Henry, que deveria tomar posse neste fim de semana — e intelectuais e ativistas haitianos se manifestaram contra o envio de militares estrangeiros ao país.
"Nós nunca temos a chance de definir as regras do jogo para nós mesmos", disse Mélodie Cerin, moradora de Porto Príncipe e coeditora da revista Woy, ao New York Times .
"Isso é o que é mais frustrante para os haitianos. Somos postos de lado toda vez", concluiu.
Em uma publicação numa rede social, Monique Clesca, uma ativista pró-democracia haitiana e ex-funcionária das Nações Unidas, disse: “Não queremos nenhum soldado dos EUA no solo do Haiti. O primeiro-ministro de fato Claude Joseph não tem legitimidade para fazer tal pedido em nosso nome”.
Além dos questionamentos a Joseph, muitos no Haiti argumentavam que Moïse não estava mais legitimamente no cargo no momento de seu assassinato, já que seu mandato teria terminado em fevereiro deste ano.
Neste sábado, foi divulgado um áudio da primeira-dama, Martine Moïse, que foi atingida durante o ataque e se recupera num hospital em Miami. Seu estado, segundo informa na mensagem, é estável, e ela disse que se preparava para se submeter a uma cirurgia. Ela sugere que o crime foi político, mas não identifica um possível agente.
"Você sabe contra quem o presidente estava lutando. Eles enviaram mercenários para assassinar o presidente em casa, com toda a sua família, porque ele queria estradas, água, eleições e o referendo no final do ano, [assassinaram-no] para que não haja transição no país", afirma Martine Moïse, sem identificar a quem se referia.
"Em um piscar de olhos, os mercenários entraram na minha casa e fuzilaram meu marido, sem sequer dar a ele a oportunidade de dizer uma única palavra".
O número de suspeitos presos subiu para 20, após mais três pessoas serem detidas na noite de sexta-feira. Dentre os presos, 18 são colombianos, incluindo ao menos 13 ex-militares, e dois são haitianos-americanos. A polícia afirma que 28 pessoas integravam um comando que teria invadido a casa de Moïse: destas, três foram mortas. Ainda há cinco foragidos.
Várias figuras da oposição haitiana questionam esta versão oficial de que o assassinato foi cometido por um comando mercenário colombiano. Na sexta-feira à noite, o jornal colombiano El Tiempo publicou que os colombianos tinham sido contratados para fazer a segurança da região, e chegaram à casa por volta de 2h30, enquanto o presidente teria morrido à 1h.
Suspeita-se que agentes da guarda presidencial tenham cometido o crime, e ao menos dois guardas são investigados. Em uma entrevista ao El Tiempo, Jenny Capador, irmã de Duperney Capador, ex-militar colombiano morto pela polícia do Haiti, afirmou que recebeu uma mensagem do seu irmão na quinta-feira, na qual ele se dizia inocente.
"Ele me disse que eles tinha chegado atrasado para proteger a pessoa que precisava proteger, imagino que ele fosse o presidente. Disse que a polícia os encurralara, e que ele ia tentar mediar a situação para ser ouvido", disse Jenny.