O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo , disse a ministros de Rússia e China que o Brasil está disposto a agir em conjunto para encontrar uma solução para a crise naVenezuela . O apelo foi feito em um discurso na abertura no encontro com chanceleres do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) nesta sexta-feira, no Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro. Em resposta, no entanto, o chanceler russo, Sergey Lavrov , defendeu uma solução “sem interferência externa”.
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Na abertura do encontro, Araújo disse que os venezuelanos estão sendo assolados por miséria e sofrimento e fez um apelo aos demais países para que deem ouvidos ao que chamou de “grito de liberdade” do povo da Venezuela
contra o regime do presidente Nicolás Maduro. Segundo o chanceler brasileiro, o governo de Maduro se sustenta exclusivamente pela força, produzindo “miséria e sofrimento ao seu povo”.
"Não podemos deixar de ouvir um grito que pede liberdade que vem da Venezuela", afirmou. "O Brasil tem escutado esse grito e faço apelo para que todos os senhores também o escutem. O Brasil, como único membro sul-americano do Brics, está à disposição dos senhores para ouvi-los e se possível agir em conjunto [nesta questão]", explicou.
Lavrov , cujo país é aliado do governo venezuelano, criticou “uso de técnicas como chantagem e concorrência desleal, com intenção de solapar acordos internacionais” na crise econômica e política do país.
"Devemos utilizar a lei internacional como base para que os venezuelanos cheguem a uma solução pacífica e sustentável, sem interferência e dentro da Constituição", disse Lavrov.
Sem se referir diretamente à Venezuela, o chanceler chinês, Wang Yi, afirmou ter “compromisso com o diálogo e a negociação ”, e ser “contra o uso arbitrário da força". "Estamos comprometidos com esforços de mediação a nos opomos a busca por ganhos individualistas."
Araújo afirmou ainda que o Brasil, na presidência do bloco, vai focar na busca por resultados práticos e concretos e liderar bandeiras como o combate a crimes transnacionais, terrorismo e fluxos financeiros ilícitos.
"A presidência brasileira vêm dedicando atenção especial à segurança. Tenho certeza que uma Venezuela democrática vai atender os nossos ideias e interesses. Não é de acordo com nossos ideiais e interesses uma Venezuela sucumbindo à criminalidade, à fome e à miséria", disse.
Depois, em coletiva de imprensa, o chanceler brasileiro disse concordar que a solução deve partir dos venezuelanos e que o Brasil “não defende nenhum tipo de intervenção que não seja diplomática”.
"Concordamos com o fim da presença de regime de Maduro no poder e com a realização de eleições livres, tudo isso organizado pelos venezuelanos", afirmou a jornalistas. "A comunidade internacional está se dando conta da necessidade de resolver o problema logo, por meios pacíficos, evidentemente. Quantos mais países se deem conta da verdade na Venezuela, mais essa solução se tornará natural", concluiu.
Segundo o Itamaraty , a agenda temática do encontro do Brics é ampla e livre. Em 2019, o Brasil exerce a presidência de turno e nessa condição, é responsável por coordenar atividades, apresentar iniciativas de cooperação e organizar reuniões. Em novembro, acontece em Brasília uma cúpula do grupo, com presença confirmada de todos os chefes de Estado.
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Nas considerações iniciais, Araújo afirmou que o Brasil vê o Brics “focado em resultados concretos em ciência, tecnologia e inovação” e que, durante o encontro em novembro, será lançada uma rede de inovação dos Brics.
À tarde, Araújo tem encontros bilaterais com o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov; com o vice-ministro dos Transportes Rodoviários da Índia, General Vijay Kumar Singh; e com a chanceler da África do Sul, Naledi Pandor. O encontro resultará em comunicado conjunto, que será publicado após o final do encontro.