O pecuarista Manuel Merino
, de 59 anos, assumiu nesta terça (10) a presidência do Peru. A posse ocorre um dia depois de o ex-presidente Martín Vizcarra ser destituído
sob a alegação de “incapacidade moral”. Merino era o presidente do Congresso e, por isso, tomou seu lugar.
Merino está em seu terceiro mandato pelo partido Ação Popular, ao qual pertence há 41 anos. “É um partido velho, rural, formado principalmente por políticos provincianos que geralmente só são eleitos para prefeituras ou para cargos no Congresso. Nacionalmente, eles não conseguem muitos votos, mas eles são especialistas em chegar à presidência em governos interinos. É como o MDB no Brasil”, diz o cientista político peruano Carlos Meléndez, professor da Universidade Diego Portales, no Chile. “O que aconteceu foi que Merino viu a oportunidade de chegar ao poder e a aproveitou.”
Em setembro deste ano, o deputado Merino, como presidente do Congresso, já tinha articulado um processo de impeachment contra Vizcarra. Nessa primeira tentativa, Merino reuniu-se com integrantes das Forças Armadas e chegou a nomear pessoas para integrar o seu futuro gabinete.
A sede de poder e o descaso com as instituições pegaram mal e o plano naufragou . Na segunda tentativa, nesta segunda, 10, Merino mostrou que aprendeu com os erros do passado. Ele evitou nomeações precipitadas e não falou com os militares.
Merino é um político inexpressivo , que só conseguiu destaque porque os políticos tradicionais do Peru foram punidos por decisões de Vizcarra. Em 2018, o presidente conseguiu aprovar em um referendo o fim das reeleições para cargos no Legislativo e a regulação do financiamento das campanhas eleitorais.
Você viu?
No ano seguinte, Vizcarra dissolveu constitucionalmente o Congresso . Em janeiro deste ano, ocorreram novas eleições para um mandato tampão, que vai até meados deste ano. Como os políticos tradicionais sabiam que não poderiam se reeleger, eles ignoraram essa eleição. “Merino só conseguiu espaço porque soube aproveitar o vácuo de poder”, diz Meléndez. O pecuarista teve apenas 5 mil votos na eleição.
Vizcarra deixou o cargo após 105 dos 130 parlamentares votarem por sua saída, mais do que os 87 necessários para o impeachment . A destituição ocorreu após denúncias na imprensa afirmarem que Vizcarra, quando foi governador da região de Moquegua, em 2014, recebeu propina. Uma investigação foi aberta em outubro pelo Ministério Público, mas ainda está em fase inicial.
Com o impeachment, Vizcarra se junta ao infeliz grupo de ex-presidentes do Peru. Nos últimos 30 anos, todos os que governaram o país foram encarcerados , sofreram impeachment ou estão foragidos. Alberto Fujimori (1990-2000) está preso por crimes contra a humanidade e corrupção. Alejandro Toledo (2011-2006), Alan Garcia (2006-2011), Ollanta Humala (2011-2016) foram denunciados pela Lava Jato do Peru.
Toledo está foragido nos Estados Unidos, Garcia cometeu suicídio e Humala ficou preso por três meses. Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018) renunciou após uma denúncia de compra de votos no Congresso e está em prisão domiciliar.