Após renúncia de Morales, Bolívia vive 'vácuo' de poder e clima de incerteza

Parlamento boliviano deve se reunir nesta segunda-feira (11) para formalizar a renúncia do presidente e discutir como será feita a sucessão provisória

Foto: Reprodução/Twitter
Saída de Morales deixa os bolivianos sem um chefe de Estado

Após a renúncia do presidente Evo Morales , a Bolívia amanheceu nesta segunda-feira (11) com um vácuo de poder e em uma situação de crescente incerteza.

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A Constituição Política da Bolívia estabelece que, "em caso de impedimento ou ausência definitiva" do chefe de Estado, a função será exercida pelo vice-presidente", Álvaro García, que também entregou o cargo. Os dois seguintes na linha sucessória seriam os mandatários do Senado, Adriana Salvatierra, e da Câmara, Victor Borda, porém ambos se juntaram a Morales e renunciaram a seus postos.

O Parlamento deve se reunir nesta segunda-feira (11) para formalizar a renúncia do presidente do país e discutir a sucessão provisória. O Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Morales , detém cerca de dois terços da assembleia.

"Em último caso, serão convocadas novas eleições no prazo máximo de 90 dias", diz a Constituição boliviana . Não se sabe, no entanto, quem conduzirá esse processo, uma vez que o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) é acusado de fraude no pleito presidencial de 20 de outubro, que, após uma apuração conturbada, havia determinado a vitória de Morales em primeiro turno sobre o opositor Carlos Mesa .

A polícia prendeu a ex-presidente do TSE María Eugenia Choque e seu ex-vice Antonio Costa , que foram apresentados em uma coletiva de imprensa algemados e aos empurrões.

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Crise

Morales renunciou após ter sido pressionado publicamente pelo comando das Forças Armadas e da Polícia e até por sindicatos próximos ao governo. Horas antes, ele havia convocado uma nova eleição presidencial por conta das irregularidades na apuração detectadas pela Organização dos Estados Americanos ( OEA ).

A vitória de Morales em primeiro turno deflagrou uma onda de protestos em algumas das principais cidades da Bolívia, encabeçados por Mesa e pelo fundamentalista católico Fernando Camacho. "Não quero mais ver famílias maltratadas por ordem de Mesa e Camacho", disse Morales em seu discurso de renúncia. "Ser indígena e de esquerda anti-imperialista é nosso pecado", acrescentou.

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Enquanto isso, militantes do MAS e a oposição trocam acusações de repressão, saques e outros atos de violência. Camacho, por sua vez, prometeu processar o presidente, seu vice e os ministros do governo.

"Todos eles tomaram parte na morte de nosso povo. Não é ódio nem ressentimento, se chama justiça divina", disse o opositor na noite deste domingo (10). Cerca de 20 integrantes dos poderes Executivo e Legislativo dormiram na embaixada do México em La Paz, que também pode oferecer asilo político a Morales.

"Mesa e Camacho, discriminadores e conspiradores, entrarão para a história como racistas e golpistas. Que assumam sua responsabilidade de pacificar o país e garantam a estabilidade política e a convivência pacífica de nosso povo", atacou Morales em uma mensagem publicada no Twitter nesta segunda.

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Reações

Em meio à crise na Bolívia, o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse estar "profundamente preocupado" e pediu "máxima moderação" para as partes envolvidas.

Em um comunicado, o português acrescentou que todos devem se empenhar para "garantir eleições transparentes". Já a Rússia chamou o processo que levou à renúncia de Morales de "golpe de Estado".

"Estamos profundamente preocupados com o fato de que a disponibilidade do governo em buscar soluções construtivas por meio do diálogo tenha sido superada por um modelo de golpe de Estado organizado", afirmou o Ministério das Relações Exteriores de Moscou.

A União Europeia, por sua vez, pediu "moderação e responsabilidade" e que as partes envolvidas "conduzam o país a eleições de modo pacífico".

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