Teve início nesta terça-feira (21) o primeiro julgamento da ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner , num tribunal de Buenos Aires. Ela chegou rodeada por seus apoiadores, que formaram uma multidão ao seu redor e, segundo o jornal La Nación , bloquearam o acesso da imprensa à senadora e atual pré-candidata à Vice-Presidência para as eleições deste ano.
Horas antes, Cristina Kirchner havia sido publicamente defendida pelo seu companheiro de chapa Alberto Fernández — anunciado, numa decisão surpresa da semana passada, como pré-candidato à Presidência, enquanto Cristina concorrerá como vice. Segundo analistas, o julgamento poderá durar mais de um ano e seu impacto na campanha eleitoral deste ano será “limitado”.
Transmitido ao vivo, o julgamento teve início ao meio-dia, e só a leitura das acusações deverá demorar horas. Nos tribunais federais de Comodoro Py, uma forte operação de segurança foi instalada para recebê-la. A ex-presidente se senta no banco dos réus, perante o juiz e perto do ex-ministro do Planejamento Julio De Vido; do ex-secretário de Obras Públicas José López; e do primo do ex-presidente Néstor Kirchner (marido de Cristina), Carlos Kirchner. Todos são também julgados e estão acompanhados pelos seus advogados.
Está previsto que 160 testemunhas prestem depoimentos, enquanto as documentações do processo ocupam cerca de 150 caixas, de acordo com o jornal La Nación . As partes acusadoras do processo são o Ministério Público Federal, o Escritório Anticorrupção e a Unidade de Informação Financeira. As últimas duas são ligadas diretamente ao governo.
As acusações podem gerar pena de até 10 anos de prisão, caso Cristina seja considerada culpada de liderar um esquema de corrupção que fraudou o Estado em milhões de dólares. Na condição de senadora, porém, ela tem imunidade contra a prisão. E, se for condenada pela Justiça, Cristina como vice poderia ser indultada pelo presidente.
Fernández: 'É um absurdo'
Antes de embarcar num avião para Buenos Aires, Fernández condenou o processo que fará Cristina sentar no banco dos réus pela primeira vez. Trata-se do caso da Rota do dinheiro K, no qual a pré-candidata à Vice-Presidência é acusada de ter favorecido nos seus dois mandatos (entre 2007 e 2015) em concessões de obras públicas a empresa Austral Construções, de Lázaro Báez, sócio da família Kirchner, preso desde abril de 2016.
"Tenho certeza de que Cristina poderá demonstrar que a acusação é absolutamente falsa. É um absurdo que esteja envolvida neste caso. Ela está sentada ali por um fato alheio a ela", disse Fernández ao jornal Clarín .
Por sua vez, mais cedo Cristina usara o Twitter para novamente afirmar que é alvo de uma perseguição política pelo governo do seu sucessor, Mauricio Macri . Ela escreveu que o atual processo tenta criar uma "cortina de fumaça" para "distrair os argentinos e argentinas da dramática situação" do país.
"Trata-se de um novo ato de perseguição com um objetivo único: colocar uma ex-presidente opositora a este governo no banco dos réus em plena campanha presidencial", afirmou ainda.
De acordo com pesquisas recentes, quase 50% dos argentinos acham que Cristina Kirchner deveria ser presa. No entanto, as mesmas pesquisas mostram que as intenções de voto na ex-presidente chegam a quase 40%. Já o presidente Mauricio Macri, que pretende buscar a reeleição apesar do crescente clima de insatisfação social diante de uma das maiores crises da história do país, não chega a 30%.