O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro , recebeu neste sábado a primeira dose da vacina Sputnik V , cerca de duas semanas depois do governo anunciar o começo do programa de imunizações, até o momento baseado apenas nas doses vindas da Rússia. Ao receber a vacina, ao lado da primeira dama, Cilia Flores, o presidente venezuelano brincou ao dizer que não sente efeitos colaterais como “sair falando russo”, um tema frequente em memes na internet relacionados à imunização produzida pelo instituto Gamaleya.
Ao mesmo tempo em que afirmou haver “escassez de vacina” no mundo, ele ainda voltou a reclamar do bloqueio a fundos venezuelanos no exterior, como nos EUA e no Reino Unido, países que reconhecem o oposicionista Juan Guaidó como o presidente legítimo do país.
Na prática, segundo Maduro, isso impede que seu governo adquira imunizações no exterior e não consiga adquirir insumos para conter a doença — em março do ano passado, o Fundo Monetário Internacional negou acesso a uma linha especial de crédito de US$ 5 bilhões, alegando que ele não possui reconhecimento suficiente para tal. A ação foi creditada a uma intensa pressão do governo americano, que também bloqueou um pedido semelhante feito pelo Irã.
Com isso, a Venezuela se vê com poucas saídas para controlar o vírus a médio prazo. Mesmo antes da pandemia, o sistema hospitalar do país está perto do colapso, com falta de medicamentos, insumos básicos e profissionais de saúde. Com a Covid-19 , uma das alternativas das autoridades foi apresentar medicamentos sem comprovação científica para o tratamento, como no caso do Carvativir, apontado como o remédio das “gotas mágicas”.
Maduro também apelou para antigos aliados em busca de vacinas: da Rússia devem chegar 10 milhões de doses da Sputnik V, sendo que 100 mil já começaram a ser aplicadas, mas em ritmo bem lento — pouco mais da metade delas foram usadas, isso mesmo de duas semanas depois do início das imunizações.
Da China, as 500 mil doses da imunização da Sinopharm chegarão aos braços dos venezuelanos a partir de segunda-feira. Também devem ser usadas vacinas vindas de Cuba, além das doses reservadas pelo consórcio Covax , controlado pela Organização Mundial da Saúde . Mas as dívidas que o país mantém com a organização podem atrasar o envio das até 2,4 milhões de doses da vacina da Oxford em parceria com a AstraZeneca.
De acordo com números oficiais, a Venezuela confirmou cerca de 141 mil casos e 1.364 mortes relacionadas à Covid-19 até este sábado.