Após ter ameaçado derrubar o governo, o ex-primeiro-ministro da Itália Matteo Renzi recuou e afirmou nesta terça-feira (15) que "sequer pensa" no assunto.
Premiê de fevereiro de 2014 a dezembro de 2016, Renzi lidera um partido minoritário na base aliada, o centrista Itália Viva (IV), mas é crucial para o primeiro-ministro Giuseppe Conte ter maioria no Senado.
"Derrubar o governo? Sequer penso nisso. Mas há 846 mortos, e não podemos fingir que não estamos vendo. É por isso que pedimos para o primeiro-ministro se mexer, vamos dar mais recursos para a saúde, parar com as polêmicas e aproveitar os fundos europeus", disse o senador à rede Mediaset, em referência ao número de óbitos na pandemia do novo coronavírus na Italia na terça-feira.
Na última sexta (11), em entrevista ao jornal El País, Renzi havia afirmado que poderia derrubar o governo Conte se o primeiro-ministro insistisse na ideia de formar uma força-tarefa de técnicos para gerir os recursos do fundo de recuperação da União Europeia para o pós-pandemia.
"Se Conte quer plenos poderes, assim como Salvini, eu digo não. É um problema de respeito às regras. E, neste caso, nós retiraremos nosso apoio ao governo", ameaçara o ex-premiê. Além disso, Renzi critica a resistência do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), maior partido da base aliada e principal fiador de Conte, em usar os fundos do Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM), instrumento de socorro a nações em dificuldade na eurozona, mediante empréstimos com juros subsidiados.
"A bola está agora com o primeiro-ministro", disse Renzi à Mediaset. Questionado sobre suas condições para evitar a renúncia das duas ministras do IV - Teresa Bellanova (Agricultura) e Elena Bonetti (Família) -, o ex premiê respondeu: "Existem 36 bilhões de euros [do ESM] que poderiam fortalecer o serviço sanitário, mas que estão bloqueados por um 'não' ideológico dos 5 Estrelas e de Conte. Peguemos esse dinheiro e o coloquemos na saúde".
Além disso, Renzi acrescentou que espera que "não se fale mais de crise, mas sim de como gastar bem os repasses europeus". Conte se reunirá com o ex-primeiro-ministro e uma delegação do IV na manhã desta quinta-feira (17) para aparar as arestas nas relações.
Durante sua carreira, Renzi sempre foi crítico de pequenos partidos que conseguiam colocar governos contra a parede com a ameaça de retirar apoio no Parlamento - situação da qual ele próprio foi vítima.
"Não é aceitável que, em 2017, ainda existam pequenos partidos que vetem [medidas do governo]", disse o ex-premiê há três anos, já depois de ter deixado o poder.