Objetivo é utilizar os ventiladores nos hospitais para combater o novo coronavírus
Chico Otávio/Agência O Globo
Objetivo é utilizar os ventiladores nos hospitais para combater o novo coronavírus



Os casos da Covid-19 superaram 2,2 milhões em todo o mundo e os países estão se esforçando para comprar equipamentos que salvam vidas, uma vez que a pandemia provoca uma demanda sem precedentes em hospitais.

Com os sistemas de saúde se esforçando em dobro  sob a pressão do vírus, que já matou mais de 155 mil pessoas, especialistas alertam que o coronavírus pode devastar os países que carecem de equipamentos e infraestrutura.

O Sudão do Sul, por exemplo, possui apenas quatro ventiladores e 24 leitos de UTI para uma população de 12 milhões de pessoas, segundo dados do Comitê Internacional de Resgate (IRC). É o equivalente a um ventilador para cada três milhões de pessoas.

Burquina Fasso possui 11 ventiladores, Serra Leoa 13 e República Centro-Africana 3, enquanto a Venezuela possui 84 ​​leitos de UTI para uma população de 32 milhões, e 90% dos hospitais enfrentam escassez de medicamentos e suprimentos críticos, afirma a organização não-governamental.

"Já vimos como a pandemia sobrecarregou rapidamente os sistemas de saúde em países com infraestruturas relativamente avançadas", disse Elinor Raikes, vice-presidente e chefe de entrega de programas do IRC, em entrevista à CNN. "Já existe um motivo imediato de preocupação sobre como isso sobrecarregaria rapidamente os países com sistemas de saúde mais fracos."

Uma disputa mundial

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de uma em cada cinco pessoas que pegam o vírus precisam de cuidados hospitalares. Os países mais afetados pela pandemia estão tentando que adquirir equipamentos de ventilação pulmonar, que auxiliam ou substituem a respiração de pacientes críticos, bombeando oxigênio para o sangue para manter os órgãos funcionando.

Os hospitais dos EUA podem precisar de até meio milhão de ventiladores adicionais durante a pandemia, segundo o Johns Hopkins Center for Health Security, e a demanda por eles aumentou nas unidades de terapia intensiva dos EUA à medida que os pacientes com coronavírus entram.

O Reino Unido, com mais de 110 mil infecções, busca 18 mil ventiladores, enquanto as máquinas retiradas de uma série de TV sobre medicina foram doadas ao seu maior hospital de campo, o NHS Nightingale.

A Itália, um dos países mais afetados da Europa, distribuiu mais de 2.700 ventiladores para as regiões impactadas até agora, enquanto a França afirmou que pretende produzir 10 mil respiradores adicionais e ter 10 mil leitos de UTI em funcionamento.

A Alemanha, que possui mais camas extras em unidades de terapia intensiva do que a Itália, enviou 50 ventiladores para a Espanha e 60 para o Reino Unido em abril.

"Os cuidados intensivos geralmente não oferecem tratamento [para Covid-19], oferecem apoio para que o corpo possa se recuperar de qualquer doença subjacente", afirmou a Dra. Alison Pittard, diretora da Faculdade de Cuidados Intensivos do Reino Unido.

Ela explicou que "precisamos de oxigênio para respirar. Se você não pode obter oxigênio em seu corpo em quantidades adequadas por qualquer motivo, você morre", acrescentou. Pittard disse que entre 15 e 20% das pessoas hospitalizadas com Covid-19 precisam de um ventilador, enquanto 70% dos pacientes que entram em terapia intensiva precisam de um.

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África

Uma região vigiada é a África, que registrou mais de 12 mil casos desde que o primeiro caso confirmado de coronavírus foi registrado no Egito em 14 de fevereiro, segundo a OMS.

Os especialistas relutam em prever que o vírus se instalará no África da mesma maneira que na Europa
Reprodução
Os especialistas relutam em prever que o vírus se instalará no África da mesma maneira que na Europa


Dr. Matshidiso Moeti, diretor regional para África da OMS, disse que o vírus "tem o potencial não apenas de causar milhares de mortes, mas também de causar devastação econômica e social".

Existem menos de 2 mil ventiladores funcionais em 41 países africanos, segundo a OMS, enquanto o número total de leitos de unidades de terapia intensiva disponíveis em 43 países no continente é inferior a 5 mil. São cerca de cinco camas a cada um milhão de pessoas, em comparação com 4 mil leitos a cada um milhão de pessoas na Europa, informou a OMS na semana passada.

Embora o vírus demore a chegar ao continente em comparação com outras partes do mundo, o número de infecções aumentou exponencialmente nas últimas semanas e continua a se espalhar, segundo a OMS.

Ainda assim, os especialistas relutam em prever que o vírus se instalará no continente da mesma maneira que na Europa.

Crise deve ter efeito multiplicador

Acima de tudo, os profissionais de saúde e os especialistas estão preocupados com o fato de o vírus atingir populações vulneráveis ​​que já lidam com necessidades complexas , não apenas na África, mas em zonas de conflito como Síria, Afeganistão e Iêmen, que relataram seu primeiro caso no início deste mês.

Kate White, gerente médica da Covid-19 para Médicos Sem Fronteiras (MSF),  afirmou estar  preocupada com a forma como a pandemia afetaria populações já vulneráveis, apontando especificamente para crises humanitárias no Iêmen, Venezuela e Bangladesh, onde mais de 850 mil refugiados rohingya vivem no lotado campo de Cox's Bazar.

"Estamos falando dessa crise, a Covid-19, superando as crises existentes . Esperamos ver essa crise ter um efeito multiplicador, esperamos vê-la realmente gerar mais crises, estamos esperando mais insegurança alimentar, mais deslocamento e, em alguns casos, mais conflito à medida que essa pandemia ocorre", acrescentou.




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