Sem provas, frágil ofensiva jurídica de Trump tem tudo para dar errado; entenda
Falta de antecedentes mostra que ações impetradas pelo presidente norte-americano têm chances quase nulas de prosperarem legalmente
Por Agência O Globo |
A situação criada pela campanha de Trump com sua ofensiva judicial contra o resultado das eleições em estados-chave é inédita e, segundo especialistas, tem chances praticamente nulas de prosperar porque não há provas das supostas fraudes apontadas. Várias das ações já foram rejeitadas por tribunais estaduais.
A situação é diferente da de 2000, quando a eleição acabou sendo decidida só em dezembro. Naquele ano, a vitória no Colégio Eleitoral do republicano George W. Bush ou do democrata Al Gore ficou dependendo do resultado de apenas um estado, a Flórida. Na época, a disputa começou na Justiça estadual e acabou na Suprema Corte, que determinou em 12 de dezembro a suspensão da recontagem no estado. Com isso, Bush ganhou na Flórida por apenas 500 votos, o que lhe garantiu a Presidência com 271 votos no Colégio Eleitoral, contra 266 de Gore . Agora, Biden já tem garantidos 279 votos no Colégio Eleitoral, nove a mais do que os necessários para a vitória.
A ofensiva judicial de Trump já era esperada desde a campanha, e foi confirmada quando ele falsamente se declarou vencedor na madrugada de quarta-feira, quando a maioria dos votos não havia sido contada.
As ações do republicano visam principalmente os votos enviados pelo correio, que são permitidos pelos estados americanos — que no país regulam as eleições — e tiveram seu uso ampliado neste ano, por causa da pandemia do coronavírus. Diante do recorde de 65 milhões de votos por essa modalidade, vários estados estenderam o limite para o recebimento de cédulas postadas até 3 de novembro, último dia da votação, evitando que atrasos na sua entrega pelo serviço postal impedissem sua contabilização. São estes os votos que Trump falsamente diz serem “ilegais”. As cédulas que chegaram depois de 3 de novembro, no entanto, seriam insuficientes para reverter a margem de Biden.
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Como dois partidos dominam as eleições nos EUA , os resultados em muitos estados costumam ser apertados. Em 2016, por exemplo, o próprio Trump, que disputou contra a democrata Hillary Clinton, ganhou nos estados de Michigan, Pensilvânia e Wisconsin por um total de 80 mil votos, somados os três estados. Neste ano, Biden soma uma vantagem que ultrapassa 214 mil votos nos mesmos três estados.
Uma nova ação republicana impetrada na noite de ontem pede que o resultado não seja certificado em Wisconsin até que seja verificado que todos os votos foram depositados “legalmente”. A vantagem de Biden no estado é de 20,5 mil votos. Em 2016, Trump venceu ali por 23 mil votos. Na Pensilvânia, os republicanos demandam uma auditoria. Lá, a vantagem de Biden é de 45 mil votos, e Trump derrotou Hillary ali em 2016 por 44 mil votos.
Nos três estados em que ainda não é possível projetar o vencedor, Biden lidera no Arizona e na Geórgia, e Trump apenas na Carolina do Norte. Os republicanos pedem recontagem na Geórgia, onde a vantagem de Biden é de 14 mil votos. Mas o democrata não precisa mais do estado para vencer no Colégio Eleitoral. Houve ao menos 31 recontagens estaduais desde 2000. Delas, apenas três mudaram o resultado da eleição, todas elas com margens inferiores a 300 votos.
No total de votos populares, Biden lidera com 76,4 milhões, quase 5 milhões a mais que Trump, que tem 71,7 milhões. No entanto, as eleições americanas não são decididas unicamente pelo voto popular, mas indiretamente pelo Colégio Eleitoral, onde o que importa são os resultados em cada um dos 50 estados. No Colégio, a representação dos estados é proporcional à sua população, mais dois delegados que equivalem à bancada no Senado — que é igual para todos os estados, indepentemente de sua população.