Na foto, homenagem aos profissionais de saúde na linha de frente da Covid-19, na Índia
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Na foto, homenagem aos profissionais de saúde na linha de frente da Covid-19, na Índia


O ministro do Interior da Índia e duas importantes autoridades regionais foram internadas com Covid-19 nos últimos dias, à medida que a  pandemia se intensifica no território indiano. Há cinco dias consecutivos, o país do Sul asiático registra mais de 50 mil novos casos diários da doença, ritmo que o põe no caminho para ser a nação com mais infecções no planeta, ultrapassando os Estados Unidos e o Brasil.


Nas últimas 24 horas, a Índia — segundo país mais populoso do mundo, com 1,35 bilhão de habitantes — registrou 52.972 novos diagnósticos do novo coronavírus , elevando o total para 1,8 milhão. As mortes contabilizadas no domingo foram 771, entre eles a de uma parlamentar do estado de Uttar Pradesh, o mais populoso do país. Ao todo, os óbitos já somam 38.135, segundo o Ministério da Saúde.

Há semanas, o país tem a maior taxa de novas infecções do mundo e, dada a grande subnotificação , acredita-se que a extensão da pandemia seja ainda maior. No domingo, o ministro do Interior, confidente do primeiro-ministro Narendra Modi, foi hospitalizado, assim como o ministro-chefe do estado de Karnataka, no Sul. O chefe do estado central de Madhya Pradesh também se recupera no hospital.

Se as infeções continuarem neste ritmo, a Índia em breve deverá ultrapassar a marca de 100 mil casos diários, algo que provavelmente levará seu sistema hospitalar ao colapso. A Organização Mundial da Saúde recomenda que exista um médico para cada mil pacientes — no país, a taxa é de um para cada 10.926. Há diversos relatos de pacientes sendo mandados de volta para casa em metrópoles como Mumbai, Nova Délhi e Calcutá.

Resposta fraca

A resposta errática de Modi à pandemia o põe ao lado de figuras nacionalistas aliadas, como o presidente Jair Bolsonaro e o líder americano Donald Trump. Apesar de não ter negado a gravidade da Covid-19, o indiano já promoveu a ioga como método preventivo contra o vírus e ordenou que a Força Aérea jogasse pétalas para homenagear os funcionários da saúde.

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"Políticos vem tentando abordar essa doença como se fosse uma campanha política: só estão tentando ganhar o dia e o ciclo de notícias", disse ao Financial Times Ashish Jha, diretor do Instituto de Saúde Global da Universidade Harvard. "Minimizá-la no entanto, é na realidade uma estratégia muito perigosa porque você pode confundir as pessoas sobre quais ações deveriam tomar."

Ao contrário de seus aliados nacionalistas, Modi levou a sério a pandemia no início. No dia 24 de março, quando a Índia tinha apenas 550 casos confirmados, o primeiro-ministro ordenou uma quarentena de três semanas. A medida entrou em vigor quatro horas depois, sem que houvesse tempo para que a população se organizasse.

Pôr 1,35 bilhão de pessoas sob confinamento total provou-se uma missão impossível em um país onde 39,8% das residências não têm acesso a água e sabão, segundo dados de 2016 do Instituto Internacional de Ciências Populacionais. O confinamento gerou uma crise para os trabalhadores informais e migrantes, pouquíssimo amparados pelo governo, que perderam sua fonte de renda.

Perdas econômicas

Com uma das menores taxas de testagem entre as maiores economias do planeta, a quarentena não conseguiu controlar a curva de contágio. Pressionado para retomar a economia, Modi mudou seu discurso semanas depois. No início de maio, ordenou que a população aprendesse a conviver com o vírus e tocasse sua vida. Além da baixa testagem, há ainda uma pressão política para que a estatística oficial mantenha-se a menor possível, mesmo enquanto a doença se dissemina pelo interior.

Segundo estimativas, 1 em cada 4 indianos perdeu seu emprego entre março e abril. Pólos industriais como Bengaluru e Chennai passam por novos lockdowns localizados. Trabalhadores migrantes temem a volta ao trabalho e a retomada das aulas não é sequer cogitada. A previsão é de que a queda do Produto Interno Bruto indiano possa chegar a até 7%.

Modi, contudo, não viu sua popularidade muito afetada pela crise — a quarentena inicial fez com que muitos o vissem como um líder corajoso e competente. Parte disso deve-se à visão distorcida que seu governo passa da resposta à crise, buscando silenciar aqueles que o opõem e reprimir jornalistas.

Uma semana após a imposição da quarentena , Modi tentou impôr uma criticada autocensura à imprensa. A Suprema Corte acabou decidindo que os veículos independentes devem publicar a “versão oficial” dos eventos junto com sua cobertura regular. Segundo o centro de estudos Grupo de Análise de Direitos e Riscos, localizada em Délhi, a polícia indiana abriu investigações contra ao menos 55 jornalistas desde março.

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