Estados Unidos executam 1ª mulher no corredor da morte em quase 70 anos
Lisa Montgomery recebeu uma injeção letal no presídio masculino de Terre Haute, Indiana, na madrugada de hoje (13)
O governo dos Estados Unidos executou nesta quarta-feira Lisa Montgomery , a primeira mulher a ser morta pelo Estado em 68 anos . A execução seguiu em frente após a Suprema Corte, de maioria conservadora, reverter uma decisão de instâncias inferiores que adiava a aplicação da pena de morte.
Montgomery recebeu uma injeção letal no presídio masculino de Terre Haute, Indiana, e foi pronunciada morta às 1h31 (3h31, horário de Brasília). Questionada se queria dizer alguma coisa antes da execução, a mulher apenas murmurou: “Não”.
"O desejo por sangue de uma administração fracassada esteve à mostra nesta noite", disse a advogada de Montgomery, Kelley Henry, em um comunicado. "Nossa Constituição proíbe a execução de uma pessoa que não é capaz de entender racionalmente sua execução."
Como uma mulher não era morta pelo governo federal há quase sete décadas, não há presídios federais femininos com instalações para realizar execuções. Ela foi levada para Terre Haute na noite de segunda.
No meio do ano passado, o presidente Donald Trump pôs fim a um hiato de 17 anos, retomando as execuções no nível federal. Entre julho e dezembro de 2020, 10 pessoas já haviam recebido a injeção letal, o maior número de prisioneiros mortos pelo Estado em um ano desde 1896. Montgomery foi a 11ª.
As quatro últimas execuções ocorreram já durante o período de transição, algo sem precedentes na História recente americana. Ao contrário de Trump, o presidente eleito, Joe Biden, comprometeu-se em não levar a cabo a punição capital durante o seu mandato.
Causa da execução
Lisa Montgomery foi condenada pelo sequestro e assassinato de Bobbie Jo Stinnett, em 2004, na época grávida de oito meses. Ela cortou o bebê da barriga da mãe com uma faca e, por um dia, fingiu que a filha era sua. A menina sobreviveu e tem hoje 16 anos.
Seus advogados pediam que a execução fosse postergada pois Montgomery sofria de uma série de problemas mentais em consequência de uma vida de abusos. Seu estado, afirmavam, impedia que ela compreendesse sua pena de morte.
De acordo com a defesa, ela nasceu com lesões cerebrais e, na infância, foi vítima de estupro, violência doméstica, tráfico infantil e incesto. Seu estado só piorou com a aproximação da data da execução, afirmaram os advogados, e com as limitações da pandemia de Covid-19, que dificultaram o contato com profissionais da saúde que a acompanhavam há anos.
Na noite de terça, uma corte de apelações havia concedido uma prorrogação a favor de Montgomery, apontando para o depoimento de médicos que corroboram que a mulher sofria de depressão, distúrbio de personalidade e estresse pós-traumático.
A acusação, no entanto, entrou com um recurso na Suprema Corte afirmando que a mulher compreende o crime que cometeu e a punição dada. A instância máxima da Justiça americana ordenou, em seguida, que a execução seguisse em frente como planejado.