“Diga-me com quem andas e direi quem és”: esse velho provérbio cai bem em Jair Bolsonaro. Nos últimos dias e, sobretudo, no malfadado discurso na ONU, o presidente deixou claro quem são seus amigos no exterior. Falou abertamente que tem o coração voltado para Donald Trump. Chegou a soltar um “I love you” ao presidente americano. Confessou no discurso subserviente que a prioridade em sua política internacional é privilegiar as relações comerciais com os EUA. Em oito meses de governo, já visitou os EUA duas vezes e deseja colocar na embaixada de Washington seu filho Eduardo.
Com esse gesto, mais uma vez esnobou a China, o maior parceiro comercial brasileiro — os EUA são o segundo. Ou seja, escolheu um lado na disputa travada entre EUA e China pela liderança do mercado internacional. Para o bem de nossa balança comercial, o Brasil não deveria ter escolhido um lado.
No discurso na ONU, Bolsonaro revelou outro parceiro estimado: Benjamin “Bibi” Netanyahu, primeiro-ministro de Israel. Chegou a agradecer a ele pela ajuda na catástrofe de Brumadinho. Netanyahu só mandou meia dúzia de homens que ficaram em Minas pouco menos de uma semana.
Os amigos de Bolsonaro — Trump, Netanyahu e Macri — estão na pior, arrastando nossa política externa para o buraco
O presidente manifestou sua paixão por Israel publicamente na visita que fez ao país no começo de seu governo. Na campanha, Bolsonaro prometeu mudar a embaixada brasileira para Jerusalém, como Netanyahu queria, o que desagradou governos muçulmanos. O Egito chegou a cancelar a compra de carne brasileira e outros países árabes ameaçaram retaliar. A declaração obrigou a ministra Tereza Cristina a fazer uma turnê junto aos árabes para demovê-los.
Dentro da linha de equívocos, Bolsonaro foi à Argentina e deu apoio explícito à reeleição de Mauricio Macri. O problema é que o vizinho é nosso principal parceiro na América Latina e Macri deve perder a eleição para o peronista Alberto Fernandes. O presidente do Brasil não tinha que meter a mão nessa cumbuca. Se Fernandes ganhar, Bolsonaro perde mais um aliado.
Vale lembrar também que os três amigos estão enrascados. Trump enfrenta um processo de impeachment por ter solicitado que o governo ucraniano investigasse indevidamente o filho de Joe Biden, ex-vice de Obama e seu principal oponente à reeleição. Biden tem tudo para ganhar. Já Netanyahu não consegue formar um novo governo em Israel e pode ser afastado e até preso. Trump e Macri também podem ser condenados por malfeitos. Ou seja, os amigos de Bolsonaro estão na pior, arrastando nossa política internacional para o buraco.